Por Carlos Alberto Parreira

"Aceito esse desafio pelo Fluminense. Sua grandeza, seu real propósito de se reorganizar, de comprovar que não há qualquer mácula na história em chegar a essa condição, desde que haja espírito para lutar e melhorar. Não faria isso por mais clube algum."

É com essa frase de Carlos Alberto Parreira, dita em 1999, quando ele aceitou ser o técnico do Fluminense na terceira divisão, que eu inicio a minha crônica de hoje. Escrevo motivado por opiniões que tenho escutado de torcedores tricolores, de que Parreira deveria ser demitido. Se fosse uma ou outra voz isolada, eu não daria atenção. Mas, de forma preocupante e perigosa, o coro começa a aumentar. E eu me sinto obrigado a responder.

No mês passado, publiquei aqui o excelente texto E Parreira chorou, do Marcelo Rezende, sobre a conquista do Campeonato Brasileiro de 1984. A quem não leu, aconselho que o faça: é de arrepiar, uma verdadeira lição que ensina a importância do pé-de-uva naquele título. O troféu de 84 é o mais importante dos últimos 30 anos no Fluminense. O simples fato de Parreira ter comandado a conquista já confere a ele o status de ídolo eterno. Sua participação no resgate do fundo do poço, em 1999, apenas fez aumentar a idolatria por ele. Amigos, se há um homem além de Preguinho que merece uma estátua ao lado da de Castilho em Laranjeiras, é Carlos Alberto Parreira.

Mas o pé-de-uva não se acomodou com a condição de ídolo pó-de-arroz. A Rua Álvaro Chaves é pequena para a magnitude de Parreira, de modo que ele conseguiu, em 1994, fazer toda a nação brasileira feliz. Com uma pressão de 24 anos sem conquistar a Copa do Mundo, a Seleção Brasileira conseguiu finalmente o tetra-campeonato. Há uns idiotas da objetividade por aí que espalham a mentira de que Romário ganhou a Copa sozinho. Eles parecem não saber que o futebol é um esporte coletivo, e que para a bola chegar ao Baixinho era necessária toda uma arrumação tática. Ainda mais no momento de entressafra que o futebol tupiniquim vivia, com poucos talentos na armação de jogadas no meio-campo. Quem mesmo organizou - brilhantemente - o escrete verde-amarelo? Ele, Carlos Alberto Parreira.

No início desse ano, escutei um pó-de-arroz dizer uma frase que merecia uma placa. "Todo tricolor deveria se benzer ao ouvir o nome de Carlos Alberto Parreira". Não sei o nome do autor da preciosidade, mas peço licença para ampliá-la: "Todo brasileiro deveria se benzer ao ouvir o nome de Carlos Alberto Parreira". Se não fosse pelo pé-de-uva, provavelmente estaríamos na fila até hoje. Imaginem, 39 anos sem conquistar a Copa do Mundo... insuportável, não?

A principal crítica atual a Parreira o chama de ultrapassado. Essa eu não consigo engolir. O pé-de-uva está presente em quase todos os eventos que discutem o futebol no país e, mais do que isso, é o organizador do principal deles. Parreira nunca se acomodou, jamais parou de estudar, sempre encarou desafios. Esse ano, quando assumiu o comando técnico tricolor, ele deixou bem claro que cobraria estrutura. Como craque que é, o pé-de-uva sabe que o futebol moderno também se ganha fora das quatro linhas. Estrutura, profissionalização, planejamento, trabalho de longo prazo - são essas as diretrizes do trabalho de Parreira. Torcida tricolor, por favor, não deixe que maus resultados temporários abalem esta receita de sucesso. O pé-de-uva merece nosso apoio. Todos nós sabemos disso.

Parreira é muito mais que um técnico. Especialmente para o Fluminense. Quem viveu 1984, sabe. Quem viveu 1999, sabe. Quem vive 2009, há de um dia reconhecer.

PC
(com colaboração de Diego Bellato e Marcelo Arantes)