terça-feira, 6 de outubro de 2009

Por um Maracanã melhor


Amigos, vocês sabem que sou frequentador assíduo do Estádio Mário Filho. Estou lá em quase todos os jogos do Fluminense e da Seleção Brasileira. E às vezes vou a jogos de outras equipes, a convite de bons amigos. E, uma vez, fui até a um show de música.

Costumo dizer que o Maracanã é a minha segunda casa. E realmente me sinto como se estivesse em meu lar, quando estou no Maior do Mundo. Quantas emoções eu vivi naquelas arquibancadas...

Por ser um consumidor fiel dos eventos do Maracanã, me considero em plenas condições de apontar o que está certo e o que está errado no estádio. E é disso que tratará este texto. Infelizmente, há muitos itens errados. Mas a hora de corrigi-los é agora, com a reforma que se aproxima.

O primeiro erro grave é a venda de ingressos sem distinção de setor. Como nem todos os leitores estão habituados aos setores do Maracanã, farei uma breve explicação. Nos jogos atuais, há 4 tipos de ingresso disponíveis para o torcedor comum: cadeira especial, arquibancada branca, arquibancada verde ou amarela, e cadeira comum.

Os ingressos de cadeira especial, os mais caros, dão acesso às cadeiras azuis/vermelhas que ficam acima das cabines de rádio. A visão é a mesma que se tem das arquibancadas, mas os assentos e serviços são melhores (pelo menos é o que me dizem, eu nunca fui lá). Neste setor, costumam assistir aos jogos pessoas com cargos importantes, ricos, famosos, e convidados.

Os ingressos de cadeira comum, os mais baratos, dão acesso às cadeiras azuis do anel inferior, próximo ao gramado. Neste setor, costumam assistir aos jogos as famílias, e aquelas figuraças que frequentavam a antiga geral. Se você quer ser ouvido ou visto pelos jogadores, é o lugar para ir. Vale ressaltar que o ingresso de cadeira comum dá o direito a ocupar qualquer cadeira do anel inferior, à exceção das cadeiras cativas (mantidas com mensalidade).

Falta falar dos ingressos das arquibancadas. Fisicamente, elas são divididas em cinco setores: verde A, amarela A (setores à esquerda das cabines de rádio), branca (setor central), verde B e amarela B (setores à direita das cabines de rádio). Porém, há apenas duas distinções de setor na venda do ingresso: branca (mais caro) e verde/amarela (mais barato). A maior parte do público assiste ao jogo nas arquibancadas (são cerca de 45.000 lugares), e é exatamente nele que reside o principal problema da venda de ingressos sem distinção de setor. Hoje, funciona assim: um ingresso de arquibancada branca dá acesso a todo o anel superior (exceto cadeiras especiais, claro). Um portador de ingresso de branca pode assistir ao jogo nas arquibancadas verdes ou amarelas, se assim quiser. O ingresso de verde/amarela somente dá acesso aos setores verde e amarelo.

Nessa diferença entre os setores e os ingressos, está o problema que quero descrever. É um assunto muito sério, pois se trata da segurança dos torcedores. Essa possibilidade de um ingresso de um setor permitir a entrada em outro setor causa o problema da superlotação em determinados setores. Darei dois exemplos de jogos em que eu estive presente.

No jogo Fluminense 3 x 1 Boca Juniors-ARG, em 2008, toda a carga de ingressos foi vendida (cerca de 79.000 entradas). Porém, viam-se algumas cadeiras brancas desocupadas. Onde estavam os portadores daqueles ingressos? Obviamente, nas arquibancadas verdes e amarelas, já que seu ingresso lhes permitiu isso. A cultura do torcedor brasileiro é acompanhar o jogo perto das baterias das torcidas organizadas e movimentos populares, que ficam nas arquibancadas verdes e amarelas. No caso desse jogo, particularmente, houve uma superlotação nos setores verde A e amarela A, à esquerda das cabines de rádio. Superlotação que pode e deve ser evitada, por motivos óbvios. É bom lembrar que já aconteceu uma tragédia no Maracanã devido a superlotação, com o desabamento de parte da arquibancada no jogo Flamengo 2 x 2 Botafogo, em 1992.

