No início desta semana, Fluminense e Vasco obtiveram uma vitória fora dos gramados: a desembargadora Maria de Lourdes Sallaberry, presidente do Tribunal Regional do Trabalho, incluiu os dois clubes no Plano Especial de Execução, conhecido como "Ato Trabalhista". A decisão da desembargadora suspende o cumprimento dos mandados de penhora e das ordens de bloqueios de créditos relativos a Fluminense e Vasco. Em troca, cada clube precisará depositar uma quantia mensal, que será utilizada para o pagamento das dívidas trabalhistas.
Os termos do acordo não são fáceis de cumprir. No primeiro ano, o Fluminense terá que depositar no mínimo R$ 900.000,00 a cada mês (ou 15% de sua receita líquida, o que for maior). Nos dois anos seguintes, a quantia mensal mínima sobe para R$ 1.000.000,00. Nos seis anos subsequentes, o depósito mensal mínimo deverá ser de R$ 1.200.000,00. Ao longo dos nove anos, o total depositado chegará a pelo menos R$ 121.200.000,00, quantia suficiente para zerar toda a dívida trabalhista adquirida até semana passada pelo clube. É importante ressalvar: o acordo não vale para novas dívidas, nem para dívidas menores que R$ 12.580,00.
Se o clube não cumprir os depósitos prometidos, ou se continuar criando novas dívidas trabalhistas, o Ato será imediatamente cancelado. (É bom lembrar que o Fluminense já foi excluído do Plano uma vez, por descumprir o acordo.) Portanto, os pagamentos devem ser prioridade desta e das próximas gestões. Junto com esta vitória jurídica, vem uma enorme responsabilidade.
Segundo declarações recentes do presidente Peter Siemsen, o Fluminense fechará 2011 com um déficit de cerca de 8 milhões de reais. Lembremos que, neste ano, o clube negociou seu maior ídolo dos últimos 20 anos, e ainda assim terminou o ano no vermelho. Não é todo ano que teremos um Darío Conca para vender... Perguntar não ofende: de onde sairão os R$ 10.800.000,00 destinados aos pagamentos do Ato Trabalhista em 2012?
Neste cenário, um substancial aumento das receitas do clube será necessário. O setor de marketing, que - convenhamos - tem sido uma nulidade, precisa aproveitar melhor as oportunidades. Um programa de associação em massa bem feito poderia ser uma solução: o mais bem-sucedido exemplo brasileiro (Internacional de Porto Alegre) arrecada cerca de R$ 40.000.000,00 anuais. Em outra frente, o preço dos ingressos deverá ser muito bem pensado, de modo a não afastar a torcida do estádio, como aconteceu neste ano de 2011.
O aumento da receita de televisionamento a partir de 2012 será importante nesse cenário. Mas é bom lembrar que este dinheiro também entrará para todos os principais concorrentes do Fluminense, e que estes o utilizarão para construir bons times. (Além do mais,
seis deles receberão um valor razoavelmente maior que o nosso.) Se o Tricolor quiser continuar competitivo, inevitavelmente terá também que aumentar as despesas com a folha salarial do futebol.
Nossa torcida é para que o Fluminense consiga cumprir o combinado, o que, repito, não é fácil.
PS: cabe observar que a interrupção das penhoras liquida de vez aquela velha desculpa utilizada para tentar justificar o modelo de patrocínio da Unimed, em que o dinheiro não passa pelos cofres do clube. O problema é a outra notícia recente, dando conta da renovação do contrato com o patrocinador "nos mesmos termos atuais". Em suma, apesar do fim das penhoras, continuaremos convivendo com a indesejada interferência do patrocinador nas decisões que deveriam caber apenas ao clube.
PPS: para efeito de comparação, o Vasco pagará parcelas menores, que começam em R$ 500.000,00 e crescem até R$ 650.000,00, perfazendo um total de R$ 54.100.000,00 nos próximos oito anos.
Até que enfim boas notícias.
ResponderExcluirCreio que deve começar a ocorrer uma mudança no perfil das contratações e um investimento na base seria fundamental neste contexto.