Meu personagem da semana: Neymar

Amigos, depois do jogo Santos x Guarani, seria um crime não fazer de Neymar o meu personagem da semana. Grande figura, que a imprensa espanhola tem chamado de "o Messi brasileiro". Examino a ficha de Neymar e tomo um susto: 18 anos recém-completados! Quem vê uma atuação de Neymar é capaz de jurar, de pés juntos, que o garoto possui bem mais do que dezoito anos. E no entanto lá está, na ficha, a data de nascimento: 5 de fevereiro de 1992.

Verdadeiro garoto, o meu personagem anda e corre em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Não é Pelé, mas parece um rei, de cujo peito pendem mantos invisíveis. Ponham Neymar em qualquer rancho, e sua majestade dinástica ofuscará toda a corte ao redor.

O que estou chamando de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. Neymar leva sobre todos os outros jogadores uma vantagem considerável: a de se sentir rei, da cabeça aos sapatos. Quando ele apanha a bola e dribla um oponente, é como se estivesse escorraçando um plebeu ignaro e piolhento. O craque prodígio parte para cima mesmo, não quer saber quem está à sua frente.

Vejam o que ele fez, quarta-feira, no já referido Santos x Guarani. Enfiou, quase sempre pelo próprio esforço pessoal, cinco gols no goleiro bugrino. Sozinho, Neymar liquidou a partida, liquidou o Guarani, monopolizou o placar. Um torcedor do Guarani, na Vila Belmiro, chorava de desespero: "vá jogar assim no diabo que o carregue!", vociferou ele.

O primeiro gol de Neymar contra o Guarani foi de pênalti. Mas até um pênalti Neymar consegue transformar em pintura. A paradinha do garoto é até desmoralizante. O goleiro sempre cai, irremediavelmente batido.

O que dizer do segundo gol? Neymar recebe a bola, olha para frente, e vê um caminho entupido de adversários. Mesmo assim, resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. O terceiro chega a encostar na bola, mas também fica pelo caminho. A finalização de canhota é a suprema humilhação do goleiro derrotado. Sem precisar da ajuda de ninguém, Neymar promoveu a minuciosa e sádica destruição da defesa bugrina.

Após um gol de Robinho, continuou o show de nossa majestade. Arouca tabelou com Ganso, e deixou o garoto sozinho, com os sete metros do arco escancarados à sua frente. Era o terceiro gol de Neymar. E estávamos ainda no primeiro tempo.

Começa o segundo tempo, e Neymar continua impossível. Ele invade a área, dribla, e é derrubado. Para interromper o garoto, só mesmo à base dos pontapés. Pênalti que o novíssimo rei prefere não cobrar, deixa para o companheiro Marcel. Logo depois, Robinho ainda fez mais um, de cabeça, após passe de Marquinhos. Depois, Moreno descontou para o Guarani, de falta. Seis a um. Mas Neymar ainda não estava satisfeito. Em uma demonstração de supremo respeito ao adversário, Neymar nunca tira o pé, nunca descansa.

O quarto gol de Neymar foi de uma categoria inexcedível. O goleiro e o zagueiro marcando de pertinho, em vão. Um chute sutil, e a humilhação da rede estufada. Logo depois, o quinto gol do craque, em assistência de Robinho. Santos oito, Guarani um, Neymar cinco.

Amigos, para ter atuações assim, não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso ter algo mais, essa plenitude de confiança, de certeza, de otimismo, que faz de Neymar o craque imbatível. Eis a maior virtude de Neymar: a absoluta falta de modéstia. Põe-se acima de tudo e de todos, e dessa forma intimida até a própria bola. Sim, a bola vem lamber-lhe as chuteiras, como uma cadelinha amolecida.

Até os paralelepípedos brasileiros e sul-africanos já sabem que Neymar é imprescindível na formação de qualquer Seleção. Na África do Sul, o garoto não tremerá para ninguém. Ponham na sua frente um marfinense de dois metros, o Cristiano Ronaldo, ou o próprio Messi, e Neymar olhará de cima para baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. O Brasil precisa disso, dessa atitude viril e insolente. Neymar acha que, perto dele, todos os outros são verdadeiros pernas-de-pau.

Com Neymar no time, os outros escretes tremerão diante de nós.

PC

(como sempre, com trechos inspirados em Nelson Rodrigues)