Queixo-me às rosas, mas que bobagem... as rosas não falam...
Simplesmente as rosas exalam... o perfume que roubam de ti...
Pobre, preto, servente de obra, parou os estudos no primário. Passou a infância na Zona Sul, no Catete e em Laranjeiras, mas logo depois a numerosa família mudou-se para a favela que nascia no Morro da Mangueira.
Estas linhas descrevem a vida de milhares de cariocas da primeira metade do século XX. São uma espécie de biografia compartilhada por uma multidão. Porém, me refiro aqui a um único carioca. Um carioca diferente.
Durante o expediente nas obras, este carioca especial utilizava um chapéu-coco, para se proteger do cimento que caía de cima. Por isso, ganhou dos companheiros de trabalho o apelido de Cartola.
Apelido que, curiosamente, é o mesmo do clube para o qual Cartola torcia: o Fluminense. Fluminense que tantos insistem em chamar de aristocrático, mas que já naquela época abrigava torcedores como Cartola: milhares de pobres, pretos e favelados tão tricolores quanto Fernanda Montenegro e Barbosa Lima Sobrinho. Fluminense que tem orgulho de sua gente, de seu povo.
Ai dos que tentem diminuir o sentimento pó-de-arroz de Cartola. O músico genial era muito tricolor. Tanto que, ao fundar a Estação Primeira de Mangueira, impôs que as cores da escola de samba seriam as cores do Fluminense. (o grená acabou virando rosa, mas este é um detalhe irrelevante)
Há exatos trinta anos, o Fluminense levantava o Campeonato Carioca, em dramática final contra o Vasco, com o gol de Edinho. Quis o destino que, no mesmo dia, os céus viessem buscar o poeta Cartola. O gênio faleceu campeão.
Sobre seu caixão, estava a bandeira do Fluminense, ao lado do pavilhão da Mangueira. As duas paixões institucionais da vida de Cartola o acompanharam até seu último instante terreno.
Domingo, o grande poeta estará no Estádio Olímpico, junto com a multidão tricolor. Vai comemorar o título como nos velhos tempos.
Abençoado é o Fluminense, que possui Cartola em suas fileiras. Para sempre.
PC
Fluminense 1 x 0 Vasco, 30/11/1980, Tricolor Campeão Carioca:
Muito legal o texto!
ResponderExcluirBela homenagem!
Grande lembrança e bela homenagem, PC!
ResponderExcluirInteressante PC, não sabia que o grande Cartola era tricolor. Parabéns! abraço M
ResponderExcluirGênio das artes em língua portuguesa de todos os tempos.
ResponderExcluirGênio!
E também 30 anos do mitológico gol de Edinho, naquele domingo chuvoso, que consagrou os grandes campeões de 1980.
Abraço!
Reza a lenda que a primeira bandeira da Mangueira era uma bandeira antiga do Fluminense que o Cartola tinha, com o grená desbotado. Daí o verde e rosa. Abraços.
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