sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Recordar é viver - Combinado Fla-Flu x Seleção Brasileira

Foto: Aníbal Philot/Agência O Globo.

Desde 7 de julho de 1912, quando os dissidentes tricolores vestiram rubro-negro pela primeira vez e perderam para seu ex-clube por 3 a 2, Fluminense e Flamengo quebram lanças em épicas batalhas nos gramados do Brasil e do mundo. O Fla-Flu é o Clássico das Multidões, o único jogo entre clubes de futebol que já levou 200 mil pessoas a um estádio. E o fez duas vezes (em 1963 e em 1969).

O ferrenho duelo entre Laranjeiras e Gávea já contabiliza quase quatrocentas partidas ao longo destes cento e poucos anos de Fla-Flu. A maior parte destes jogos, claro, teve como palco o mítico Estádio do Maracanã. E foi no Mario Filho que, na tarde dominical de 30 de janeiro de 1977, Flamengo e Fluminense deixaram a rivalidade de lado e jogaram juntos por noventa minutos. Naquele dia, o combinado Fla-Flu encarou a Seleção Brasileira, que se preparava para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1978.

A Seleção Brasileira havia vencido os dois amistosos anteriores, no Morumbi. No domingo, 1 a 0 sobre a Bulgária, gol de Roberto Dinamite. Na terça-feira, 2 a 0 sobre a Seleção Paulista, gols de Gil (jogador do Fluminense) e Palhinha. Será que o combinado Fla-Flu, desfalcado dos tricolores e rubro-negros convocados para a Seleção, seria páreo para o escrete canarinho?

Aquele confronto não foi um mero amistoso. Frente a frente, estavam dois timaços, recheados de craques. O combinado Fla-Flu era uma mistura da espetacular Máquina Tricolor com o jovem e promissor time rubro-negro. Os jogadores do Fla-Flu estavam magoados por não terem sido convocados por Osvaldo Brandão, e desejavam provar que tinham condições de fazer parte da Seleção Brasileira.

O Maracanã recebeu bom público: 64.084 pagantes, a maioria dos quais preferiu apoiar o combinado Fla-Flu. E como a Seleção não conseguia apresentar bom futebol, pobre tanto coletiva quanto individualmente, foi alvo de sonoras vaias. O combinado jogava melhor que o escrete e dominava as ações do prélio. A Seleção sentia falta do jovem rubro-negro Zico, e principalmente de seu craque, o tricolor Rivellino, que se recuperavam de lesões e não puderam jogar.

Mesmo cumprindo uma atuação nada convincente, a Seleção acabou abrindo o placar, em um lance isolado, com uma contribuição do goleiro Cantarele, aos sete minutos do segundo tempo. Roberto Dinamite cobrou falta com violência, o arqueiro rubro-negro rebateu para o meio, e Palhinha aproveitou o rebote para inaugurar o marcador. Um a zero para o escrete.

O combinado Fla-Flu melhorou com a entrada do tricolor Erivelto no lugar do rubro-negro Luizinho, já que o primeiro estava mais entrosado com os também tricolores Kléber, Carlos Alberto Pintinho e Paulo Cezar Caju. Entretanto, só conseguiu empatar aos 39, com Carlos Alberto Pintinho aproveitando cruzamento do lateral rubro-negro Júnior. O placar igual, no entanto, não fez justiça ao domínio exercido na partida pelo combinado. É bem verdade que os jogadores do Fla-Flu, ressentidos por terem sido preteridos, estavam menos preocupados em fazer gols e mais interessados em se exibir para os espectadores e extravasar a mágoa por não terem sido convocados. Talvez por isso, não tenham conseguido a vitória: o ódio atrapalha o bom futebol.

Seis  jogadores daquele combinado Fla-Flu seriam convocados para a Seleção Brasileira nos meses seguintes: Carlos Alberto Torres, Carlos Alberto Pintinho, Paulo Cezar Caju, Toninho, Rodrigues Neto e Dirceu.

