Derrota de uma Seleção espantada

Eis a verdade, amigos: a Seleção não esperava a derrota. E quando veio o gol de Sneijder, o que a Seleção sentiu, antes da dor, antes do desespero, foi o espanto irremediável e total. Lá, na África do Sul, a Seleção era, sobretudo, uma equipe espantada.

E pensar que começamos bem, tão bem. No primeiro tempo, só havia o Brasil em campo. A Holanda era uma laranja azeda, uma laranja estragada. O domínio brasileiro era amplo, completo, total. Robinho fez 1 a 0, e ficamos nisso, mas não seria surpresa um placar mais dilatado. A Seleção era senhora da partida, demonstrando mais brio e mais qualidade que a equipe oponente.

No intervalo, eu estava preocupado, e comentei que precisávamos ter cuidado com a Holanda, que é sempre um time perigoso, desde a década de 70, desde o famoso carrossel. Eles não perdiam há dois anos, e certamente lutariam muito para manter esta grande invencibilidade.

Veio a segunda etapa, e esta é a verdade: a Holanda achou o primeiro gol. Uma bola alçada despretensiosamente na área, Júlio César e Felipe Melo se chocam, e a Jabulani vai para as redes. Não houve competência holandesa no lance. Foi sorte, muita sorte, essa sorte que é um dos fatores mais importantes no futebol.

E o empate fez a Seleção desandar. A Seleção parecia petrificada no empate. O gol de Sneijder, o da virada, era mesmo questão de tempo. Conforme escrevi no começo, a reação do escrete brasileiro à virada foi de espanto. Ninguém ali esperava a derrota, e no entanto ela se apresentou mesmo assim, cruel e assustadora.

A Seleção, espantada, não soube conviver com a adversidade. Felipe Melo perdeu a cabeça e foi expulso após uma agressão infantil. Kaká, Daniel Alves, Robinho e Luís Fabiano não conseguiam criar as chances. Nilmar entrou no lugar de Luís Fabiano, mas tampouco conseguia levar perigo à meta holandesa. Até nossa briosa defesa cometia falhas: os gigantes Lúcio e Juan erraram algumas vezes, deixando os holandeses próximos do terceiro gol.

A derrota dói, principalmente porque a Seleção é melhor que a Holanda. Digo mais: a Seleção não é melhor apenas que a Holanda, é a melhor equipe desta Copa do Mundo. Alguns citarão a Argentina. Mas olhemos para trás: esta mesmíssima Seleção papou a Argentina 3 vezes: enfiou 3 em Londres, 3 na Venezuela, e novamente 3 em solo argentino. Resta alguma dúvida de nossa superioridade?

Não concordei com a convocação do técnico Dunga, não mesmo. Quando penso que poderíamos ter no Mundial um entrosado trio Ganso-Neymar-Robinho, sinto calafrios. Fiz campanha pela convocação dos meninos, mas simplesmente não havia como contestar Dunga. Ele havia vencido todos os campeonatos disputados. Infelizmente, ficará marcado pela derrota na Copa do Mundo.

Há que se pensar no futuro. Sem eliminatórias para disputar, a trajetória até 2014 precisa ser muito bem planejada. Jogando em casa, a Seleção terá que sair campeã. Espero que os próximos quatro anos sejam recheados de amistosos relevantes, de preferência em território brasileiro. Londres não é a capital do Brasil...

PC