(bravíssimo texto de meu amigo
Leandro Pontes, publicado originalmente ontem, no
Em Nome do Jogo)
Eu não te amo porque eu quero.
Eu te amo porque eu preciso.
Sabe, Ayrton, além deste sentimento por você, eu também sou um aficionado por filmes de faroeste. E no deserto moral que impera em nossa Pindorama, você foi e sempre será o maior dos cavalheiros. O gatilho mais rápido de toda a história da Fórmula 1.
Hoje, assim como você, também não estou mais morando no Brasil. E aqui na Europa só se fala de nossa leniência, de nossa vagarosidade para organizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas – estes megaeventos inventados por eles. Somos destratados, somos desastrados.
No entanto, foi em outro destes megaeventos criados por eles que você, o maior ídolo que o Brasil já teve, do melhor que o Brasil é capaz de produzir, perdeu a sua vida. Depois, disseram eles, que foi um desastre.
Sua dignidade era fora dos padrões e, certamente, você estaria agora engrossando o coro dos descontentes contra quem se curva ao tal de padrão FIFA, como se esta entidade tivesse algo a que devêssemos verdadeiramente nos referenciar. Ou contra a mentalidade retardatária que parece ser a sina da política brasileira.
Sempre quando penso que não tem jeito, procurando uma saída para qualquer sorte, eu penso em você. Você que ressignificou as corridas de Fórmula 1 – quando a primeira colocação deixou de ser a mais importante e o objetivo do jogo era te superar.
Alain Prost e Nigel Mansell nutriram obsessão por derrotá-lo. Mas, ao final de tudo, quando conseguiam, o lugar mais alto do pódio era sempre aquele aonde Ayrton Senna pisava.
Quem mais poderia se divertir com os rivais enquanto eles te odiavam? Os caras necessitavam de um inimigo. Você, apenas de um instrumento.
Mas, naquela época, a Fórmula 1 era uma megera domada por xerifões europeus, usando os pilotos como cobaias para testar o poder de seus motores. Quando chegou um forasteiro provando ser mais forte do que suas máquinas, eles se sentiram incomodados.
Porque nas regras ocultas deste esporte, vence o mais rico. Logo, as equipes que tinham grana, começaram a investir em qualquer tecnologia que fizesse com que – contraditoriamente – o mundial de pilotos voltasse a ser uma competição de carros.
Afinal, sem perigo, sem graça. Vidas em jogo.
Ayrton sentiu a cada corrida da temporada de 1994 que estava fora da cena. A Williams que ele tanto sonhara pilotar era completamente diferente daquela que nunca respondeu aos seus comandos.
Naquele triste primeiro de maio, lembro bem de sua feição nos boxes, à feição daqueles que sabem que o tempo está se esgotando. Era tão sagaz que foi o primeiro a receber a notícia da própria morte. E tão bravo que, mesmo assim, decidiu sair às ruas para enfrentá-la.
Para cargos de herói, não há um vice para assumir em casos como este. Acontece que os países agradam da ideia de ter uma personalidade para fazer e receber carinho. Desde então, os brasileiros se amarguram com ídolos derrapantes. Fenômenos em campos de futebol pelo mundo, verdadeiras “carmens mirandas” fora deles.
Eles são commodities. Ayrton é um sentimento.
Genuíno e genioso. Indomável, mas religioso.
Para a alegria da minha tristeza você zerou também o circuito da vida.
Embora eu não seja capaz de chorar a morte de uma pessoa passados vinte anos, lamento todos os dias a perda do mito.
Porque a nossa terra anda muito apastelada, Ayrton.
Este país está a cara do Ronaldo Nazário.
Marchando à ré.
Com saudades,
Leandro Pontes
Também li este texto, cada um tem a sua memória e o seu próprio jeito de expressar a saudade e o vazio que Senna deixou.
ResponderExcluirCustou-me muito, mas muito mesmo, escrever o post sobre Senna no meu blog, rever fotos e vídeos, enfim foi mesmo difícil, mas nós blogueiros e fãs temos obrigatoriamente de prestar tributo, senão não ficaríamos em paz com a nossa consciência, penso eu...
