Rosário, Argentina, 19 de dezembro de 1995.
Esta história começou há uma semana, em Belo Horizonte. Em uma exibição irretocável, o Clube Atlético Mineiro venceu o Rosário Central por 4 a 0, na primeira partida da final da Copa Conmebol. Aos gritos de É campeão!, o Galo comemorava antecipadamente mais uma taça conquistada.
Afinal, quem acreditaria numa reação do Rosário Central? Quem acreditaria na retirada de quatro gols de diferença?
Eles acreditaram.
O Gigante de Arroyito estava lotado: 40 mil fanáticos não haviam abandonado o Rosário Central. Eles não haviam desistido da Copa Conmebol.
Sem afobação, a equipe argentina trabalhava a bola, esperando o momento certo de atacar. Aos 22 minutos, após jogada pela direita, surgiu a primeira chance, que o uruguaio Rubén da Silva converteu. Rosário Central 1 a 0, mas ainda perdendo de 4 a 1 na soma dos placares. O título ainda era uma utopia.
Aos 38, o árbitro assinalou uma falta para o Rosário Central, na intermediária ofensiva. O zagueirão Horacio Carbonari mandou a bomba, e Taffarel não conseguiu defender. Era o segundo gol dos argentinos. Entretanto, o título ainda era um milagre.
Na briga desnecessária pela bola no fundo da rede, Paulo Roberto e Federico Lussenhoff foram expulsos. A tarefa ingrata agora só poderia ser realizada por dez homens. Porém, o ânimo seria retomado imediatamente. Logo na saída de bola, os defensores do Atlético Mineiro se enrolaram, e o Rosário Central retomou a bola. Após precisa troca de passes, a pelota sobrou nos pés de Martín Cardetti, dentro da área. Ele chutou com categoria, e venceu Taffarel. Rosário Central 3, Atlético Mineiro 0. O sonho do título já passava a ser palpável. Afinal, mais um golzinho e teríamos o empate!
Nas arquibancadas do Gigante de Arroyito, os 40 mil fanáticos estavam em êxtase. Durante a semana inteira, eles haviam sido a piada dos jornais argentinos. Ninguém acreditava no Rosário Central, ninguém! A taça internacional era algo intocável, intangível, impossível. Mas eles não desistiram. E naquele instante do terceiro gol, o futebol mostrava ao mundo que eles estavam certos.
No intervalo, os jogadores de ambos os times foram descansar nos vestiários. Mas os torcedores não pararam: a cantoria continuou durante os vinte minutos de intervalo. O objetivo era mostrar aos jogadores que, sim, a torcida estava com eles. Até o fim.
No segundo tempo, o Atlético Mineiro apelou para a cera. Cada bola demorava séculos para ser reposta. A arbitragem não coibia. O desespero tomava conta do Gigante de Arroyito. Aquela glória impossível estava a um passo de ser conquistada. Mas como era difícil dar esse último passo. Cada chute perigoso era defendido com segurança por Taffarel. Cada bola alçada na área era isolada pelos zagueiros brasileiros.
Aos 44 minutos do segundo tempo, o Rosário Central conseguiu um escanteio. Poderia ser a última grande chance. Após a cobrança curta, a bola foi mais uma vez levantada na área. E Horacio Carbonari estava lá, para desferir a cabeçada fatal. O impossível acabava de se tornar realidade: Rosário Central 4, Atlético Mineiro 0. O confronto final da Copa Conmebol estava empatado!
Os jogadores do Rosário Central haviam demonstrado, durante noventa minutos, uma garra e uma vontade inexcedíveis. Porém, nada estava ganho. Ainda haveria a crueldade da disputa de pênaltis, para um time fisicamente esgotado. No arco brasileiro, estava Taffarel, conhecido como um dos melhores defensores de pênalti do futebol mundial. Em 1994, ele defendera a cobrança de Massaro, na conquista da Copa do Mundo pelo Brasil.
