Na semana passada, eu estava conversando com o Gustavo, grande amigo da época da faculdade, e... peraí! Eu disse que estava conversando com ele, mas já me corrijo: estava na verdade batendo um papo virtual com meu amigo. A
internet possui vários méritos, e um deles é o de permitir muitas conversas instantâneas e gratuitas, com muitas pessoas, estejam elas onde estiverem. Porém, isso acaba nos afastando do relacionamento pessoal, da conversa olho-no-olho. O que é muito ruim. Vejam só: eu e o Gustavo ambos moramos no Rio de Janeiro, e mesmo assim já não nos vemos há um bom tempo. E não é só ele: a mesmíssima coisa acontece com quase todas as minhas amizades. Desculpem-me o desvio, já voltarei ao assunto original da crônica.
Aquela conversa ocorreu, salvo engano, na noite de sexta-feira. Começou com as amenidades de sempre: esbravejamos contra Castillo, o goleiro botafoguense; depois, reclamamos que precisamos de férias; e assim seguimos papeando, sobre assuntos mutantes. Até que, uma hora, o Gustavo escreveu algo assim: "É estranho mudar de paradigma. Até um determinado momento da vida, tudo gira em torno do estudo. Depois, tudo gira em torno do dinheiro. No fim da vida, as atenções provavelmente serão voltadas para a saúde. Isso tudo parece tão pouco, né, PC?".
Concordei imediatamente com meu amigo. Que loucura é essa? O Gustavo conseguiu descrever muito bem a insanidade coletiva que vivemos. A insanidade coletiva, eis o tema sobre o qual escreverei hoje. Já estou escrevendo, na verdade.
Quando somos crianças, todos estudamos. Ou melhor, todos deveríamos estudar. Chegará o dia em que eu não precisarei escrever esse "ou melhor". Apesar de o estudo ser algo totalmente contrário ao instinto, tenho certeza de que é a atividade à qual as crianças devem se dedicar. "Até um determinado momento da vida, tudo gira em torno do estudo", já escreveu o Gustavo. E este escriba fica muito feliz que assim seja.
Na minha modesta opinião, é na segunda fase desse jogo que a insanidade coletiva começa. A fase do dinheiro: "Depois, tudo gira em torno do dinheiro", disse o Gustavo. Assim caminha a humanidade: o número mais importante da vida de uma pessoa deixa de ser sua data de nascimento, seu RG, ou sua nota no boletim. A quantidade que mais importa passa a ser aquele número após a palavra "saldo" no extrato do banco. Se o número do sujeito é pequenino, ele não está bem. Se o número é grande, o sujeito é bem-sucedido na vida. Se o número for negativo, o sujeito está em apuros.
E então o objetivo da vida passa a ser aumentar aquele número. Alguns me atacarão, dizendo que estou exagerando. Estou mesmo? Se você está na fase do dinheiro, examine a sua agenda. Veja quantas horas do dia você dedica a aumentar aquele número. Alguma outra atividade toma tanto o seu tempo? Não, né? Então, o grande objetivo da sua vida é mesmo aumentar aquele número. Parabéns, leitor: você enxergou o óbvio.
O Gustavo continuou, dizendo que não consegue conversar sobre esse assunto com as pessoas. Para a maioria delas, esse cenário é natural, está embutido na vida, e nada pode modificá-lo. Quando alguém toca no assunto, ouvem-se as gargalhadas gerais, como se a situação toda fosse uma piada engraçada. Mas não é.
Faz sentido trabalhar oito, nove, dez, onze horas em um dia? Faz sentido sacrificar sua saúde para aumentar aquele número? Faz sentido deixar família e amigos em segundo plano?
Todos sabemos que não, não faz sentido. Então, por quê continuamos o sacrifício? Por quê?
Faça parte de meu manifesto contra a insanidade coletiva. Ligue para aquele velho amigo, e marque um encontro real com ele. Vá à casa dos seus pais, e passe uma tarde de quarta-feira com eles. Gaste uma manhã de quinta-feira com o seu filho, ou o seu sobrinho. Assista ao pôr-do-sol na praia. Faça carinho no seu cachorro, ou mesmo nos cachorros dos outros. Dedique-se a uma atividade voluntária. Leia um livro. Viaje sozinho, viaje acompanhado.
A vida só é louca porque nós a fazemos louca. Ela devia ser bem melhor. E será.
PC
melhor nao falara do fluminense msm...
ResponderExcluirbela cronica pc!
melhor nao falar do fluminense msm...
ResponderExcluirbela cronica pc!
O importante é seguir os sonhos e ser feliz mesmo que não consiga realizá-los tendo a consciência de que lutou até o fim.
ResponderExcluir"Viaje sozinho, viaje acompanhado"
ResponderExcluirto tentando fazer isso a milenios,o problema é exatamente que falta o dinheiro XD
Acho que o jeito é tentar ser feliz no trabalho, onde as pessoas passam a maior parte do tempo. Outra opção é tentar não fazer nada. Sei lá. Longa vida aos NEETS!
ResponderExcluiro ser humano é algo muito complicado, meu amigo.
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