No dia seguinte ao empate com o combinado Fla-Flu, a Seleção voou para Bogotá, onde disputaria um amistoso (contra o Millonarios, vitória por 2 a 0) e o primeiro jogo das eliminatórias (contra a Colômbia, empate em 0 a 0). Pressionado pelas críticas generalizadas, apesar do bom retrospecto, Osvaldo Brandão seria substituído no comando técnico por Cláudio Coutinho (então técnico do Flamengo). Na estreia do novo treinador, o escrete, com mais alguns convocados da dupla Fla-Flu, massacrou o combinado Vasco-Botafogo por 6 a 1. Depois, venceu a Colômbia por 6 a 0, o Paraguai por 1 a 0, e seguiu em seu caminho rumo à Copa do Mundo de 1978.

No Mundial da Argentina, Cláudio Coutinho foi o treinador da Seleção Brasileira, com Mário Travaglini de supervisor técnico - exatamente a dupla que comandou o combinado Fla-Flu naquela tarde de domingo. O escrete terminou aquela Copa do Mundo invicto, mas em terceiro lugar, eliminado pela estranha goleada dos anfitriões sobre o Peru.

PCFilho

Paulo Cezar Caju tenta driblar Zé Maria.
Foto: Jornal do Brasil.

Ficha Técnica
30/01/1977 - Combinado Fla-Flu 1 x 1 Seleção Brasileira - Maracanã (Rio de Janeiro)
Público: 64.084 pagantes.
Renda: Cr$ 1.833.355,00.
Árbitro: José Roberto Wright.
Auxiliares: Valquir Pimentel e José Marçal Filho.
Combinado Fla-Flu: Cantarele; Toninho (Júnior), Rondinelli (Jayme), Carlos Alberto Torres e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Kléber e Paulo Cezar Caju; Paulinho, Luizinho (Erivelto) e Dirceu (Luiz Paulo). Técnicos: Mário Travaglini e Cláudio Coutinho.
Seleção Brasileira: Leão; Zé Maria, Amaral, Beto Fuscão (Edinho) e Marinho Chagas; Caçapava, Givanildo e Nilson Dias (Palhinha, depois Paulo Isidoro); Gil (Valdomiro), Roberto Dinamite e Lula. Técnico: Osvaldo Brandão.
Gols: Palhinha, aos 7' do 2º tempo; Carlos Alberto Pintinho aos 39' do 2º tempo.

Fontes:
- Enciclopédia da Seleção (Ivan Soter).
- Jornal do Brasil.
- Lancenet.
- Jornalheiros (História - Brasil em Copas do Mundo).

5 comentários:

  1. Eu estava lá!

    O que Paulo César Caju jogou neste dia, era caso para ser preso por desacato!

    Ele chamava o lateral Zé Maria (excelente pessoa e excelente marcador) para a bandeirinha de escanteio e ficava driblando ele em um espaço minúsculo.

    Não só por isso, deu um show de habilidade que poucas vezes vi em um gramado, marca do time que ficou conhecido como Máquina Tricolor (de 1975/76, já que em 1970 o Flu já era chamado de Máquina por sua torcida).

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  2. Alexandre,

    Imaginei que você estivesse lá nesse dia. Segundo os relatos dos jornais que li, foi mesmo um show de meu xará!

    Osvaldo Brandão deve ter se arrependido amargamente de não tê-lo convocado. rsrs.

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  3. Eu estava no Maracanã nesse dia. Tinha 12 anos e me lembro de nunca ter visto ninguém jogar bola igual ao Paulo César naquele jogo.

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    Respostas
    1. Faço uma ideia do quanto esse cara jogou!!

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    2. eu também estava lá, tinha 11 anos perto de fazer 12,sou de Manaus estba de férias no Rj, não conseguir prestar detalhes no jogo, nunca tinha entrado num estádio tão grande e a ver uma torcida cantando, confesso fiquei abobalhado contemplando tudo isso parwcia qeu estava num sonho tão encantado fiquem

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