sexta-feira, 22 de julho de 2016

Medalhas recusadas na história dos Jogos Olímpicos


Conquistar uma medalha olímpica é o sonho de qualquer atleta, em qualquer modalidade. Entretanto, nem sempre os agraciados com a maior honraria do esporte a aceitam. Abaixo, estão listados alguns casos curiosos de medalhas recusadas na história dos Jogos Olímpicos, por solidariedade a outros atletas desclassificados, ou por protestos contra decisões controversas de arbitragem.

I)  John Taylor (Estados Unidos) e William Robbins (Estados Unidos), Jogos Olímpicos de Londres, 1908.
Na final dos 400 metros nos Jogos Olímpicos de Londres, disputada no White City Stadium, no dia 23/07/1908, quatro atletas competiram pelas três medalhas. O norte-americano John Condict Carpenter saiu vencedor, à frente dos compatriotas John Taylor e William Robbins e do britânico Wyndham Halswelle. No entanto, Carpenter foi desclassificado por ter obstruído Halswelle, numa manobra que era permitida pelas regras dos Estados Unidos, mas proibida pelas regras britânicas, que eram as válidas naquelas Olimpíadas. Assim, foi ordenada uma nova corrida, dois dias depois, sem a presença de Carpenter, para definir os medalhistas. No entanto, em solidariedade ao compatriota eliminado, John Taylor e William Robbins se recusaram a correr, protestando contra a decisão da organização. De forma melancólica, Halswelle correu sozinho e ficou com a medalha de ouro, no único W. O. já registrado na história dos Jogos Olímpicos. As medalhas de prata e bronze não foram concedidas a nenhum atleta: Taylor e Robbins ficaram mesmo sem premiação.

II) Hugo Wieslander (Suécia) e Ferdinand Reinhardt Bie (Noruega), Jogos Olímpicos de Estocolmo, 1912.

Jim Thorpe (fotos: Getty Images).

Nas Olimpíadas de 1912, em Estocolmo, capital da Suécia, o norte-americano Jim Thorpe (nas fotos acima) teve uma performance excepcional, conquistando as medalhas de ouro no Pentatlo e no Decatlo. Porém, menos de um ano depois, um jornalista descobriu e denunciou que ele havia jogado beisebol num pequeno time profissional em 1909 e 1910, e portanto não poderia ter disputado os Jogos Olímpicos, que eram exclusivos para atletas amadores. Jim Thorpe admitiu que violou a regra, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) solicitou que ele devolvesse as medalhas.

Após tirar o nome de Jim Thorpe do registro oficial dos campeões olímpicos, o COI reconheceu o sueco Hugo Wieslander, segundo lugar no Decatlo, e o norueguês Ferdinand Reinhardt Bie, segundo lugar no Pentatlo, como os legítimos vencedores das competições. Entretanto, numa belíssima demonstração de honra, ambos se recusaram a aceitar as medalhas de ouro, que, para eles, deveriam continuar com Jim Thorpe, o verdadeiro campeão.

Posteriormente, Hugo Wieslander foi convencido a aceitar sua medalha de ouro, apesar de manifestar notório desconforto com a situação. Em 1951, ele doou a medalha ao museu do Gymnastik-och Idrottshögskolan, de onde ela foi roubada três anos depois, jamais tendo sido recuperada. Em 1982, o COI decidiu restituir as medalhas de ouro de Jim Thorpe, trinta anos após a sua morte. Os filhos de Jim Thorpe receberam as medalhas, mas o COI continua reconhecendo Ferdinand Reinhardt Bie e Hugo Wieslander como co-vencedores das suas respectivas competições.

III) Time de Basquete Masculino dos Estados Unidos, Jogos Olímpicos de Munique, 1972.

A polêmica cesta da vitória da União Soviética (foto: FIBA).

Nos Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique, na Alemanha Ocidental, a final do Basquete Masculino foi disputada entre as equipes dos Estados Unidos e da União Soviética, no auge da chamada Guerra Fria, que criou um clima de rivalidade sem precedentes entre os atletas das duas nações. O time da União Soviética era mais experiente, e se manteve à frente do placar durante a maior parte do jogo. Com menos de 10 minutos restando, os Estados Unidos (que levaram uma equipe universitária) perdiam por uma diferença de 10 pontos. No entanto, em uma reação incrível, conseguiram encostar no placar, e viraram para 50 a 49, a três segundos do fim, graças a dois lances livres convertidos por Doug Collins. Os três segundos a seguir seriam os mais longos da história do esporte.

Como as regras proibiam os times de pedirem tempo após um lance livre, os soviéticos recomeçaram o jogo a seguir, mas o técnico exigiu da arbitragem um tempo, e o árbitro búlgaro Artenik Arabadjan parou o cronômetro com 1 segundo faltando, para analisar o pedido. O árbitro negou o pedido e autorizou o reinício do jogo pelo time soviético, com 1 segundo no cronômetro. Quando o cronômetro estourou, os norte-americanos começaram a festejar. Entretanto, o dirigente R. William Jones, secretário-geral da Federação Internacional de Basquete Amador, abordou a mesa dos árbitros e ordenou que o cronômetro voltasse para os 3 segundos, em vez do 1 segundo que fora concedido após a parada.

