Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968.
Amigos, os idiotas da objetividade rosnam: Foi roubado! Foi roubado! O Flamengo foi roubado!. Eles escolhem ignorar os fatos: o Fluminense foi melhor, muito melhor. E venceria com ou sem ajuda da arbitragem. Ganharia até mesmo se fosse ele próprio roubado.
Vamos à descrição do polêmico lance que eternizou o Fla-Flu do Campeonato Brasileiro de 1968. Eram decorridos treze minutos do primeiro tempo. O ponta-direita tricolor Wilton, arisco e velocíssimo, recebeu um lançamento em profundidade. Ao descrever Wilton, o Profeta sempre afirmava: o garoto corre mais do que um coelhinho de desenho animado. E corre mesmo, tanto que conseguiu ultrapassar seu marcador, em sua velocidade fulminante. Por um capricho do destino, Marco Aurélio, o arqueiro rubro-negro, saíra bem do gol, e agarraria a bola com tranquilidade.
Foi então que Wilton utilizou o único recurso possível: usou a mão para tirar a bola do alcance de Marco Aurélio. Perfeito lance de basquete!, diria o Profeta. Armando Marques, o melhor árbitro brasileiro, não viu. E então o extrema tricolor pôde, com sublime descaro, enfiar a bola nas redes flamengas. Fluminense 1 a 0.
Um amigo rubro-negro amplia o erro da arbitragem: Ele estava impedido! Impedido!. Somos obrigados a concordar: Wilton estava impedido. Uma banheira digna de Cleópatra!, como diria o Profeta. Gol de mão, e em impedimento. O tento decisivo do Fla-Flu é talvez o mais ilegal da história passada, presente e futura do Maracanã.
Os flamenguistas não se conformam: como pode Armando Marques, com aquele gordo salário, ser tão míope a ponto de não enxergar uma evidência tão estarrecedora? Revoltados, eles insinuam duas hipóteses estapafúrdias: má-fé ou incompetência. Prefiro a versão do Profeta: a boa-fé e a competência de Armando Marques estão acima de qualquer dúvida. Somente uma coisa o justifica e absolve: a invisibilidade do óbvio. Ninguém enxerga o óbvio. Nem mesmo o melhor árbitro brasileiro.
PC
(Singela homenagem deste escriba a Wilton César Xavier, um dos jogadores mais vitoriosos da história do Fluminense. Pelo Tricolor, Wilton conquistou o Campeonato Brasileiro de 1970, os Campeonatos Cariocas de 1969, 1971, 1973 e 1975, e as Taças Guanabara de 1969 e 1971. Em 194 jogos envergando a camisa do Fluminense, Wilton venceu 106, empatou 43 e perdeu 45. Marcou 19 gols, dentre eles o famoso "gol de mão" aqui descrito. Defendeu também São Paulo, Santa Cruz, Coritiba e Vitória, e chegou a trabalhar como treinador do Volta Redonda. Wilton faleceu neste último domingo, aos 62 anos. O Fluminense celeste ganha um reforço de peso.)
Ficha Técnica: Fluminense 1 x 0 Flamengo.
Campeonato Brasileiro de 1968.
Data: 13/10/1968.
Local: Maracanã (Rio de Janeiro).
Público: 43.772 presentes (29.558 pagantes).
Renda: NCr$ 72.992,25.
Fluminense: Félix; Nélio, Galhardo, Assis e Altair; Cláudio Garcia e Suingue; Wilton, Aguinaldo (Salvador), Samarone (Lula) e Serginho. Técnico: Evaristo de Macedo.
Flamengo: Marco Aurélio; Murilo, Onça, Guilherme e Tinho; Carlinhos (Cardosinho) e Liminha; Gilbert (Neviton), Fio, Silva e Arilson. Técnico: Walter Miraglia.
Árbitro: Armando Marques.
Gol: Wilton, aos 13' do primeiro tempo.
Fontes de pesquisa:
[1] "A invisibilidade do óbvio" (Nelson Rodrigues, O Globo, 26/10/1968).
Esse lance deve ter sido hilário...
ResponderExcluirComentários no orkut.
ResponderExcluirGol irregular contra o Flamengo vale por dois.
ResponderExcluir1 Terça, 15 Dezembro 2009 01:51 Bruno Leonardo
ResponderExcluirAcho que o Wilton falhou no lance, porque ele deveria ter sido ainda mais acintoso ao tocar na bola com a mão!
Ao craque Wilton, o meu mais sincero agradecimento por ter honrado tanto o manto tricolor! Que descanse em paz!
2 Quarta, 16 Dezembro 2009 08:49 Marco Aquino
ResponderExcluirÉ rapaziada, eu estava lá.
Foi um lançamento longo, e na dividida com o goleiro do Flamengo, ele deu um tapa na bola, desviando a trajetória e então tocou para o gol, sem comemorar.
Depois que ele viu o juiz apontando para o meio de campo é que o Wilton comemorou.
Uma curiosidade no time do Flamengo. O Neviton deveria se chamar Newton, e para registrá-lo, o pai levou o nome anotado e deu o a anotação para o cartório. O que era um W se tornou um VI.
O time do pai do Neviton eu não sei, já o time do cara do cartório não é difícil deduzir...
ResponderExcluirmeu avô, grande homem, grande jogador, muitas saudades, descanse em paz
ResponderExcluirFelipe, tenha muito orgulho do teu avô. Foi um dos grandes da história do Fluminense, o que não é pouco.
ExcluirPois se tivesse sido ao contrário... tavam chorando até hoje.
ResponderExcluirVocê escreve isso como se vocês não "chorassem" esse lance do Wilton até hoje... rsrsrsrs...
ExcluirGrande Wilton! Vibrei muito com suas atuações pelo Fluminense. E mais: ele e Cafuringa, que Deus os tenha, revezavam-se como titular como faziam Tato e Paulinho. Eles eram excelentes jogadores!
ResponderExcluirDois craques históricos do Fluminense: Wilton e Cafuringa. Campeoníssimos!
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ResponderExcluirEsta crônica é do incomparável Nelson Rodrigues. Nesse dia13/10/1968, cheguei em casa e assisti a Resenha Facit, com Nelson, Scassa( o rubro-negro furioso), Armando Marques e outros. Bom demais!
ResponderExcluirEsta crônica não é do Nelson, não. É minha mesmo. :)
ExcluirPrezado amigo PC bom dia
ResponderExcluirVocê tem o poster do Fluminense deste jogo? Bem a minha pergunta é pelo fato de que encontrei um poster como sendo deste jogo, aí como é de praxe fui confrontar os jogadores que estão na foto e os que constam na ficha técnica. Tudo bateu com exceção de um atleta. Na foto está o jogador Salvador, só que na ficha técnica consta como titular o jogador Aguinaldo. Você pode esclarecer isso pra mim? Visto que você tem todas informações a respeito do futebol brasileiro. Fico no aguardo. Meu e-mail é: lourencocamelo1@hotmail.com Um abraço. Lourenço Camelo
amigo, nestte jogo que foi o titular foi o Agnaldo,o Salvador estava machucado.
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ResponderExcluirBelo texto. Apesar de discordar de alguns exageros (sou rubro-negro) ele me fez lembrar daqueles tempos em que o futebol era retratado pela imprensa de uma forma mais poética. Nelson Rodrigues o assinaria, com certeza. Uma correção apenas: eu estava atrás do gol, e assiti a este sonolento jogo com a sensação de que, se não fosse a mão do Wilton, terminaria 0x0. Os dois times estavam mal na tabela e terminaram em 6o. (Flu) e 8o. lugar (Fla) em seus grupos...
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