sábado, 18 de julho de 2009

O coitadinho de 2009

Um amigo meu, pó-de-arroz doente, faz o exagero melancólico: "O Fluminense é pior que o Tabajara!". Nem tanto, amigos, nem tanto. De fato, justiça se faça ao Tabajara: é o time mais vazado do mundo, mais vazado que o Bonsucesso. Seja como for, uma coisa é certa e serve de modesto consolo: há piores que o Fluminense. Por exemplo, os já citados Tabajara e Bonsucesso. Pena que estes não disputam o Campeonato Brasileiro.

O moral da torcida está abaixo de zero. Tão abaixo que, esses dias, gelei em Álvaro Chaves. Quem foi hoje ao Maracanã também gelou. Ao subir as rampas do Mário Filho, o sujeito via um deserto imenso e irremediável. Meia dúzia de gatos pingados. Ora, isso ocorreu porque as últimas atuações do "timinho" espavoriram a torcida. O pessoal está fugindo dos jogos. Eu mesmo não fui hoje, mas por uma justa causa: foi meu silencioso protesto contra o amadorismo da diretoria, que via a demissão de Parreira como a solução de todos os problemas. Não são apenas míopes os nossos diretores: são cegos, pior que isso, sofrem de uma cegueira irreversível.

Outro pó-de-arroz me rosnou ao ouvido: "coitadinho!". Referia-se ao nosso quadro. Eu compreendi o diminutivo apiedado. Eis a verdade: há certos estados em que o time deixa de irritar e enfurecer, e passa a suscitar tão-somente uma profunda compaixão. Pena mesmo. Mas eu confesso: prefiro a blasfêmia, a praga, o nome feio, a cólera, do que esse "coitadinho" quase terno e quase lírico, que ofende mais que uma cusparada.

Como eu ia dizendo: o meu personagem do sábado é, justamente, não um jogador, não um craque, mas um coitadinho. Enfrentaríamos o Goiás no Maracanã. À espera do jogo, num otimismo injustificável, eu esperava uma goleada tricolor. Já imaginava o espanto da cidade ao ver o Fluminense vencendo de banho. Mas há o jogo, e não infligimos banho nenhum. Nada disso. Ao terminar a primeira etapa da batalha, eu olhava o placar e não entendia o espetacular e ultrajante 0 x 0. Então, no meu espanto e no meu furor, já imaginava todas as hipóteses, até mesmo a da derrota tricolor. Mas começa o segundo tempo e enfiamos 1 x 0, com Ruy, logo no comecinho. Eufórico, liguei para o Alan, comemorei o gol, justifiquei minha ausência no Maracanã, e comecei a planejar nossa goleada. O Goiás iria se escancarar, e ganharíamos de banho!

Mas o Fluminense desperdiçou a chance de golear e, pior que isso, desperdiçou a chance de vencer. Com falhas grosseiras de marcação, dignas do Tabajara ou do Bonsucesso, fomos tomando um gol atrás do outro, e no fim das contas os goleados fomos nós: Goiás 4 a 1 em pleno Maracanã. Então, rompeu das raízes do meu ser uma pena infinita do time que já foi tanto e hoje é tão pouco. Eis a verdade, a pura e santa verdade: jamais o Fluminense foi tão coitadinho como hoje. Perdendo sua vez de golear e, pior, sendo goleado, o Tricolor surgiu como o indubitável, o inequívoco, o insofismável coitadinho de 2009. É certo que está na frente de outros, de muitos outros (de outras divisões). Mas um clube como o Fluminense, saturado de glória, coberto de títulos, entupido de triunfos, não pode andar atrás de ninguém. Teria que estar na frente, sempre na frente. E quando ele, acidentalmente, deixa de ser líder, então teremos todo o direito de apontá-lo como um coitadinho. É isso, amigos, é isso: o Fluminense é o coitadinho de 2009.

PC

* Inspiração na crônica "O coitadinho do ano", de Nelson Rodrigues, publicada na Manchete Esportiva de 11/10/1958.

5 comentários:

  1. O time jogou bem no primeiro tempo e teve um início de segundo tempo arrasador, fazendo o gol e desperdiçando a chance de golear, e depois...coitadinho, sumiu.

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  2. Comentários no orkut:

    http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5359850629693445334

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  3. Chutei que ganharíamos de 4x1
    Fui no maracanã com o pensamento "esse time perdeu pro avaí em casa,é a nossa grande chance"
    estava animado,e quando o ruy fez o gol achava que sairiamos com aquela magra goleada de 1x0,tolo,muito tolo eu fui.

    Ganhar o "Flu",como disse o pai para o filho,"isso nao é o Fluminense" está cada vez mais facil,basta apenas fazer uma leve pressão e apreciar o time bater cabeça e deixar que nós façamos o próprio serviço do adversário.

    O goiás veio para se defender,e assim permaneceu até o gol,só vejo um jeito de ganharmos desse tipo de time,cozinhar o jogo até os minutos finais para fazer o gol no ultimo minuto,tirando do adversário o tempo da reação.

    obs:eu acredito em milagres

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  4. Ola PC, esse post vai para de um torcedor ferido...

    Não ferido por mais uma derrota, não por mais uma vergonha no Maracanã...
    A vergonha remonta da aula esquecida, das lições que deveriam ser aprendidas no passado,nem me lembro quando começou, mas me lembro dos sucessivos rebaixamentos, que começaram nos bastidores, nas salas frias dos dirigentes e administradores de nosso futebol...
    Do fundo do coração, acho que ainda não aprendemos a lição de como se conduz um clube de futebol e um novo rebaixamento antes mais um ato vexatório para uma torcida que foi nota 1000 em 2008, provando que espetáculo podemos fazer nas arquibancadas porque vibração e amor temos de sobra, seria mais um lição que devemos aprender, quem sabe uma segunda época para nós, mas para quem dirige o clube, apenas mais uma lição não aprendida no destino do meu FLUMINENSE.

    Não me iludo se vier Renato Gaúcho ou um outro qualquer, porque os problemas ali estarão, ganharemos uns jogos, perderemos outros e espero que a escalada de goleadas de 4 diminuam, mas o que estão fazendo é escrever mais uma página negra na nossa historia.

    ST

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  5. Pena é o pior dos sentimentos. Belo texto, PC. É inaceitável ver o Fluminense Football Club nessa situação.

    ST

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