"Em futebol, o pior cego é aquele que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakesperiana. Às vezes, num córner bem ou mal batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural."
Três frases de Nelson Rodrigues, o maior poeta do futebol em todos os tempos.
Alguns contemporâneos garantem que Nelson não enxergava direito os jogos, por causa de seus problemas de vista. No entanto, suas crônicas sobre as partidas eram as mais aguardadas, as mais lidas, as mais respeitadas.
E não era à toa: em 1957, quando Pelé era um menino de 16 anos, e a Seleção nem havia conquistado sua primeira Copa do Mundo, Nelson o chamou de Rei. Foi o primeiro a constatar a realeza do melhor jogador que o futebol já viu. Antes de todos, percebeu que Pelé seria Pelé.
Nelson era torcedor fanático do Fluminense. Os onze tricolores em campo, fossem quem fossem, não eram meros atletas: eram nobres divindades. Marcos de Mendonça era o herói maior de sua infância. Didi era um elegante príncipe etíope de rancho. Denilson era o Rei Zulu. Waldo era, em Niterói, na Patagônia ou na Groenlândia, o Monstro do Gol. A torcida tricolor levava "um imperecível estandarte de paixão".
"Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. Podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos!"
"O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade. Tudo pode passar, só o Tricolor não passará jamais."
Hoje, a regra entre os cronistas esportivos é ocultar seu time. Ficam se escondendo atrás de uma suposta imparcialidade. Por que tanta hipocrisia, se Nelson, pó-de-arroz confesso, e parcialíssimo, foi o maior de todos eles?
Para desespero dos outros clubes, o Fluminense teve - tem - Nelson Rodrigues, a eternizar as glórias tricolores em poemas imortais. Existe troféu maior que isto?
Há exatos trinta anos, Nelson deixava esta vida. O lado ruim é constatar que se passaram três décadas, e não surgiu outro igual, sequer parecido.
O bom é perceber que, clarividente, Nelson escrevia também sobre o futuro: "Há uma relação sutil, mas indiscutível, entre a barriga e o êxito."
Qual tricolor ou rubro-negro lê isto sem se lembrar da final de 1995, do gol de barriga de Renato, que deu o título ao Fluminense?
"A morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos."
Alguém duvida que, quando o Fluminense está campo, Nelson está na arquibancada, até os dias de hoje? Ele está lá, junto de todos nós, cantando os nomes dos nossos, vaiando os nomes dos outros, e quem sabe até xingando o juiz.
Saudações Tricolores!
PC
E ai PC, blz.
ResponderExcluirNelson Rodriguês, para eu, não tinha clube. Sei que era tricolor declarado, mas com quanta paixão escrevia, mesmo de outros clubes, os detalhes, o amor, a raiva e vibração, o sentimento pulsante....
Se um desavisado qualquer lê-se uma crônica, da muitas que fizera para o Flamengo, não teria duvidas que o autor era rubro negro fanático, assim também para Vasco, Botafogo, América....
Nelson Rodriguês esta acima dessas pendengas clubisticas.... pena que nada dure para sempre...
Aproveito meu amigo para lhe desejar um FELIZ NATAL E GRANDE 2011, e claro, muito sucesso.
Um abraço.
BLOG DO CLEBER SOARES
www.clebersoares.blogspot.com
Bela homenagem ao inspirador do blog e da torcida do Flu!
ResponderExcluirNão bastasse ser um dos maiores dramaturgos em língua portuguesa de todos os tempos, Nelson foi, é e será o maior cronista esportivo em língua portuguesa de todos os tempos (e falo língua portuguesa porque não li outros cronistas além língua, mas duvido que o superem).
ResponderExcluirEm vida, Nelson já era um troféu nosso, eterno. Pós-vida, flana tranquilamente pelas arquibancadas e testemunha feitos inigualáveis como este apaixonante TRIcampeonato que acabamos de faturar.
Parabéns pelo post.
Brax!