quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O diagnóstico óbvio que ninguém quer enxergar


(por Thiago Rachid)

Começo este texto trazendo à luz uma informação importante: desde 1996 até 2013, todos os presidentes do Fluminense – repetindo, TODOS – passaram pela experiência do rebaixamento ou da luta para não cair.

Hoje, jogar pedra no Presidente do Fluminense é mole. Não que ele não mereça. Acho que ele merece o mesmo tratamento que a Geni da música de Chico Buarque. Mas é preciso compreender que o real problema do clube tricolor não é apenas um homem ou um grupo político, mas o modelo que os sucessivos candidatos e seus grupos, eleitos ou não, reproduzem. É exatamente aí que residem as suas culpas: por aceitarem reproduzir esse modelo amador, falido e fadado ao fracasso.

As circunstâncias que porventura prejudicaram a trajetória do Fluminense e o conduziram à Segunda Divisão do Brasileirão em 2013, como lesões de atletas ou falta de dinheiro, não são argumentos, pois não são as verdadeiras causas, mas sim consequências de uma causa primeira que deve ser encarada e reconhecida como o tumor maligno do Fluminense: sucessivos modelos de gestão baseados em acordos políticos entre associados em que estes colocam os seus interesses acima dos interesses do clube - sejam quais forem esses interesses, da vaidade ao dinheiro.

O Fluminense foi pioneiro na defesa do profissionalismo na década de 1930. Porém, oitenta anos depois, é um retardatário na modernização da gestão profissional dentro de paradigmas que não podem ser negligenciados nos dias atuais.

Percebam que está tudo errado no Fluminense: do tipo de relação com o patrocinador à prática de nomeação de associados sem qualificação para funções gerenciais, passando por diversas outras homenagens ao amadorismo que são praticadas em nome da viabilidade eleitoral e da “governabilidade”.

Para quem está insatisfeito com a realidade tricolor há dois caminhos a seguir: ou continuamos a nos equilibrar tentando em vão efetuar mudanças dentro desse modelo de fazer política, ou seja, dando murro em ponta de faca; ou rompemos com essa visão de maneira definitiva, rezando rigorosamente pela cartilha da transparência, do profissionalismo e da impessoalidade.

Como aconteceu no primeiro mandato, é impossível que Peter Siemsen tenha êxito no segundo, pois além de sua revelada fraqueza, ele reproduz um sistema estéril. Haverá um sucesso isolado aqui ou outro ali, se tudo der certo. Mas a realidade não mudará estruturalmente.

Houve uma tentativa de romper com esse modus operandi da política tricolor, através do Grupo Político Pavilhão Tricolor. Mas os associados do Fluminense não simpatizaram com um modelo em que suas vaidades não pudessem ser saciadas e a tentativa frustrou-se por baixa adesão.

Enquanto o tricolor engajado não tiver consciência de que a política do Fluminense tem que partir para outro caminho e os tricolores não-engajados não perceberem que devem se engajar, vai continuar tudo como está.

Termino este texto pedindo desculpas por ser tão repetitivo em meus posts, mas não consigo ir adiante enquanto o mais óbvio dos diagnósticos ainda não é aceito pela torcida tricolor.

(Thiago Rachid já colaborou outras vezes com este blog.)

5 comentários:

  1. Sou tricolor apaixonado , mas lucido , concordo com o que você falou ,esse é um modelo falido e fadado ao fracasso , no inicio do ano eu já falava aos amigos que em 2013 iriamos sofrer muito.

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  2. Obrigado pelo seu comentário, Leandro. É isso: os altos e baixos são consequência do modelo adotado pelo Fluminense.

    Não digo que esperava por um 2013 tão ruim. Mas surpresa mesmo, não foi...

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  3. E qual seria o modelo inovador? Creio que seja a independência financeira do clube, mas para isso teríamos que aos poucos ou de uma vez por todas romper com a Unimed, nossa "fonte de riquezas". Concordo com o que foi dito, mas para viver financeiramente independente requer abrir mão de muita coisa e principalmente da vaidade e para isso, esse "sofrimento" não vai parar tão cedo até tudo se acertar. De duas, uma. Ou a gente busca a independência financeira e arca com as dolorosas consequências de altos riscos de rebaixamento ou faremos como na Europa, vender o clube para uma empresa administrar. Este é o meu ponto de vista atual, estou aberto a uma discussão sobre o assunto ou análises sobre outras alternativa ou ponto de vistas diferentes.
    Isto é uma pauta muito importante para o futuro do nosso Fluminense.
    ST!

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  4. Alex, Não há modelo inovador. Há o modelo que todos os clubes sérios praticam: gestão profissional do porteiro ao ponta-esquerda. No Fluminense, distribui-se entre os sócios cargos de importância estratégica para a administração do clube. Gente sem preparo, sem capacidade e que, na maioria das vezes, está ali por vaidade, mais interessado com os dividendos pessoais que o cargo pode trazer do que com o que deve contribuir pro clube.

    Precisamos nos livrar desses grilhões. É como se você tivesse uma empresa e uma família numerosa e para agradar a todos distribuisse as funções da sua empresa para filhos, mulher, tios, primos, avós, sem qualquer critério de capacidade e conveniência administrativa.

    O Fluminense é hoje uma ação entre amigos. Só que o Fluminense não pertence a meia dúzia. Pertence, formalmente a milhares de associados e, indiretamente, a milhões de pessoas que são apaixonadas e consomem e mantém essa marca - ainda - poderosa.

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  5. Os cargos estratégicos do Fluminense hoje são, 90% deles, ocupados por correligionários das campanhas políticas do Presidente. Em Xerém e em Laranjeiras.

    Todos contratados por via política, ao invés de técnica.

    Profissionalismo não é empregar os melhores amigos. Profissionalismo é empregar os melhores profissionais.

    A inovação do Fluminense será o dia em que o clube for assumido por um Presidente decidido a implantar o profissionalismo.

    Espero que esse dia chegue antes do dia da falência, se é que este dia da falência já não chegou. Afinal, o clube já tem dívidas que montam em meio bilhão de reais, o equivalente a 4 anos bons de receita.

    Tomara que ainda haja salvação. Mas precisamos acordar logo.

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