Estádio da Baixada, em Porto Alegre. No Dia dos Pais de 1944, ele estava lá, atrás das redes de um dos gols, numa cadeira de palha. O Internacional fez 3 a 0, mas veio o segundo tempo e o Grêmio virou para 4 a 3.
Depois era o ano de 1946. Novamente Estádio da Baixada, em Porto Alegre. Lá estava estendida uma faixa branca, de pano, contendo a seguinte frase, em letras azuis:
"COM O GRÊMIO ONDE ESTIVER O GRÊMIO". O verso imortal tem autoria de
Salim Nigri, o simpático cidadão da fotografia acima, tirada (muitos) anos depois.
Em 1953, por ocasião das comemorações do cinqüentenário do Grêmio, a Lupicínio Rodrigues foi delegada a tarefa de compor o hino do clube. E ele eternizou aquele verso marcante, com uma inversão na ordem da sentença: "com o Grêmio, onde o Grêmio estiver".
Já nessa época distante (saudade dos tempos que não vivi), Salim Nigri tinha seus olhos atacados por uma doença incurável. Aos poucos, a enfermidade foi cegando Salim, até mergulhá-lo na cruel e abjeta escuridão. Desde então, a luz na vida de Salim foi o Grêmio.
Ele passou os dias e as noites ouvindo o rádio, sempre aumentando o volume quando o assunto era o Grêmio. Pensava vinte e quatro horas por dia no Grêmio, sempre queria saber sobre as divisões de base, adorava contar a história do clube amado.
Sempre que o tricolor gaúcho perdia uma partida, Salim recitava os versos de Acélio Daudt:
"O Grêmio é igual ao capim teimoso,
Se a geada mata no inverno,
Na primavera volta mais viçoso"
Como se vê, Salim sempre foi um otimista irremediável, como todo torcedor deveria ser. Além disso, levava a rivalidade na esportiva. Até mesmo quando o Internacional foi campeão da Libertadores, em 2006, ele conseguiu irritar os colorados:
- Então, o Inter é campeão da América?
- É...
- E antes do Inter, quem foi?
- O São Paulo.
- E antes do São Paulo?
- O Once Caldas.
- Ah, o Once Caldas foi campeão da América...
Outro episódio épico de Salim ocorreu em 1998, quando ele teve uma idéia inusitada. Convenceu uma professora de francês a traduzir o hino do Grêmio para a língua de Napoleão (antes, claro, certificou-se de que ela era gremista). Um pianista gravou a canção em K7, e Salim entregou a fita ao Paulo Sant'Ana, da Rádio Gaúcha. Quando o repórter disse no ar que havia encontrado em Paris um disco com o hino do Grêmio em francês, o apresentador da rádio duvidou. Então, ele pôs a gravação no ar: "Même à pied nous irooooons..." Em casa, Salim vibrou, dizendo para a mulher: "o Grêmio é mesmo um sucesso mundial!".
Cada clube possui vários símbolos: seu escudo, sua camisa, sua bandeira. O Grêmio possui também o eterno Salim.
Desde segunda, o coração de Salim não bate mais. Mas a sua alma continua, cumprindo o seu dever clubístico. Com o Grêmio onde estiver o Grêmio.
PC
Personagem eterno e indissociável da história do Grêmio, como Nelson Rodrigues para nós Tricolores.
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