Os árbitros concordaram, e o time soviético reiniciou a jogada final pela terceira vez. Após receber um passe que atravessou toda a quadra, Aleksandr Belov converteu uma cesta de dois pontos logo antes do estouro do cronômetro, revirando o placar para 51 a 50, e dando a medalha de ouro para a União Soviética. Os Estados Unidos, naturalmente, protestaram contra a controversa decisão dos árbitros, mas tiveram suas reclamações ignoradas. Então, o time norte-americano decidiu boicotar a cerimônia de premiação, e os atletas não foram ao pódio para receber suas medalhas de prata.

Desde então, os 12 atletas do time de Basquete dos Estados Unidos já foram convidados diversas vezes a aceitar suas medalhas, mas recusaram sempre - as medalhas permanecem até hoje trancadas em um cofre em Lausanne, na Suíça. O capitão Kenny Davis e o companheiro Tom Henderson têm até um parágrafo em seus testamentos, proibindo para sempre os seus descendentes de aceitarem uma medalha de prata dos Jogos Olímpicos de 1972. Aqueles três segundos durarão mesmo uma eternidade...

IV) Ibragim Samadov (CEI), Jogos Olímpicos de Barcelona, 1992.

No Levantamento de Peso, naturalmente, o campeão é o atleta que conseguir levantar o maior peso. Entretanto, às vezes acontece um empate. Em 1992, em Barcelona, aconteceu um inédito empate tríplice: três atletas levantaram precisamente o mesmo peso, 814 libras (369,224 kg). Ibragim Samadov, que competiu pela Comunidade dos Estados Independentes, ficou com o bronze porque perdeu no primeiro critério de desempate: ele pesava 45 gramas (!!!) a mais que os dois adversários (o grego Pyrros Dimas e o polonês Krzysztof Siemion). O grego venceu o polonês no segundo critério de desempate - quem levantara o peso antes - critério que, se fosse o primeiro desempate, daria a medalha de ouro a Samadov, pois ele fora o primeiro a levantar as 814 libras.

Revoltado com o resultado, Ibragim Samadov não se inclinou para receber sua medalha de bronze, a pegou com a mão, a atirou no chão, deu as costas para o pódio e saiu andando, sob intensas vaias da plateia. Ele estava visivelmente irritado desde o momento em que falhara na tentativa de ultrapassar as 814 libras, e fora amolado por torcedores gregos. Após dar a Ibragim Samadov uma chance de se explicar, o COI o expulsou da Vila Olímpica e retirou sua medalha. Ele se desculpou no dia seguinte, mas continuou sem a medalha (que também não foi herdada pelo quarto lugar, porque a desclassificação de Samadov se deu após a competição).

V) Ara Abrahamian (Suécia), Jogos Olímpicos de Pequim, 2008.

Ara Abrahamian (fotos: Getty Images).

Competindo pela Suécia nos Jogos de Pequim, Ara Abrahamian perdeu a semifinal na Luta Greco-Romana, categoria até 84 kg, e pôs a culpa pela derrota em "erros grosseiros de arbitragem". Ele teve que ser contido após o incidente, e inicialmente se recusou a participar da luta pela medalha de bronze. Entretanto, ele mudou de ideia, lutou e ganhou o bronze. Porém, durante a cerimônia de premiação, ele retirou a medalha do pescoço, a largou no chão e saiu andando. O COI desclassificou Abrahamian "por insultar os outros atletas", e ele perdeu o direito à medalha conquistada.

VI) Shin A-Lam (Coreia do Sul), Jogos Olímpicos de Londres, 2012.

(foto: Getty Images)

Uma das imagens mais marcantes dos Jogos de 2012 foi a da esgrimista sul-coreana Shin A-Lam chorando sentada, em protesto após uma derrota controversa para a alemã Britta Heidemann, na luta semifinal. Shin alegava que o golpe vencedor de Heidemann acontecera após o estouro do cronômetro, que era controlado por um adolescente voluntário. Shin foi requisitada a permanecer no local enquanto os árbitros avaliavam seu apelo - que acabou sendo rejeitado após uma longa hora. Desestabilizada emocionalmente, Shin acabou derrotada na luta pelo bronze, e a Federação Internacional de Esgrima lhe ofereceu uma medalha especial de consolação, que ela recusou.

PCFilho

Um comentário:

  1. No dia 25, três dias após a publicação deste post, faleceu Dwight Jones, cestinha do time de basquete dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de 1972. Ele começou sua carreira na NBA no Atlanta Hawks, um ano após aquela final controversa.

    Faleceu aos 64 anos, sem aceitar a medalha de prata...

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