O segundo exemplo é o Fla-Flu do último domingo. Por motivos óbvios (vide a tabela do campeonato), a torcida do Flamengo estava muito mais motivada para o clássico que a torcida do Fluminense. Todos os 78.409 ingressos foram vendidos. Dos 43.000 bilhetes de arquibancada, estimo que 35.000 estavam com rubro-negros, e 8.000 com tricolores. Evidentemente, os setores verde A e amarela A, destinados à torcida flamenguista, estavam superlotados. O setor branco também estava superlotado, uma vez que os rubro-negros excedentes não podiam entrar nos setores verde B e amarela B, destinados à torcida tricolor. Estes setores, obviamente, estavam com ocupação bem abaixo da máxima. Enquanto isso, nos outros setores os flamenguistas se apertavam, numa perigosa superlotação.

A solução para o problema é óbvia: compatibilizar a venda de ingressos com os setores reais. Ingresso "verde A" só entra no setor "verde A", ingresso "amarela B" só entra no setor "amarela B", e assim por diante. Não é tão difícil de implementar. Pela segurança dos torcedores, precisa ser feito. Apesar de a imprensa não escrever nada sobre o assunto, espero que minha voz seja ouvida. A torcida carioca agradece.

O texto já está grande demais, então só falarei, brevemente, de mais um outro problema de fácil solução: o escoamento do público. Por que cargas d'água as pessoas não podem mais sair das arquibancadas pela parte superior? A saída unicamente pela parte inferior causa um "engarrafamento" de pessoas nos corredores inferiores, o que atrasa a evacuação do público, e cria um ambiente propício a tumultos. A solução mais óbvia é voltar a abrir os acessos da parte superior das arquibancadas.

Leitores, sintam-se à vontade para propor nos comentários as suas melhorias para o Maracanã.

PC

Foto do Maracanã na noite de 2 de julho de 2008, por ocasião do jogo Fluminense 3 x 1 LDU (final da Libertadores da América)

Maquete virtual do Maracanã presente no projeto para a Copa de 2014.

9 comentários:

  1. Boa PC!!! Realmente isso já deveria ter sido feito a muito tempo. A saída do torcedor também deveria voltar a ser feita pela parte superior da arquibancada [ que na minha opinião é muito melhor e mais rápida [ Dizem que com a reforma isso seria feito novamente porque os camarotes desceriam para perto das cabines de rário/tv ]. A venda de ingressos também deveria ser direcionada para a carga de torcedores. Se for um clássico, " metade " para cada um. Comprou tudo da sua metade comprou, não comprou que compre ou vai ficar lugar vazio.

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  2. Essa questão da super lotação dos setores é crítica. A suderj não quer nem saber, mas é a segurança do torcedor que está em jogo.

    A questão do escoamento é crucial tbm...qualquer joguinho com mais de 20 mil ingressos vendidos já é uma droga pra sair, jogos de Libertadores então...

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  3. " A solução para o problema é óbvia: compatibilizar a venda de ingressos com os setores reais. Ingresso "verde A" só entra no setor "verde A", ingresso "amarela B" só entra no setor "amarela B", e assim por diante. "

    hahaha é engraçado, a gente tem que ensinar o óbvio às autoridades!

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  4. É isso mesmo Beatriz, as autoridades não enxergam o óbvio. Por isso mesmo acho que as melhorias com Copa e Olimpíada devem ser bastante limitadas.

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  5. o problema PC, é vc ter que assistir aos jogos, junto a torcida adversária, se vender por setor, e isso for respeitado, eu vou me ver torcendo num Fra x Flu, ao lado de um framenguista ! rs

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  6. Obrigado a todos pelos comentários!

    Não, Markinho, cada setor é para um clube. Não misturaria as torcidas.

    (inclusive sou favorável a "setorizar" a arquiba branca e as cadeiras também)

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  7. Isso de setorizar a arquibancada branca e as cadeiras interessante mesmo. Quem pensa que o clima é totalmente pacífico pq não há organizadas tá redondamente enganado. Assistir clássico na branca é horrível.

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  8. http://www.forummanchaverde.com.br/viewtopic.php?f=3&t=1906

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  9. Esse post foi citado no fórum da Mancha Verde: aqui.

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