A um mês das eleições, os debates, as entrevistas e as sabatinas dos candidatos aos cargos do Executivo e do Legislativo estão aí, um atrás do outro, inundando as televisões, as rádios, os jornais e a internet. Somos bombardeados diariamente, de todos os lados. Tudo bem, tudo certo, exceto por um "detalhe": não estão sendo discutidos os grandes problemas do país.
Em todos os canais, só se fala em casamento homossexual, legalização do aborto, legalização da maconha, crenças religiosas dos candidatos, e outras tantas picuinhas tão irrelevantes quanto estas. Vou exemplificar - vejam esta pérola extraída do debate da TV Bandeirantes, captada por uma mente sagaz do Estadão:
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Reprodução do Twitter do Estadão. |
Reparem: a pergunta já era sobre um tema absolutamente pontual e irrelevante (o ensino do criacionismo, uma crença religiosa sobre o surgimento da vida na Terra). A candidata Luciana Genro, do PSOL, responde que é "um absurdo", e troca o assunto para outro tema absolutamente pontual e irrelevante: "o problema da maconha" (tenho que dizer: para a referida candidata, os problemas do Brasil parecem se resumir à legalização da maconha).
Enquanto isso, dezenas de milhões de brasileiros não têm saneamento básico em casa. Eis um problema gravíssimo, que simplesmente não foi atacado, pelo menos nos últimos, sei lá, vinte anos. Eis um problema que dificulta enormemente a vida de uma parcela considerável da população, e que simplesmente não é discutido nos debates, nas entrevistas e nas sabatinas. Quando a pergunta aparece, o candidato se sai com um genérico "vamos investir bilhões para resolver", e o assunto morre ali, de estalo. Nenhuma discussão aprofundada, nenhuma.
A mesma coisa com relação à saúde pública. Dezenas de milhões de brasileiros sem plano particular de saúde sofrem com filas intermináveis e atendimentos precários, e o problema não é discutido. Quando o tema aparece, a candidata à reeleição Dilma Rousseff simplesmente glorifica o seu "programa mais médicos" (acho que é isso), que teria atendido 40 ou 50 milhões de brasileiros (um número tão mágico quanto mentiroso, que dá a impressão de que o problema está resolvido). Os outros candidatos criticam com razão a situação precária do país nesse aspecto, mas não passam nem perto de apresentar soluções viáveis.
E a Educação? Esta que é, sem sombra de dúvidas, o grande problema da nação, a estrela em torno da qual todos os debates deveriam gravitar? Eu simplesmente não escuto a palavra Educação nas sabatinas. Às vezes me pego pensando: será que vivo na Finlândia ou na Noruega? Insisto: em qualquer debate sobre o futuro do Brasil - qualquer um, até mesmo uma mera discussão em uma mesa de boteco - o tema da Educação deveria ser obrigatório.
Continuaremos ignorando, por mais quatro anos, o maior problema do país? Quatro anos são muito tempo. Trata-se de mais uma geração de crianças brasileiras perdidas, sendo educadas como se tivessem nascido na Nicarágua, no Gabão, no Zimbábue ou na Etiópia. Enquanto deveríamos estar debatendo uma revolução na Educação, para que daqui a quinze ou vinte anos estivéssemos com resultados satisfatórios nesse campo, o tema sequer é abordado.
Políticos, jornalistas e cidadãos, vamos mudar o foco das discussões? Vamos tentar escapar destes debates irrelevantes? Vamos esquecer essas bobas armadilhas que só servem para caricaturar os candidatos? Vamos sair desta bolha que só serve para esconder o despreparo dos candidatos que temos e para produzir manchetes-escândalo?
Vamos dizer não ao blá-blá-blá? Falemos de Educação, de saneamento básico, de saúde, de transporte, de economia. Estou sinceramente cansado desses debates retardados, toscos e primitivos. Assistindo a eles, um alienígena que pousasse no Brasil e entendesse português escreveria em seu caderninho: "o maior problema do Brasil é o casamento de homossexuais" (que, aliás, já existe na nossa Lei, com os mesmos direitos do casamento de heterossexuais), ou então: "os problemas do Brasil se resolverão com a legalização das drogas" ("solução" que, diga-se, jamais foi adotada por nenhuma nação do tamanho do Brasil).
É isso. Vamos mudar o foco das discussões?
PCFilho
O foco demasiado em união homossexual da entrevista do Jornal da Globo com Marina Silva me faz crer que o conglomerado dos Marinho está bastante preocupado com uma possível vitória da candidata.
ResponderExcluirA Globo, como o PT, só quer saber de se dar bem. Ambos não parecem dar a mínima para as verdadeiras prioridades desse país.
Educação, saúde, diminuição da carga tributária,estes esquecidos...
ResponderExcluirDou aula em sala de aula que as vezes nem porta tem...
ResponderExcluirSem dúvida o Brasil não tem a capacidade de dar prioridade ao que realmente é prioritário e urgente...e essa incapacidade também passa pela falta ou melhora da Educação.
Um abraço fraterno em todos
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ResponderExcluirBom post!
ResponderExcluirRealmente irritante o nível raso das discussões e debates.
Os candidatos e as TVs subestimam incrivelmente a inteligência de muitos....mas infelizmente é o nível que satisfaz a muitos outros.
Obrigado a todos pelos comentários.
ResponderExcluirUma pena que meu texto seja apenas um berro que não será ouvido por quem deveria...