Na primeira cobrança, o atleticano Doriva chutou por cima. Na sequência, Omar Palma bateu forte, para fazer Rosário 1 a 0. Logo depois, o brasileiro Leandro também desperdiçou sua cobrança, chutando na trave esquerda do goleiro Roberto Bonano. Na sequência, Pobersnik converteu: Rosário 2 a 0. O brasileiro Ronaldo cobrou forte, no meio do gol: 2 a 1. Carbonari e Taffarel também converteram suas cobranças: 3 a 2. Colusso tinha a chance de acabar com a disputa, mas Taffarel defendeu, para prolongar o sofrimento argentino. Euller empatou: 3 a 3. Mas o Rosário Central ainda tinha a chance de encerrar a disputa, e esta estava nos pés de Rubén da Silva. O mesmo homem que havia iniciado o milagre de Rosário tinha a chance de finalizá-lo. E ele o fez. O Rosário Central é o campeão da Copa Conmebol de 1995.
Lutem até o fim.
O impossível não existe.
Essa é mais uma história que prova que nada é impossível, muito menos no futebol, e muito menos ainda pro Fluzão!
ResponderExcluirPra cima dos putos da ldu!
Comentários no orkut.
ResponderExcluirBelíssimo texto. O Rosário fez o que o Flu tem que fazer hoje, impor a sua superioridade técnica sem afobação.
ResponderExcluirComo dizia Mohammed Ali, "The will must be greater than the skill". Grande inspiração.
ResponderExcluirComentários no Pavilhão Tricolor:
ResponderExcluir1 Quarta, 02 Dezembro 2009 07:14 Eduardo da Silva Manfredo
Dá para ganhar, mas é difícil.
Que tenhamos sorte e a LDU muito azar.
2 Quarta, 02 Dezembro 2009 12:09 Marco Aquino
O Fluminense está reescrevendo a matemática burra dos números no futebol.
Hoje teremos o último capítulo da novela "A Destruição da Lógica".
Domingo será o último da novela "Quem compra um matemático por R$1,99?"
ST
3 Quarta, 02 Dezembro 2009 13:24 Marcelo Natarelli
Em 13 de setembro, após longo tempo sem assistir a qualquer jogo do Flu - mesmo pela TV, resolvi ir ao Engenhão com minhas filhas e alguns amigos
(Tricolores e Botafoguenses) assistir ao "jogo dos desesperados". O que presenciei naquele dia foi um futebol medíocre, apático, beirando ao rídiculo e na
falta de uma palavra melhor: porco, de ambas as equipes. Estava então convencido de que era sábia minha decisão de não acompanhar nenhum jogo.
Ocorre que como diz Nelson Rodrigues: "Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual
não se pode - e nem se deseja - fugir.". Assim estava eu, mais de um mês depois, no Maracanã em 29 de outubro para assistir a partida Fluminense x Atlético MG,
acompanhado de um amigo Atleticano e um Vascaino, e diga-se de passagem ouvindo calado as piadas da morte do meu Tricolor.
Bem, naquele dia vi o início do MILAGRE, e a química de quem tem o sangue repleto de verde, grená e branco fez com que eu tivesse a certeza, e acho que também
dos outros 12 mil que lá estavam, que estavamos diante do POSSÍVEL. Que naquele dia começava o momento mais fascinante do maior espetáculo da Terra.
Vimos lutadores, guerreiros na arena, que a cada passe, a cada lance fazia o coração descompasar, a nuca arrepiar e a garganta secar, até o instante mágico do GOL.
Sem vergonha nenhuma, digo que naquele dia chorei.
Mas acontecia um outro espetáculo também. E lá estava ela, nas verdes e nas amarelas, cantando, gritando, fazendo a festa que encanta milhões.
Estava lá, sem se intimidar, aquela que nunca perdeu a FÉ, aquela que teve a dignidade de receber heróis derrotados, aquela que hoje em nome dessa FÉ
faz o MILAGRE acontecer: a TORCIDA TRICOLOR.
Por isso haja o que houver hoje, o time de guerreiros deve ser aplaudido de pé e ouvacionado pela força, pela garra, pelas batalhas vencidas em nome dessa arte
chamada FUTEBOL.
Graças a Deus sou Tricolor.
ST