terça-feira, 29 de setembro de 2009

Recordar é viver - O primeiro Brasil x França

Rio de Janeiro, primeiro de agosto de 1930.

Amigos, pela primeira vez um escrete europeu jogou em solo brasileiro. Voltando da Copa do Mundo, disputada no Uruguai, a França fez escala no Rio de Janeiro. Aproveitando-se da presença dos azuis na doce terra carioca, o Fluminense Football Club fez o convite para um amistoso, a ser disputado no lendário Estádio das Laranjeiras. E os franceses aceitaram.

Os próprios dirigentes tricolores trataram de convocar a Seleção Brasileira, e incluíram os jogadores paulistas. É importante ressaltar que a APEA (Associação Paulista de Esportes Athléticos) não cedeu seus jogadores para o Campeonato Mundial, atitude que causou fúria na CBD (Confederação Brasileira de Desportos). O único jogador paulista a integrar o escrete foi Araken, do Santos, que se inscreveu pelo Flamengo. Mas a CBD ainda não havia punido os paulistas, e também não fez nada para impedir a realização da partida amistosa.

Os paulistas viram no match contra a França a grande oportunidade de demonstrar a falta que fizeram no Uruguai. O público carioca não perdeu a chance de ver o primeiro confronto entre brasileiros e franceses: cerca de 15 mil pessoas se apinharam no Estádio do Fluminense.

O principal desfalque da Seleção Brasileira era seu capitão Preguinho, jogador do Fluminense, que estava enfermo. Defendendo os arcos do escrete, estava Velloso, do Fluminense. Os dois beques eram paulistas: Grané e Del Debbio, ambos do Corinthians. Os três halves eram Pepe (do Palestra Itália), Fausto (do Vasco da Gama), e Serafini (também do Palestra Itália). A linha de ataque contava com Ministrinho (do Palestra Itália), Heitor Domingues (do Palestra Itália), Friedenreich (do São Paulo da Floresta), Nilo (do Botafogo) e Teóphilo (do São Cristóvão).

Os franceses começaram melhor, e logo abriram 2 a 0. No primeiro gol, Delfour acertou belo chute de fora da área, sem muitas chances para o goleiro Velloso. No segundo, Delfour chocou-se com Del Debbio e caiu, mas mesmo do chão conseguiu assinalar o tento.

Orgulho ferido pela derrota imposta em sua própria casa, a Seleção Brasileira lançou-se toda para o ataque. Nilo driblou quatro adversários e passou a Heitor Domingues, que fintou mais dois e marcou o gol de honra brasileiro. Ainda no primeiro tempo, o selecionado do Brasil alcançou o empate com Friedenreich, que aproveitou lançamento de Teóphilo.

Veio o segundo tempo, e com ele o gol da virada brasileira. Com assistência de Friedenreich, Heitor Domingues assinalou o tento que fez a alegria do povo presente em Laranjeiras.

Nascia ali, no Estádio das Laranjeiras, numa virada sensacional, uma das maiores rivalidades do futebol mundial. Até hoje, Brasil e França se cruzaram quatro vezes em Copas do Mundo. Em 1958, na Suécia, a Seleção deu um show na semifinal, e venceu degaulleada (by Nelson Rodrigues). Em 1986, empate no futebol e triunfo francês nos pênaltis. Em 1998, vitória francesa na finalíssima. E em 2006 mais uma vitória dos azuis. A França é o único selecionado da Terra que pode chamar o escrete verde-amarelo de freguês de carteirinha. Apesar disso, os gauleses só possuem uma Copa do Mundo, enquanto os brasileiros já ergueram cinco vezes a taça.

Brasil x França é como o Fla-Flu: uma rivalidade que nasceu em berço esplêndido. E, como tudo o que nasce em Laranjeiras, a rivalidade franco-brasileira tem vocação para a eternidade.

PC

Ficha técnica: Brasil 3 x 2 França.
Amistoso Internacional.
Data: 01/08/1930.
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro.
Brasil: Velloso, Grané e Del Debbio; Pepe, Fausto e Serafini; Ministrinho, Heitor Domingues, Friedenreich, Nilo e Teóphilo. Técnico: Píndaro de Carvalho.
França: Alex Thépot; Étienne Mattler e Marcel Capelle; Augustin Chantrel, Célestin Delmer e Alexandre Villaplane; Ernest Libérati, Edmond Delfour, Marcel Pinel, Lucien Laurent (André Maschinot) e Marcel Langiller. Técnico: Ground Commiteé (Gaston Barreau, Jean Rigal e Maurice Caudron).
Árbitro: Arthur Antunes Moraes e Castro, o "Laís" (Brasil).
Gols: Edmond Delfour (2), Heitor Domingues e Friedenreich no primeiro tempo. Heitor Domingues novamente na segunda etapa.

Curiosidade:
- o atacante francês Lucien Laurent marcara, no dia 13 de julho, o primeiro gol da história das Copas do Mundo, na vitória da França sobre o México por 4 a 1, no Estádio Pocitos, em Montevideo.
- Laís, o árbitro da partida, era jogador de futebol quando mais jovem, quatro vezes Campeão Carioca pelo Fluminense (1917, 1918, 1919 e 1924).

Fotos de brasileiros que jogaram a partida:

O center-half Fausto, "a Maravilha Negra", em ação pelo Vasco da Gama.

O atacante Ministrinho, do Palestra Itália.

Fontes de pesquisa:
[1] 85 anos de Seleção Brasileira (excelente pesquisa de Felipe Campbell).
[2] Acervo do Flumemória.
[4] Livro "Enciclopédia da Seleção - As Seleções Brasileiras de Futebol 1914-2002", de Ivan Soter.

Um comentário:

  1. O futebol paulista e suas peculiares babaquices...estranho os jogadores não terem ido à Copa. Se parassem pra pensar, veriam que não haveria punição alguma por parte de seus clubes...

    Jogaço esse primeiro confronto, virada espetacular.

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