Trinta de maio de 2007.
A maravilhosa e apaixonante torcida do Fluminense deixava o majestoso Maracanã com o gosto de féretro, após ter lotado o estádio para a primeira partida das finais da Copa do Brasil. Henrique, jogador do Figueirense, fez um golaço chutando de longe, acertando o ângulo do Perseguido (que, além das deficiências, tem o azar como sina). A mágoa daquele chute não foi desfeita pela raça de Adriano Magrão, que empatou o jogo a centímetros do fim. A família Fluminense desceu as rampas de concreto com tristeza e desesperança. Houve um engano: poucos ali se lembraram de que o Fluminense, totalmente descartado pela mídia, havia revertido três vantagens de mando de campo para chegar até a final - e que uma quarta seria possível. Segundo: o gol de Magrão era um prenúncio; um time que estivesse fadado ao fracasso não conseguiria empatar aquele jogo. E então passou uma semana, e então Roger recebeu o maravilhoso passe de Magrão, fez o gol histórico e o Fluminense nunca mais perdeu aquele título - foi o supremo campeão.
Nossa história tem essa marca. Num dos dias mais tristes de minha vida, o da perda de meu pai, duas horas depois Washington fez o inacreditável e o Fluminense conseguiu uma das maiores vitórias de todos os tempos, contra o São Paulo no Maracanã, pela Libertadores.
Cair ano passado era impossível, lembram? Vencemos dez dos treze jogos, nasceu para a história o "time de guerreiros" e o Fluminense calou boa parte de um debochado Brasil da imprensa vendida.
Além dos Tricolores, quem acreditava no gol de Antônio Carlos ao fim do jogo contra o Volta Redonda, que nos deu o grande título de 2005? Eu pergunto: quem, além de nós, acreditava que o Fluminense sairia do coma que foi a série C de 1999? Aí estamos, vivos e com saúde.
É preciso falar de 1995, quando a imprensa já tinha seu campeão oficial a seis rodadas do fim, com nove pontos de vantagem? No fim, quem ganhou os aplausos foi o eterno Renato, quem chorou de alegria e se ajoelhou nas arquibancadas do eterno Maracanã foi a torcida do Fluminense - este sim o verdadeiro centenário. Os mais adultos vão lembrar do heroico tricampeão de 1983 a 1985. Assis fez o gol do sacrilégio, o Fluminense foi campeão e vaticinaram: "É um timinho. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar". Realmente, não caiu duas, mas três vezes e com direito ao nosso segundo título brasileiro em 1984. Não éramos favoritos nem quando tivemos um time chamado Máquina. Em 1971 e 1969, os derrotados eram os grandes favoritos. Exemplos assim estão nos anos sessenta, cinquenta; nos quarenta, como o grande Fla-Flu da Lagoa. Não éramos favoritos nem no primeiro Fla-Flu, o de 1912, que vencemos por três a dois e começamos uma história sem fim. Nunca nos concederam a honra do favoritismo, nem quando tivemos nas redações o maior cronista de futebol da história: Nelson Rodrigues.
Não precisamos de favoritismo. Precisamos apenas é honrar a nossa camisa centenária, vitoriosa de verdade, acostumada por mais de um século a desafios e a vencer quando todos nos dão como fora do páreo.
O Fluminense, hoje, precisa ganhar seus três jogos e ser campeão.
É o que basta.
O poderoso Corinthians, versado e saudado pela imprensa, dirigência e arbitragens, é o grande favorito? Não ganhará seus três jogos como nós poderemos - e deveremos - fazer.
A nossa camisa não tem cheiro de favoritismo. Na verdade, o aroma dela é outro: o de títulos. Nossa sala de troféus nunca teve posters pré-datados, voltas olímpicas prévias. Nada disso. Nós somos o time da vírgula, do último suspiro, do último minuto. Noventa minutos são uma vida; nós temos duzentos e setenta para almejar uma grande conquista. Não são falácias, o que digo é tão-somente a história do Fluminense, tal como ela é. Para nós, nada acaba antes do último segundo, quanto mais um título a ser conquistado.
Quem não souber da nossa história, favor consultar - e, claro, ler - as enciclopédias sobre o assunto. A literatura a respeito é de uma fartura impressionante.
Se eu fosse do Parque São Jorge, jamais comemoraria um título antecipado tendo o Fluminense a um ponto de distância, faltando três rodadas para o fim do campeonato. Quem fez isso contra nós acabou chorando para sempre. É um erro capital. O jogo ainda não acabou.
Muito pelo contrário: ele acabou de começar.
Paulo-Roberto Andel
Excelente texto, amigo Paulo-Roberto.
ResponderExcluirVocê está de parabéns, conseguiu sintetizar o gigantismo do Fluminense na hora das decisões.
Se formos de fato campeões - e eu acredito que seremos - seu texto fará parte da conquista. Será leitura obrigatória, como os escritos do grande Nelson, nosso inspirador eterno.
Saudações Tricolores,
PC
só para discontrair
ResponderExcluircaro PC, Tubo beleza?? espero que sim, eu tenho uma enquete para vc:
eu estava assistindo, sem querer,e falta de opção, showbol entre Flamengo e Corinthians, para quem torci?
(a) Flamengo,pois não ganha mais nada
(b) Corinthians,100 ter nada??
(c) o telhado cair, e acabar o jogo
(d) o M.P. entrar e prender todos.
abs
Ganhem os 3 jogos e esqueçam do mundo! Família tricolor unida sempre!
ResponderExcluirSaudações tricolores baianas!
Grande texto!
ResponderExcluirTodos os agradecimentos, amigos.
ResponderExcluirFaltam poucas horas.
NÓS ACREDITAMOS!
É o que basta.
Abraços gerais e ostensivos.
Fácil? O profeta nunca disse que seria fácil.
ResponderExcluir--
Muito bom texto. O improvável e o último minuto sempre serão nossos.