terça-feira, 14 de julho de 2009

A torcida coral


Recife, 11 de julho de 2009.

Amigos, o Arruda está magnífico, espetacular e belo: 45 mil pessoas lotam as arquibancadas e cadeiras do estádio do Santa Cruz. A fanática torcida coral canta bonito, em uníssono:
"E eu não paro, não paro não! Sou Santa Cruz! Sou tricolor, de coração!"

Um conhecido meu esteve lá, e me contou um episódio que ocorreu com ele, a caminho do estádio. Aconteceu quando ele estava junto da multidão, que empunhava bandeiras nos arredores da Avenida Beberibe. Um cidadão olhou assustado para a profusão de pessoas e perguntou ao meu amigo: "Visse, quanta gente! Vai ter jogo, é? O que é, Copa do Mundo?". Obviamente, o sujeito não acompanha futebol. Se um dia for a uma partida, ele há de perguntar quem é a bola. Mas, olhando toda aquela gente de olhos brilhantes que rumava para o Arruda, ele deduziu que se tratava de um campeonato importante. Copa do Mundo, pensou o cidadão!

Mas não era Copa do Mundo. Era jogo do Santa Cruz, o grande tricolor pernambucano, pela Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro. Isso mesmo: era um jogo do Santa Cruz, válido pela Série D. O leitor deve se perguntar, perplexo: 45 mil pessoas em um jogo da quarta divisão? Sim, amigos, isso mesmo. Toda aquela fluvial multidão segue apaixonadamente o tricolor pernambucano, onde ele for. O clube da cobra coral está três divisões abaixo de onde já esteve, mas o seu povo o ama, o empurra, e o segue sempre. A paixão pelo Santinha, o outrora Terror do Nordeste, é incondicional e eterna.

Empurrado pela massa fanática, o Santa Cruz começou no ataque. Os idiotas da objetividade afirmam que torcida não ganha jogo, mas ganha sim. O grito das arquibancadas empurrava o tricolor pernambucano para o triunfo. As melhores chances eram nas cobranças de falta, mas o goleiro do Central, Davi, estava em dia inspirado: não passava nem pensamento. Até que Leandro Gobatto mandou uma bomba, e o arqueiro Davi não alcançou a bola. Para desespero da multidão, a bola explode na trave. Era mesmo o dia de sorte do grande goleiro do Central.

Veio então o segundo tempo, e o domínio coral continuava. Mas Davi permanecia uma bastilha inexpugnável. E, em futebol, quem não faz... leva. Aos 27 minutos, Baiano cruzou e Guego marcou: Central 1 a 0. O sofrimento continuava, colorido em preto, branco e vermelho. Porém, nem torcida nem time desistiriam facilmente. Todos dariam sangue, suor e lágrimas por um resultado melhor. Aos 33, Neto Maranhão tem grande chance, mas mais uma vez pára em Davi. Aos 36, Juninho cruza e Reinaldo cabeceia para fora. Quem não faz... Baiano novamente cruza, e Dinda desvia para o gol: Central 2 a 0.

Alguns torcedores abandonaram o barco nessa hora. Não agüentaram tanta tristeza, e foram embora do Arruda. Mas a grande maioria continuou. Melhor: continuou incentivando. Eis a prova maior da paixão inexcedível da torcida coral.

Aos 41, Alexandre cobra falta e finalmente vence Davi, recolocando o Santa Cruz no jogo. Central 2 a 1 no placar. Quarenta e sete minutos: bate-e-rebate na área do Central. Então, acontece o milagre: Juninho chuta feericamente para o gol. Era o empate do Santa Cruz, no último minuto da batalha. Mais do que isso: era a doce recompensa que a torcida coral tanto merecia.

O Santa Cruz lidera o Grupo 4, com 4 pontos em 2 jogos, e saldo 5. A equipe volta a campo no sábado, dia 18, contra o Sergipe, em Aracaju. O Central está em segundo, também com 4 pontos, mas com apenas 3 gols de saldo. O próximo jogo é em casa, domingo, contra o CSA.

Torcida coral, continue assim. Vocês são os grandes personagens do Santa Cruz. Em 1975, o tricolor pernambucano eliminou o Palmeiras no Palestra Itália, desclassificou o Flamengo no Maracanã, e foi um dos quatro melhores clubes do país. Um dia, vocês reviverão os tempos de glórias. O Santinha há de voltar à primeira divisão, de onde nunca deveria ter saído. E os grandes heróis da ressurreição serão vocês. Repito: o Santa Cruz há de voltar.

PC

Vídeo dos melhores momentos do jogo, com imagens de Manoel Felipe e reportagem de Taluama Cabral:


FICHA TÉCNICA
Local: Estádio do Arruda, em Recife/PE.
Público: 45.007 pagantes.
Renda: R$ 184.810,00.
Santa Cruz: Gustavo; Parral (Gilberto), Leandro Camilo, Alex Xavier e Marquinhos (Rossini); Anderson, Alexandre Oliveira, Marcos Mendes e Leandro Gobatto (Neto Maranhão); Juninho e Reinaldo. Técnico: Sérgio China.
Central: Davi; Baiano, Sidney, Fernando Belém e Édson Leite (Rafael); Rodolfo Potiguar, Vagner Rosa, Cosme e Guego; Bibi (Laércio) e Wilton Pantera (Dinda). Técnico: Adelmo Soares.
Árbitro: Emerson Batista.
Cartões Amarelos: Marcos Mendes e Alex Xavier (Santa Cruz); Edson Leite, Vagner Rosa, Rodolfo Potiguar, Sidney e Davi (Central)
Cartões Vermelhos: Rodolfo Potiguar e Vagner Rosa (Central)
Gols, todos no segundo tempo: Guego [27'] e Dinda [38'] (Central); Alexandre [41'] e Juninho [47'] (Santa Cruz).

5 comentários:

  1. Estão de parabéns!!!
    Se a torcida do Flu fizesse isso sempre no Maraca, o time estaria em melhor situação.

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  2. Com o ingresso custando quatro reais... facilita.

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  3. Rodrigo,

    Vc acha que o Engenhão teria recebido 45 mil tricolores no domingo se o ingresso estivesse custando 4 reais?

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  4. olha a diferença do "momento" deles e o nosso, se o Flu estive com uma pequena chance na 3 divisão do carioca iria dar 40mil no maraca sim!! pelo menos eu ACHO
    abçs...sempre otimos textos

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