Nesta segunda-feira 31, perdemos uma lenda do futebol brasileiro: o mítico narrador Januário de Oliveira sucumbiu à cruel imposição da natureza humana e não está mais entre nós.
É de Januário a minha narração predileta do Gol de Barriga, em que sua voz ecoará para sempre assim: "Força no meio pro Ézio, recebeu de costas, ficou de frente, girou, na direita pro Ronald. Vai à luta! Quarenta e um e quinze! Bola na direita. Aílton... arma o cruzamento, fez a finta, ajeitou, outra finta mais, bateu, e o goooool! Goooooooooooooolaçoooooooo, Aílton! Aílton, ex-rubro-negro, entrou dançando na defesa do Flamengo. Um canhonaço de perna esquerda. A quarenta e dois minutos do segundo tempo. Outra vez o Fluminense na frente, três a dois! É cruel, é muito cruel, Aílton do Acari! Fez o terceiro porque sabe que é disso, é disso que o povo gosta!".
Depois, ao notar que o gol foi de Renato, ele conseguiu melhorar a narração que mais parece um poema: "Passo um detalhe: eu quero refazer tudo. Foi o Renato que meteu o peito na bola. O valente Renato, Renato, Rambo, veja outra vez. Um bolão do Aílton. Renato mete o peito na bola e caaaala a torcida do Flamengo no Maracanã e em todo o Brasil!".
Anos antes, foi Januário o primeiro a perceber que o centroavante Ézio era um super-herói do Fluminense. Ao inventar, de maneira brilhante, o "Super-Ézio", ele conseguiu criar um universo de magia que cativou as crianças tricolores da década de 1990, uma das quais escreve este texto. Como Nelson Rodrigues não estava mais entre nós, precisávamos de alguém que, como ele, nos fizesse voltar a sonhar, transformando nossos atletas em seres mitológicos. Foi Januário que o fez.
Januário foi um grande tricolor, mas vale lembrar que seus bordões conquistaram todas as torcidas, como o inesquecível "tá lá o corpo estendido no chão!", que imitávamos até mesmo em nossas peladas, naquela época em que as crianças ainda jogavam bola na rua.
Que descanse em paz o grande Januário de Oliveira. Por aqui, sua voz ecoará para sempre, eternizando os gols que narrou com tanta poesia. Obrigado por tudo.
PCFilho
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