 |
| Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC. |
Amigos, a história se escreve em três cores. Daqui a dois séculos, os nossos livros, os nossos dicionários, as nossas enciclopédias e os nossos almanaques ainda dedicarão páginas à gloriosa tarde em que o Fluminense derrotou os vice-campeões europeus, na charmosa Carolina do Norte.
A Internazionale de Milão, este colosso italiano, era a favorita dos jornalistas e dos analistas, dos matemáticos e das tarólogas, até dos computadores. E eu entendo – afinal, é um time mais rico, é uma seleção mundial que faz jus ao nome do clube. Compram craques globais aos montes, da mesma forma que nós quando vamos à feira comprar tomates e abacates.
Porém, do outro lado da cancha, estava o Fluminense, com um passarinho em cada ombro, calçando nos pés as duras e feias sandálias da humildade, mas envergando A Camisa mais pesada do mundo, disposto a novamente desafiar o impossível, apoiado por milhares nas arquibancadas e por milhões nas ruas.
E que coisa maravilhosa é a multidão tricolor, esta família em que todos são bem-vindos. Seja no estádio Bank of America, seja na sede histórica em Laranjeiras, seja na praia de Copacabana, seja em cada bar e restaurante com uma TV ligada, multiplicam-se os abraços entre velhos conhecidos e novos colegas de arquibancada, os sorrisos que constroem amizades, as tempestades de bandeiras e de pó-de-arroz.
Dentro das quatro linhas, no campo físico do jogo, estavam os leões de Renato Gaúcho, que compram a ideia e se transformam nos nossos legítimos representantes. Amigos, o onze tricolor lutou por cada bola, do primeiro minuto ao apito final em Charlotte. Estavam dispostos a deixar tudo no gramado, pela vitória. Todo o sangue, todo o suor, todas as lágrimas.
O gol de Germán Cano, que abriu o placar, era um acontecimento cósmico inevitável, em seu jogo número 200 com A Camisa. Quando aquela bola sobrou na pequena área, houve um suspense total, em que até o movimento de translação da Terra cessou. Só existiam no universo Germán Cano, a bola e o gol. Naquela fração de segundo, ele encontrou o céu. O artilheiro quer o mundo.
Já o tento de Hércules, que decretou a vitória tricolor nos minutos finais, foi a coroação da atuação irretocável do time e da torcida, foi o gol do alívio, foi o presente dado a quem merecia. E nós fizemos por merecer aquela catarse, aquela apoteose do menino com nome de semideus.
Falando em mitologias, na arena metafísica também estivemos imbatíveis, sob a benção de João de Deus. Como não enxergar o Gravatinha ou a Leiteria de Castilho naquelas duas bolas que a Internazionale chutou na trave, no segundo tempo? Como não sentir a presença e a influência daqueles que supostamente não estão mais aqui? Talvez mais do que nunca, os fantasmas de nossas velhas vitórias vieram nos ajudar. Eu brindo nosso triunfo épico também a eles, de Armando Giesta a Maurício Lima, de Marco Aquino a meu tio João, a Marcos Carneiro de Mendonça, a Carlos Alberto Torres, a Ézio, a Oscar Cox.
Lógico, já apareceram os idiotas da objetividade, os lorpas e os pascácios apontando que os europeus não estão levando a Copa do Mundo a sério, que a Internazionale também não é isso tudo, que estão em crise, etcetera e tal. Para eles, a vitória do Fluminense foi um mero acidente, uma conjunção de fatores aleatórios, uma simples obra do acaso.
Mas continuamos sonhando. Repito o que venho dizendo: amigos, A Camisa já mostrou que, quando devidamente encharcada de suor, pode tudo – pode até mesmo, quem sabe, levantar esta Copa do Mundo aos céus de Nova Jersey, no dia 13.
Estamos nas quartas de final, junto com outros escudos pesados, junto com times patrocinados por fortunas incalculáveis. Todos eles têm mais dinheiro que nós, mas nós temos A Camisa, só nós temos A Camisa. A história, repito, se escreve em três cores.
Enquanto contempla as faixas de velhos triunfos penduradas nas paredes de sua caverna, o Profeta coça sua longa barba branca e sorri. Ainda ecoa o vaticínio repetido em sua voz rouca: "Fluminense campeão, Fluminense campeão!".
PCFilho
Faltam 3… 🙏
ResponderExcluir