Eu nunca mais vi corridas de F1, nunca mais quis saber de F1 e muitos como eu também, porque na verdade, atualmente nós brasileiros não conseguimos enxergar a médio prazo, quem será o novo piloto brasileiro que vai brigar por títulos, que vai ser craque como Fittipaldi, Piquet e Senna...
Mas Fittipaldi e Piquet também foram tão bons como Senna, eu acompanhei a carreira dos 3 e até hoje, não consigo saber qual foi o melhor dos 3, palavra de honra.
Cada um tinha seu estilo, e juntos em 19 anos, entre 1972 e 1991, ganharam 8 títulos para o Brasil, quase metade...
Tenho a impressão que Emerson se tivesse continuado nas McLarens ou Brabhams, ou Williams, ao invés de tentar fazer uma equipe brasileira de F1, tinha ganho mais um ou dois campeonatos, o cara era genial.
Tenho fé no neto de Emerson Fittipaldi, Pietro, parece que é diferenciado e herdou o gênio do avô...
Vamos esperar...
Infelizmente, sou novo demais para ter acompanhado Fittipaldi e Piquet, nossos outros campeões. Do Piquet só vi o finalzinho.
ResponderExcluirE também não gosto de decretar que Fulano é o melhor de todos os tempos, principalmente sem ter visto de fato "todos os tempos".
Mas com Senna eu não consigo não fazer isso. O que vi esse homem fazer nas pistas, eu tenho certeza que nunca verei igual.
A fantástica primeira volta de Donington Park. As heroicas últimas voltas de Interlagos. O novato que humilhou o "professor" tirando 3 segundos por volta na chuva em Mônaco, com um carro inferior (essa eu só vi em VT, e mesmo assim é arrepiante).
Talvez haja um pouco de fantasia na minha idolatria ao Senna. Eu era um menino de 6, 7, 8, 9 anos quando vivi suas glórias, em um país carente de ídolos. Talvez haja um pouco de delírio infantil.
Admiro muito as histórias de Fittipaldi e Piquet, para mim dois mitos do esporte mundial. Mas, pra mim, Senna é insuperável.
Que saudade daqueles domingos...
PC, sempre ouvi uma história genial de Fittipaldi, em que ele em determinada corrida andou o tempo todo atrás do mito tricampeão Jackie Stewart, seu grande rival nos 70's, mesmo tendo o carro mais veloz na pista, e podendo ultrapassar a hora quisesse e vencer a corrida, mas não o fêz, terminou em 2º.
ResponderExcluirStewart anos mais tarde perguntou-lhe por que Emerson não o tinha ultrapassado já no meio da corrida e vencido.
Emerson, com o cavalheirismo que lhe é peculiar, respondeu:"Já que não tinha nada a ganhar, a não ser a corrida, preferi ficar atrás e observar como voce dirige, entra nas curvas, sai das curvas, enfim passei a corrida estudando meu ilustre adversário, e de ângulo privilegiado":-)
Piquet era o mestre da tática e de acertar motores.Quando ganhou o 2º ou 3º título, já não me lembro, a tática para o título foi largar de tanque vazio, com o carro mais leve, enquanto os outros todos largaram de tanque cheio.
Ganhou uma vantagem de 30 ou mais segundos nas primeiras, 10, 15 voltas, e geriu o resto da corrida com mais 2 idas aos boxes para reabastecer.Simplesmente genial, o carro de Piquet parecia com turbo ligado e os outros simples fusquinhas, tal foi a facilidade com que Piquet distanciava-se dos outros, mas foi apenas tática de largar de tanque vazio.Brilhante...
E não se esqueça que, assim como Piquet e Senna não se davam, havia divisões na torcida brasileira, entre os sennistas e os piquetistas.Eu torcia por quem?Pelo Brasil:-)
Tive sorte de ver os 3 campeões brasileiros de F1, e tenho sérias dúvidas de quem seria o campeão num campeonato disputado somente pelos 3 com carros exatamente iguais em 10 ou 15 corridas, e ainda bem que é assim, ficaremos sempre na dúvida:-)
Já no futebol, não há dúvidas:é Pelé:-)