quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Por trás da ofensa, o projeto de elitização da platéia


Amigos, segue abaixo texto absolutamente irretocável do meu amigo Marcello Savioli. Foi publicado no excelente Fluminense & etc, site que vem realizando a melhor cobertura do dia-a-dia do Tricolor.

Parece que ele invadiu meu cérebro e expôs todas as ideias que tenho a respeito dessa questão de elitização x democratização, e preços de ingressos x afastamento da torcida.

O previsível fiasco de público do Fluminense ontem dá força às suas palavras: 3832 pagantes no Engenhão. Com "promoção"...

Confiram!

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Causa, efeito e entrelinhas – A coluna do Savioli
Por trás da ofensa, o projeto de elitização da platéia

O Fluminense definitivamente se divorciou de sua torcida e da realidade.

Não é difícil observar em toda a política de preços praticada pelo clube nesse primeiro semestre que, por trás da mesma há uma clara estratégia de elitização da platéia.

O vice-presidente de Marketing, Idel Halfen, quando nos concedeu excelente entrevista, falou em qualificar a plateia. Qualificar a plateia é um conceito que se ratifica nas palavras do presidente do clube, Peter Siemsen, que manifestou seu “sonho” de construir uma arena em Laranjeiras, no seio da zona sul, para que tivesse condições de cobrar mais caro pelo ingresso.

É bom que se diga que não há qualquer constrangimento ou vontade de esconder esse propósito. As políticas e as palavras seguem a mesma linha de raciocínio. Trata-se da europeização como plano de viabilidade econômica. Num curto prazo, aliado ao plano Globo de espanholização, nos assemelharemos a um rico clube espanhol, como são todos, com investimentos modestos em futebol, com zero de resultados esportivos e, quem sabe, com um belo estádio.

A mentalidade do clube hoje, e nem é por maldade, é por crença, ainda que equivocada, é de que o Rio de Janeiro termina no Túnel Rebouças.

Talvez por isso a mensagem recorrente seja: associe-se. Compre um apartamento na zona sul, pague R$ 140,00 de mensalidade e torne-se sócio do Fluminense. Nós precisamos do seu dinheiro para sanear o clube e você deve participar das decisões políticas.

Se a elitização da arquibancada é um processo desenfreado, a da torcida parece ser a obsessão. Se o sonho do nosso presidente é ter uma arena em Álvaro Chaves, com 25 mil lugares, se o vice de Marketing deseja qualificar a platéia, não é de se estranhar que não haja qualquer ressonância por parte de diretoria e seguidores aos anseios da patuleia de ver materializada a tão falada democratização. Basta que o leitor procure qualquer manifestação pública da parte de qualquer um dos mandatários de Álvaro Chaves favorável a um plano de sócio torcedor, com direito a voto, com preço acessível, e terá uma grande decepção.

Batemos na tecla que o preço do ingresso praticado pelo Fluminense é mais que irreal, é surreal. Foi assim na Libertadores e continua sendo. Na competição sulamericana o Guerreiro Tricolor aparentemente engessou o clube, que não tinha, dizem, como flexibilizar a política de preço nele contida. No Brasileiro a gente começa a perceber que o que parecia ser um descuido, vai se revelando uma estratégia. Não é possível, e há pessoas inteligentes trabalhando no Fluminense, que cometam o mesmo erro. Então não é erro tático. Faz parte de projeto estratégico fadado a transformar o Fluminense em um clube de bairro. Qualquer semelhança com a década de 90 é mera mera.

Com tudo isso, não é de se estranhar que não haja interesse em transformar o Engenhão na casa do torcedor tricolor, que não haja interesse em reaproximar a torcida das arquibancadas. O público que o Novo Fluminense quer é outro, o que tem muito dinheiro para gastar em espetáculos exclusivos, quiçá em confortáveis poltronas e longe da patuleia. Nada que se distancie muito do projeto Maracanã e do novo conceito que a CBF parece querer implantar no Brasil.

Enquanto a Globo justifica a sua mais nova operação Espanha de homogenização da audiência, com os já velhos planos Corinthians e Flamengo, o Fluminense diz sim senhor. Se afasta de sua torcida, espanta novos adeptos, esvazia suas arquibancadas, deixa de avançar sobre uma boa fatia de mercado, composta pelas marias vão com as outras, e entrega o ouro ao bandido, corroborando e agindo para sedimentar a nefasta e mal intencionada política de distribuição de receitas das transmissões de TV.

Em todo esse contexto, a promoção proposta pela diretoria tricolor para a noite de hoje chega a beirar o deboche. Ao colocar a R$ 10,00 o setor sul, o recado é claro. Vocês querem preço? – diz o Fluminense – então vão lá para o setor reservado aos pobretões. Vão ver o jogo? Mais ou menos. Mas o que importa? Não vão dizer que não demos a você a oportunidade de vir ao estádio.

E quando a torcida, na noite de hoje, mandar a diretoria do Fluminense para aquele lugar e se incluir fora da palhaçada, amigos, amigas, virão o Novo Fluminense e seus seguidores com aquela desculpa surrada de que não adianta reduzir preço, que a torcida não vai, contrariando todos os fatos recentes. Não precisamos recorrer ao quintal do vizinho e falar da brilhante política vascaína, que colocou ingressos a preços populares e fidelizou seu público, que, mesmo quando o preço do ingresso aumenta, em determinadas circunstâncias, como em clássicos, comparece. E só comparece porque o hábito de ir ao estádio foi estimulado por seus dirigentes.

Basta para nós voltarmos a 2009. A grande mobilização da torcida para trabalhar junto com o elenco pela fuga do rebaixamento, foi estimulada pela diretoria, que abaixou radicalmente os preços. Quando aumentou novamente o preço, o público continuou aumentando. Já estava envolvido.

Mas nossos dirigentes vão dar mil e uma desculpas para nos fazer descrer do óbvio e dos fatos. Não é porque não enxerguem a mesma coisa que está nessas linhas. É porque acreditam que estão no caminho certo, o da elitização da plateia.

E, acreditem, estão no caminho errado. Está aí o plano Globo a me dar razão.

2 comentários:

  1. Impecável.

    Flamengo e Corinthians sendo descaradamente patrocinados pela Globo e o meu Fluminense abrindo mão de mais renda.

    Além dos exemplos citados no texto, o do Internacional é outro que mostra o bem que a democratização pode trazer. Sem títulos internacionais e desde 92 sem conquistar um título de expressão, quando nos venceram com um gol de pênalti inventado. Resolveram democratizar e conquistaram 2 Libertadores e uma Sul-Americana, além de outras taças de menor peso, como mundialito FIFA e Recopa.

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