Vocês, que me leem há algum tempo, já devem saber que sou crítico ferrenho da gestão Peter Siemsen no Fluminense, que a considero uma mera continuação das gestões anteriores, e que penso que o Fluminense caminha a passos largos para a falência. Não é segredo para ninguém que defendo, há pelo menos cinco anos, uma refundação do clube, pelas vias democráticas, naturalmente, mas uma completa refundação. Os posts passados estão aqui no blog para provar.
E olhem que não é fácil nadar assim contra a corrente. Afinal, nestas gestões que tanto critico, o Fluminense foi duas vezes campeão brasileiro, ganhou também uma Copa do Brasil, e chegou a duas decisões continentais. Em suma, foi simplesmente o clube brasileiro mais bem-sucedido em termos de resultados, o que não é pouco. Como criticar administrações com resultados tão favoráveis nos gramados?
Acontece que sei separar as coisas. Sou apaixonado pelas três cores que traduzem tradição, mas não sou cego a ponto de achar que o Fluminense foi campeão por ser um exemplo de organização. Muito pelo contrário: mesmo quando o Fluminense estava coberto de glórias, segui afirmando que o clube é toscamente amador. Mesmo campeoníssimo brasileiro, duas vezes em três anos, segui afirmando que o Fluminense precisava mudar radicalmente.
O Fluminense tem tido bons resultados nos gramados por uma evidente razão: a enxurrada de dinheiro derramada por sua patrocinadora, a Unimed-Rio. Olhem para qualquer campeonato do mundo, e constatem o óbvio: os mais ricos vencem. Aqui não é diferente. Mesmo que seus balanços financeiros não mostrem isso (Transparência, cadê você, sua linda?), para efeitos práticos o Fluminense é o clube mais rico do país. E por isso foi campeão em 2010, por isso foi campeão em 2012. Tem mais dinheiro, e pode montar times melhores que os concorrentes. Ponto. Logo, o Fluminense tem levantado taças apesar de seus dirigentes amadores, não por causa deles.
Outro dia, meu amigo Leo João, um dos poucos que concordam comigo quando o assunto é Fluminense, me sugeriu que eu escrevesse sobre os "contemporizadores obstinados" do Fluminense. Ele se refere àqueles sócios e torcedores, digamos, "flexíveis", sempre dispostos a tolerar os erros dos dirigentes tricolores. Críticas à gestão são logo rotuladas, pateticamente, como "políticas" (!!??), venham de quem vierem. Se as críticas vêm após maus resultados no campo, são "oportunistas", mesmo vindas de quem também criticava nas vitórias. Em sua distorcida ótica, todos os (muitos) erros da gestão são justificáveis, de alguma forma.
A reeleição de Peter Siemsen no ano passado, praticamente por aclamação, em meio a uma concreta possibilidade de rebaixamento, confesso, me assustou. Mesmo após 3 anos de gestão temerária, sem Transparência, com um alarmante aumento da dívida, e então com um desempenho ridículo no futebol, os sócios do Fluminense não tiveram dúvidas. Foi um massacre difícil de acreditar e de entender. Seriam os "contemporizadores obstinados" uma maioria tão acachapante no quadro social do Fluminense? Preocupante.
Após a eleição (que deveria até ter sido adiada, que se diga), o rebaixamento se concretizou - e o Fluminense só foi salvo da degola por uma monstruosa demonstração de incompetência por parte de dois rivais. E vejam que a humilhação do rebaixamento tem um agravante: a elevadíssima folha salarial do Fluminense, indiscutivelmente uma das 3 ou 4 maiores do país. Cair com um orçamento tão superior ao da maioria dos concorrentes é, como escreveu o sábio
Beto Sales, uma demonstração obscena de incompetência. Em 2013, o gritante amadorismo tricolor conseguiu se sobrepor até aos milhões de reais que nos fizeram campeões no ano anterior.
Pois bem: graças ao Flamengo e à Portuguesa, o Tricolor ganhou uma rara chance de se reconstruir sem precisar disputar a Série B. E no entanto, pouco foi feito para aproveitar essa oportunidade dourada. A defesa, que já se mostrara incrivelmente frágil em 2013, não foi reforçada - ao contrário, foi enfraquecida - pois
Digão, que vinha sendo titular, foi vendido, sem reposição. Para a frente, vieram
Darío Conca e
Walter, o que sem dúvida melhorou a parte ofensiva, mas foi só isso. O Campeonato Brasileiro começa daqui a menos de um mês, e o Fluminense acha que será campeão com um time que foi rebaixado, com reforços pontuais em seu setor menos carente.
Nos últimos 15 meses, o Fluminense venceu apenas 3 jogos contra outros grandes clubes brasileiros. Podemos até conquistar o Campeonato Carioca nas próximas semanas, pois são apenas quatro jogos, mata-mata, e a sorte pode nos ajudar (e tomara que nos ajude). Até mesmo
a bizarra derrota para o Horizonte na Copa do Brasil pode ser revertida no Maracanã. Entretanto, não consigo ser otimista com relação ao restante do ano tricolor.
E fico ainda menos otimista quando penso a médio e longo prazos. Porque, para o Fluminense voltar a ser o Fluminense de meus sonhos, para voltar a ser o clube perenemente vencedor que foi um dia, seus sócios e seus torcedores precisam acordar. O nosso maior adversário não é o Flamengo, não é o Botafogo, nem o Vasco, nem o Boca Juniors, nem a Ele-dê-ú. O nosso maior adversário é a nossa própria inércia.
PCFilho