Faixa com onze rostos de ídolos. Da esquerda para a direita: Castilho, Pinheiro, Edinho, Didi, Rivellino, Telê Santana, Ricardo Gomes, Waldo, Romerito, Washington e Assis.
Recentemente, um botafoguense me interpelou, tentando diminuir o Fluminense. "O tricolor não possui ídolos", proferiu o alvinegro. E da sua boca pendia uma baba elástica, grossa e bovina. A intensa salivação deve ser sinal de alguma doença. Como não sou médico para diagnosticá-la, vou apenas apresentar pequenas ilustrações para ensinar um pouquinho de história ao amigo de General Severiano.
Começo com a foto de um único time do Fluminense. Antes de olhar o registro fotográfico, aconselho que ponham óculos de proteção, pois desta pintura vaza uma luz ofuscante.
[equipe do Fluminense em 1952, no Maracanã. Em pé: Píndaro, "papagaio de pirata", Édson, Jair (Santana), Bigode, Castilho e Pinheiro. Agachados: Telê, Didi, Carlyle, Orlando Pingo de Ouro e Quincas.]
Pouquíssimos clubes em toda a história do futebol mundial conseguiram reunir, numa mesma equipe, cinco lendas vivas do esporte bretão. Esse time de 1952 tinha Castilho, Pinheiro, Telê, Didi e Orlando. Não à toa, vencemos o Campeonato Mundial de Clubes nesse saudoso ano, que marcava nosso cinqüentenário.
Continuo minha exposição da história do Fluminense com um painel de jogadores:
O primeiro a aparecer é o ponta-direita Pedro Amorim, campeão de 1940, 1941 e 1946, autor de 80 gols em 204 partidas com a camisa do Fluminense.
Depois vem João Coelho Netto, o Preguinho, que é simplesmente o atleta brasileiro mais completo de todos os tempos. Marcou 156 gols em 172 partidas pelo Tricolor. Também fez o primeiro gol da Seleção em Copas do Mundo.
Flávio marcou 93 gols em 114 jogos. Entre eles, o gol que decidiu o até então maior Fla-Flu de todos os tempos, decisão do Campeonato Carioca de 1969. [clique aqui para conhecer a história deste jogo maravilhoso, nas palavras mágicas de Nelson Rodrigues]
Iniciando a próxima linha de craques, está Denílson. Ele era um cabeça-de-área de estilo clássico. Ganhou do Profeta Tricolor o apelido de Rei Zulu, devido à elegância imperial com que desfilava em campo. É o sétimo jogador com mais aparições pelo Fluminense, com 435 jogos e 17 gols.
Ao lado de Denílson, está o lateral-esquerdo Altair, que era conhecido por seu fôlego infinito, e também por ser um virtuose da técnica. Jogou 543 partidas pelo Fluminense (é o quarto jogador que mais atuou pelo Tricolor). Colecionou os canecos de 1957 (Rio-SP), 1959, 1960 (Rio-SP), 1964, 1966 (Taça GB) e 1969. Símbolo de dedicação e amor à camisa.
Sobre Didi, aconselho que leiam "O triunfo do homem", brilhante crônica de Nelson Rodrigues sobre a conquista de nossa primeira Copa do Mundo.
Cláudio Adão chegou em 1980 para levantar o Campeonato Carioca.
Edinho, prata-da-casa, zagueiraço de altíssima classe, exímio cobrador de faltas. Campeão carioca em 1975, 1976 e 1980, neste último marcando, de falta, o santo gol do título.
Carlos Alberto Torres, o capitão do tri da Seleção, foi formado pelo Fluminense. Na foto, aparece com o troféu do Torneio de Paris, uma das glórias conquistadas com a camisa tricolor.
