La Plata, 8 de julho de 1983.
Amigos, eis o cenário daquela noite de inverno: o Grêmio de Porto Alegre e o Estudiantes de La Plata brigariam por uma vaga na final da Taça Libertadores da América. Os argentinos jogavam em casa, e o empate lhes era favorável (bastaria vencer o eliminado América de Cáli na última rodada*). Ao clube gaúcho, a vitória era suficiente para a classificação, o empate o deixaria na dependência do outro jogo, e a derrota seria a eliminação.
Existe um ditado futebolístico que percorre a América do Sul desde sempre: "Libertadores é guerra". Nunca essa afirmação foi tão verdadeira quanto naquele dia 8 de julho. Circulara a notícia de que o Brasil estaria ajudando a Inglaterra na Guerra das Malvinas, contra a Argentina. Os relatos eram de que o Brasil havia permitido o pouso de aviões ingleses na base de Canoas. Esse simples boato transformou os gremistas em inimigos de guerra, literalmente, para os jogadores do Estudiantes.
O Estádio Jorge Luis Hirschi estava lotado: 30.000 fanáticos argentinos estavam dispostos a vencer ou morrer. Quando a delegação gremista chegou ao acanhado campo, seu ônibus foi alvo de vários paus e pedras. Renato, Tita, De León e companhia entraram, sem querer, na Guerra das Malvinas. A atmosfera em La Plata era verdadeiramente assustadora.
Em campo, não foi diferente. O gramado daquele estádio testemunhava cusparadas e ameaças antes mesmo de a bola rolar. Havia tanta confusão que o juiz uruguaio Luis de La Rosa deu um cartão amarelo para o argentino Trobbiani, antes ainda de o jogo começar! O clima de guerra era tão assustador que o árbitro originalmente designado, Martinez Basan, desistiu de apitar a partida, sendo substituído às pressas por La Rosa.
O primeiro tempo transcorreu bem até os 33 minutos. Então, ocorreu a primeira confusão. O gremista China cometeu falta em Trobbiani que, irritadíssimo, revidou com um chute. O hermano já tinha cartão amarelo (pré-jogo), e foi assim expulso por La Rosa. Após cinco minutos de tumulto e empurra-empurra, o árbitro mostrou mais um cartão vermelho: para Ponce, também do Estudiantes. Os argentinos teriam que jogar com dois a menos. Porém, a desvantagem foi amenizada na cobrança da falta: Sabella alçou na área, e Gurrieri aproveitou a sobra e fuzilou de canhota, sem chances para Mazarópi. Estudiantes 1 a 0!
Ainda no primeiro tempo, aos 44 minutos, o Grêmio se aproveitou do fato de ter dois jogadores a mais, e empatou com Osvaldo, em chute cruzado da esquerda. Não houve tempo para comemorar: no túnel até o vestiário, o atacante Caio fraturou a tíbia após uma agressão covarde.
Com César no lugar de Caio, o Grêmio voltou do intervalo disposto a decidir o jogo, se aproveitando da vantagem numérica. Aos oito minutos, Renato cruzou da direita e o próprio César marcou: Grêmio 2 a 1. Aos 18, Renato fez grande jogada pela direita, deixou três adversários no chão, e marcou o terceiro gol gremista: 3 a 1.
Se o jogo já estava fácil para o Grêmio, ficou ainda mais depois da terceira expulsão do Estudiantes: Camino levou o cartão vermelho após confusão aos 24 minutos. Dessa vez, o tumulto se iniciara devido a uma pedra que a torcida acertou na cabeça do bandeirinha.
Com três homens a mais, os gaúchos tocavam a bola inteligentemente, com lançamentos longos, fazendo os argentinos correrem em dobro. Aos 30, Tevez não resistiu ao olé e entrou forte em Renato: quarta expulsão do Estudiantes! Agora, seriam onze gremistas contra sete jogadores do Estudiantes.
Porém, dois minutinhos depois, a defesa gremista cochilou, e Gurrieri marcou seu segundo gol, após muita insistência, exibindo uma raça inexcedível. Grêmio 3, Estudiantes 2. Ainda assim, a vantagem gremista era colossal: afinal, eram onze contra sete!
Porém, aos 41, Gurrieri fez grande jogada na esquerda e chutou. A zaga rebateu, e Russo chutou forte: gol! Era o fantástico e surreal tento de empate do Estudiantes! 3 a 3!
A proeza do clube argentino, de conseguir o resultado com sete homens em campo, permaneceria inigualada por mais de duas décadas. Até que, no dia 26 de novembro de 2005, o próprio Grêmio enfrentaria um outro time alvirrubro...
PC
Vídeo:
Escalações:
Estudiantes: Bertero; Camino, Gette (Tevez), Aguero e Gugnali; Ponce, Russo e Sabella; Trama, Trobbiani e Gurrieri. Técnico: Hugo Manera.Grêmio: Mazarópi; Paulo Roberto, Leandro, De León e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato, Caio (César) e Tarciso (Tonho). Técnico: Valdir Espinosa.
* A Libertadores daquela época tinha seis times na fase semifinal, divididos em dois triangulares.
** O Estudiantes acabou apenas empatando com o América de Cáli, em 0 a 0. Com isso, o Grêmio foi à final, em que acabaria se sagrando campeão.
Esse Grêmio... huaiauihauihauihuiahuiah
ResponderExcluirEsse time do Estudiantes devia ser muito sinistro...se tivesse um pouquinho mais de cabeça, botava o Grêmio no bolso.
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Análise tática desse jogo por Eduardo Cecconi: http://wp.clicrbs.com.br/prelecao/2010/02/14/a-batalha-de-la-plata-analise-tatica-do-estudiantes/?topo=77,1,1
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