Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1984.
Amigos, na primeira partida do triangular, vencemos o Vasco por 2 a 0, com gols de Romerito e Paulinho. Para o bicampeonato, bastava a vitória contra o Flamengo. E como o Maracanã estava bonito: mais de 150.000 pessoas se espremiam nas arquibancadas, gerais e cadeiras. De um lado, os flamenguistas, sedentos pela vingança do gol de Assis no ano passado. Do outro lado, a legião tricolor, esperançosa por mais um bicampeonato. Antes do apito inicial, os torcedores do pó-de-arroz provocavam: "Recordar é viver, o Assis acabou com você". Nem tricolores nem rubro-negros sabiam, mas aquele cântico referia-se não apenas ao passado, mas também ao futuro. Uma hora e meia mais tarde, a multidão descobriria o que já estava escrito há mais de seis mil anos.
A semana fora marcada pela troca de farpas entre os treinadores: Carlos Alberto Torres, do Fluminense, e Zagallo, do Flamengo. A cada entrevista, o Capita reafirmava sua confiança no timaço que dirigia, campeão brasileiro em maio. Ele parecia ter a certeza profética do triunfo. Já o Velho Lobo acreditava que a boa fase tricolor estava perto do fim. Os jornais cariocas se aproveitaram das discussões, e venderam exemplares aos borbotões.
José Roberto Wright apitou, e o clássico imortal começou. O Fluminense no princípio estava muito melhor, mas sempre errava no último passe. E assim a primeira grande chance acabou sendo do Flamengo: Paulo Victor saiu mal em cruzamento, mas Duílio salvou. Pouco depois, foi a vez de Washington cabecear livre, mas em cima do goleiro argentino Fillol. Taticamente, a melhor opção do Fluminense eram as jogadas de Aldo pela direita. Porém, as subidas do lateral tricolor abriam perigosos espaços, que o Flamengo tentava aproveitar com Andrade, caindo pela esquerda. Antes ainda do intervalo, Washington, com uma bicicleta quase da linha de fundo, por pouco não encobriu Fillol. E o primeiro tempo terminou mesmo 0 a 0.
Veio o segundo tempo, e com ele toda a dramaticidade que acompanha um Fla-Flu decisivo. O Flamengo começou melhor, mas não conseguia finalizar. E assim a primeira grande chance acabou sendo do Fluminense: Assis só consegue raspar a cabeça em bola centrada por Aldo. Fla-Flu é lá-e-cá, e logo o Flamengo respondeu com Elder. Paulo Victor, em grande dia, saiu na hora certa e abafou o chute do atacante rubro-negro.
Repito: Fla-Flu é lá-e-cá, e assim veio o Fluminense. Romerito cruzou, e Assis cabeceou para baixo, como manda a cartilha: defesaça de Fillol. No escanteio, quase gol olímpico: a bola bate no travessão. Persistia o dramático 0 a 0 no placar. Era a vez rubro-negra, e veio o Flamengo, com Tita: defesa espetacular de Paulo Victor, em uma das melhores atuações de sua carreira.
Aos trinta minutos do segundo tempo, acontece a jogada que ficou, fica e ficará na memória de todos os presentes. Renê tem a bola pela direita, e Aldo passa como um foguete. Na hora certa, Renê enfia a bola. O cruzamento de Aldo é perfeito. A cabeçada de Assis é inapelável. Fillol observa, imóvel: a bola entra no ângulo esquerdo do arco defendido pelo argentino. Está inaugurada a estátua de Fillol na pequena área do Maracanã. E começa a festa do pó-de-arroz para os 70 mil tricolores presentes. Assis de novo, como em 1983! Era difícil acreditar naquela realidade, que parecia sonho!
Os últimos quinze minutos foram um drama à parte. O Flamengo, sem outra alternativa, lançou-se todo para o ataque. O Fluminense se segurava como podia. Na massa rubro-negra, choravam-se as lágrimas do desespero. A torcida tricolor chorava também, mas eram as lágrimas da felicidade. Que explodiram de vez quando José Roberto Wright apitou o final do jogo.
Cabe relembrar um decisivo episódio pré-jogo: a entrevista de Fillol. O arqueiro argentino menosprezou Raul, seu antecessor na camisa 1 rubro-negra. Afirmou que, se fosse ele a defender o arco rubro-negro ano passado, o antológico gol de Assis não teria acontecido. "Falar é fácil, mas na hora de ir lá defender ele não conseguiu", vibrou Assis, definitivamente consagrado como o Carrasco do Flamengo.
Os sábios dizem: "se tiver que ser assim, assim será". Os tricolores adaptam: "se tiver que ser Assis, Assis será". Fluminense, bicampeão estadual em 1984. Vamos tratar do tri!
PC
Vídeo do gol de Assis:
Ficha técnica: Fluminense 1 x 0 Flamengo.
Decisão do Campeonato Carioca de 1984.
Data: 16/12/1984.
Local: Maracanã.
Fluminense: Paulo Victor; Aldo, Duílio, Vica e Renato Martins; Leomir, Renê e Assis; Romerito, Washington e Tato. Técnico: Carlos Alberto Torres.
Flamengo: Fillol; Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Tita; Bebeto, Nunes e Elder. Técnico: Zagallo.
Árbitro: José Roberto Wright.
Gol: Assis, aos 30 minutos do segundo tempo.
Público: 153.520 pagantes.
Renda: CR$ 788.175.000,00.
Agradecimentos aos amigos:
- Fernando Afonso e Fernando Aster, pelos testemunhos de quem estava lá naquele dia.
- Luisinho, do Flumemória, pela ajuda na pesquisa do acervo.
Foto extra: Assis comemora!
A capa da Revista Placar!
Fontes de pesquisa:
Comentários no Orkut.
ResponderExcluirEspetacular!
ResponderExcluir"Está inaugurada a estátua de Fillol na pequena área do Maracanã."
ResponderExcluir"Se tiver que ser Assis, Assis será", e foi, duas vezes!!!
tinha 16 anos agora tenho 50 ate hoje guardo memoria daquele nense 1 mengo 0 sempre nense no coração assis , assis assis
ResponderExcluir:-)
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse era o verdadeiro Fluzão time forte rápido técnico e guerreiro quantas saudades do meu maior ídolo Assis
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