Romeu Pellicciari, "o homem que passava meses sem errar um passe", era um autêntico técnico dentro de campo. Foi campeão carioca em 1936, 1937, 1938, 1940 e 1941, todos tendo o maior rival Flamengo como vice-campeão. Em 23/11/1941, teve fundamental participação no lendário Fla-Flu da Lagoa. Nessa decisão, o árbitro Juca da Praia deu doze minutos de acréscimo, porque o Fluminense isolava todas as bolas na Lagoa Rodrigo de Freitas, a fim de ganhar tempo. Foram os doze minutos mais espetaculares de um jogador de futebol. Mário Filho descreveu: "Romeu alongava caminhos, avançando, recuando, dando voltas, prendendo estrategicamente a bola. E ele não dava a bola para ninguém. Ela era só dele. E o tempo passava." Em 199 partidas pelo Tricolor, Romeu marcou 91 gols.
Félix Mielli Venerando era o goleiro da Seleção em 1970. No mesmo ano, venceu o Campeonato Brasileiro com o Fluminense. Ganhou ainda diversos outros troféus vestindo a camisa pó-de-arroz, no Brasil e no exterior.
Escurinho marcou 113 gols em 490 jogos, durante dez anos envergando o manto tricolor. Levantou o Rio-SP em 1957 e 1960, e também o Campeonato Carioca de 1959.
Acham que é só? Lá vai mais um painel:
1. Castilho; 2. Romerito; 3. Romerito comemorando o gol do título brasileiro de 1984; 4. Telê; 5. Deley; 6. Rivellino; 7. Waldo, o maior artilheiro; 8. Pinheiro; 9. Orlando, o "Pingo de Ouro"; 10. Carlos Alberto Pintinho; 11. Elba de Pádua Lima, o Tim; 12. Gérson; 13. Assis e Washington, o inigualável "casal vinte"; 14. Jair Marinho.
Na década de 70, houve também Marco Antônio, Mickey, Samarone, Manfrini, Kléber, Paulo César Caju, Doval, Zé Mário, Mário Sérgio, Cafuringa. Mais recentemente, tivemos Paulo Victor, Branco, Ricardo Gomes, Ézio, Aílton, Renato Gaúcho, Marcão, Magno Alves, Thiago Silva, Thiago Neves, Cícero, Darío Conca e outros. Poderia passar o resto do meu dia aqui a listar ídolos. Há clubes que vivem de um ídolo, ou dois ou três; outros vivem de um grande time. O Fluminense é diferente: os ídolos, os timaços, as máquinas se sucedem, uns após os outros, numa corrente que começou quarenta minutos antes do nada, e durará para sempre.
Ademir Menezes, Supercampeão Carioca de 1946.
Thiago Silva, o mais recente ídolo do Fluminense. Levantou a Copa do Brasil em 2007, e participou da campanha histórica do vice-campeonato da Libertadores em 2008. Joga hoje no AC Milan, da Itália, e provavelmente jogará as próximas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira.
Darío Conca, herói do Campeonato Brasileiro de 2010!
Há outra peculiaridade no Fluminense: alguns de seus grandes ídolos não foram jogadores de futebol. Que outro clube no mundo poderia reunir tantos ases assim, em tantas áreas diferentes?
Há ainda Barbosa Lima Sobrinho, Elis Regina, Tom Jobim, Santos Dumont, Mário Lago, Pedro Bial, Arthur Moreira Lima, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Oscar Schmidt, Cartola, Jô Soares, Francisco Horta, João Batista Figueiredo e muitos outros.
Não vou fugir da pergunta final: "E quem é o maior ídolo da história do Fluminense?". Respondo sem pestanejar: Carlos José Castilho.
O lendário arqueiro do Fluminense e da Seleção Brasileira tem um currículo espetacular, que inclui três campeonatos mundiais (a Copa Rio de 1952 pelo Fluminense - em que teve espetacular atuação - e as Copas do Mundo de 1958 e 1962 pela Seleção Brasileira). Amputou um dedo para continuar jogando pelo Fluminense, e é até hoje o recordista de atuações pelo Tricolor. Toda homenagem a Castilho é pouco diante do que ele fez pelo pó-de-arroz. Obrigado, Leiteria!
Certamente deixei de citar alguns nomes importantes, e peço desculpas envergonhadas por isso. Peço que apontem meus esquecimentos nos comentários. Encerro o post com um agradecimento ao Blog do Tricolor Verdadeiro, de onde copiei os painéis. Lá, há mais alguns mosaicos de ídolos tricolores. Valeu, Hélio!
PC