segunda-feira, 4 de abril de 2016

Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff


Excelentíssima Senhora Presidente da República Dilma Rousseff,

Para não deixar dúvidas, e para ser absolutamente sincero, afirmo já na primeira linha desta carta: eu nunca votei na senhora, nem em 2010, nem em 2014, nem no primeiro turno, nem no segundo turno. Votei uma vez em seu antecessor, o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e não renovei o voto, insatisfeito com o primeiro mandato dele. Portanto, nas três últimas eleições, votei em adversários do seu partido, e sou, desta forma, opositor a ele. E sim, sou favorável ao seu impeachment, pois considero que sua gestão não respeitou as regras previstas em nossa Constituição Federal. Assistirei atentamente à sua defesa na Câmara dos Deputados, e acredito que a senhora de fato possui alguns argumentos para se defender, embora ache que nenhum deles chegará perto de me convencer. Assim, se eu fosse um parlamentar, votaria favoravelmente ao seu impeachment.

No entanto, o meu posicionamento político não é o tema desta carta. Apenas quis deixá-lo claro desde o começo, porque não acredito em imparcialidade, e não seria honesto de minha parte se eu tentasse parecer isento. O tema desta carta é o apelo de um cidadão brasileiro à suprema mandatária do país, independentemente das divergências que nós podemos ter (e certamente temos).

Nós estamos enfrentando a maior recessão econômica desde a década de 30 do século passado. E esta não é uma conclusão minha: foi o seu ministro Nelson Barbosa que disse. A inflação está fora de controle, e o desemprego cresce a cada dia, afetando milhões de famílias, a maioria pobres. E a senhora, infelizmente, é uma das causas principais desta triste crise. Quase ninguém mais acredita que o seu governo seja capaz de contorná-la, como comprovam as recentes manifestações, as maiores da nossa História. A senhora ocupa a honrosa função de Presidente da República há cinco anos e três meses, graças à soberana vontade do Povo, sem dúvida alguma, mas entenda que agora este Povo não mais a apoia.

E não é só o Povo que não acredita mais em você. Os investidores continuarão tirando seu dinheiro do Brasil, enquanto a senhora estiver no Palácio do Planalto: eles já disseram que só voltarão a investir aqui quando a senhora sair. Os seus aliados políticos, que permitiram sua eleição e sua reeleição, também estão abandonando a senhora. Só permanecem ao seu lado os companheiros mais fiéis (e seja grata a eles, porque não é tarefa fácil). A senhora sabe melhor do que eu que, com o apoio deles somente, governar este país é uma tarefa impossível.

Daqui a alguns dias, o pedido de seu impeachment será votado no plenário da Câmara dos Deputados. E a senhora sabe que não terá como alcançar os 171 votos necessários para que vença a votação. Nas contas mais otimistas, a senhora consegue uns 140. Depois disso, o pedido irá para o Senado, e a senhora será afastada por seis meses, para ser submetida a um julgamento desgastante e até certo ponto cruel, do qual a senhora sairá exausta e provavelmente derrotada. Eu respeitosamente pergunto: vale a pena passar por tudo isso, senhora? Vale a pena passar por tudo isso para tentar manter um governo que continuará sendo inviável, mesmo que a senhora milagrosamente escape do impedimento?

A esta altura, a senhora já entendeu que a minha ousada intenção é convencê-la a renunciar. Eu ouvi um pronunciamento recente seu, afirmando que não renunciará em hipótese alguma. Sinceramente admiro tamanha coragem, mas insisto: não há solução melhor que a sua renúncia, tanto para o Brasil, quanto para a senhora, que já tem certa idade, já esteve doente, e não precisa passar pelas humilhações públicas que estão por vir.

Renuncie, senhora Presidente. Devolva o Brasil ao Povo brasileiro, peça desculpas por não ter conseguido vencer a crise, e vá cuidar da sua saúde e do seu netinho. Esta é a única maneira possível de encerrar seu mandato com honra e dignidade.

Renunciar, cara Presidente, não é feio. Muito pelo contrário: quando necessária, a renúncia é um belíssimo gesto de nobreza, de inteligência e de humildade. A senhora já entrou para a história como primeira mulher a ser Presidente do Brasil. Será uma pena que entre também como primeira Presidente a ser deposta por um processo de impeachment (lembrando que o ex-Presidente Fernando Collor acabou renunciando tardiamente, um pouco antes do julgamento pelo Senado).

Infelizmente, o provável é que esta carta nunca chegue até a senhora, embora eu realmente queira que isto aconteça. O provável é que apenas meus amigos e alguns amigos de amigos a leiam, mas ainda assim resolvi escrevê-la. E fiz isto com a melhor das intenções.

Atenciosamente,
Paulo Cezar Filho

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. PC, o "malandro" Bezerra da Silva escreveu este refrão há muitos e muitos anos atrás, dando a solução:
    "Pra tirar meu Brasil dessa baderna,
    só quando morcego doar sangue ou o Saci cruzar a perna."

    Como voce vê, de lá pra cá só mudaram as moscas, a merda continua a mesma.
    A única solução para resolver os problemas do Brasil seria um ditador honesto, justo e preocupado em melhorar a vida do país.

    Mas como voce sabe, nunca existiu na história da humanidade um ditador com nenhuma das 3 qualidades( honesto, justo ou preocupado), quanto mais com as 3 juntas num só ditador, certo?

    É como a solução do Bezerra da Silva...

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    1. RBN,

      Eu acredito - e os números mostram - que o PT elevou em algumas ordens de grandeza os níveis de roubalheira e corrupção. Sabemos que os outros não são santos, mas precisamos começar por algum lugar.

      E nós vamos começar tirando o PT, e colocando no lugar os substitutos previstos na Constituição.

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