domingo, 7 de junho de 2009

Recordar é viver - Cruzeiro 5, Internacional 4


Belo Horizonte, 7 de março de 1976.

O Mineirão recebia um público extraordinário: 65.463 torcedores encheram as arquibancadas para assistir à grande batalha. Cruzeiro e Internacional jogariam pela Taça Libertadores da América. Era mais que a estréia das duas equipes: os cruzeirenses encaravam a partida como a revanche da final do Campeonato Brasileiro de 1975, vencida pelo Colorado. Mas, quando o árbitro argentino Luis Pestarino deu início à batalha, ninguém poderia imaginar o turbilhão de emoções que se seguiria.

Logo aos 4 minutos, veio o primeiro gol do Cruzeiro. Joãozinho cruzou rasteiro da esquerda, e Palhinha abriu o marcador, de canhota, vencendo o goleiro Manga. Aos 10, mais um tento cruzeirense. Nelinho efetuou um lançamento primoroso, Figueroa e Manga falharam, e Palhinha mais uma vez aproveitou. 2 a 0.

O Internacional não se abateu com a desvantagem. Aos 14, Lula acertou um balaço de canhota, de fora da área, no ângulo do goleiro Raul, que nada pôde fazer. 2 a 1.

Mas o ataque mineiro estava impossível. Aos 21, Joãozinho foi esperto, roubou a bola de Caçapava, driblou Figueroa e chutou cruzado, batendo Manga mais uma vez. Amigos, foi uma verdadeira obra de arte de Joãozinho. Se eu fosse curador de um museu do futebol, este lance teria o seu lugar destacado no acervo. 3 a 1.

O Colorado era um time aguerrido, conhecido por não desistir nunca dos jogos. Aos 39, Lula fez jogada espetacular pela esquerda, passando por Moraes, e tocou para Valdomiro mais uma vez descontar. 3 a 2.

Veio o segundo tempo, e aos 6 o empate gaúcho. Falcão lançou Valdomiro na direita. O último alçou na área, e Zé Carlos empurrou a bola contra a própria meta. 3 a 3!

Aos 17, mais um vacilo da defesa do Internacional foi aproveitado por Joãozinho, que fuzilou Manga: 4 a 3 Cruzeiro!

Aos 25, o Colorado mais uma vez empata! Lula lança Vacaria na esquerda, e este levanta a pelota na área. Escurinho cabeceia para o meio, e Ramón completa para o gol. Raul não consegue defender. 4 a 4!

A apreensão tomou conta do Mineirão quando o juiz argentino expulsou Palhinha, que liderava a equipe cruzeirense com grande atuação, ao lado de Joãozinho e Nelinho. Seria o cartão vermelho o prenúncio de uma derrota logo na estréia?

Não, não seria. Aos 38, Joãozinho faz mais uma grande jogada pela esquerda, e é derrubado por Valdir dentro da área. O pênalti foi marcado por Pestarino, e então viveu-se o momento de maior tensão da partida. A bola, na marca penal. A poucos passos dela, o lateral Nelinho. Sobre a linha do gol, Manga. O arqueiro voou para a sua direita, mas Nelinho bateu com muita categoria no canto oposto. Cruzeiro de novo na frente: 5 a 4, e o Internacional não empatou mais. Nunca mais!


Observemos que o brilhantismo dessa partida imortal não reside apenas no talento dos jogadores em campo. Também os técnicos tiveram importância vital. Zezé Moreira e Rubens Minelli são dois gênios da história do futebol brasileiro. Seus currículos falam por si: Zezé foi, só pelo Fluminense, campeão mundial em 1952, campeão carioca em 1951 e 1959 e campeão do Rio-São Paulo em 1960. Conquistara também títulos no Botafogo, no São Paulo e na Seleção Brasileira. Já Rubens Minelli já tinha dois Campeonatos Brasileiros no currículo: 1969 pelo Palmeiras e 1975 pelo próprio Internacional.


(Zezé Moreira viria a conquistar a própria Libertadores de 1976, pelo Cruzeiro. Rubens Minelli ganharia também os Brasileiros de 1976 pelo Inter e 1977 pelo São Paulo.)

Compacto do programa Grandes Momentos do Esporte, da TV Cultura:

Escalações:
Cruzeiro: Raul; Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho.
Técnico: Zezé Moreira.
Internacional: Manga; Cláudio Duarte (Valdir), Figueroa, Hermínio e Vacaria; Caçapava e Falcão; Valdomiro, Flávio (Ramón), Escurinho e Lula.
Técnico: Rubens Minelli.

Autor: PC.

Moraes (Cruzeiro) e Flávio (Inter) disputam a bola (foto: Correio do Povo).

7 comentários:

  1. Sensacional. Os tempos de Inter e Cruzeiro voltaram.

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  2. Jogaço! Os dois times eram extremamente técnicos e jogaram com muita raça, aí o espetáculo é garantido!!!

    Eu odeio o Raul Plasmann!!! E olha que eu nem sabia como o cara era frangueiro!!! Francamente, falhou bisonhamente em pelo menos dois tentos do Internacional!!!
    Uma curiosidade relativa à Libertadores é a quantidade de times campeões com frangueiros no gol, só os que eu conheço: Cruzeiro (Raul), Flamengo (Raul), São Paulo (Zetti), Internacional (Clêmer) e LDU (Cevallos). Qual é? É pré-requisito???

    E quanto a Zezé Moreira, a grandiosidade dos títulos conquistados por seus times fala por si só. Gênio!!!
    O time do Flu campeão mundial foi montado para o carioca de 51 e foi um dos maiores da história do Clube. Zezé Moreira comandou o Flu em 503 jogos com aproveitamento de 66,73%. Esteve no Tricolor em 1951/1954, 1958/1962 e 1973.
    Ao meu ver um dos maiores técnicos da história.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Bons tempos...e bom público.
    A partida e principalmente o resultado poderiam ser repetidos. Com certeza um belo espetáculo...o que não houve ontem.
    Inté!

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  5. Já vi gente dizer que esse foi um dos melhores jogos da história do futebol brasileiro.

    Eu não ví, mas com o timaço que Cruzeiro e Inter tinham não é difícil acreditar.



    Carlão Azul.

    Site/Blog Sou Cruzeirense

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  6. Este jogo foi sensacional. Ouvi pelo rádio, Rádio Guarani, e me lembro até hoje. Joãozinho sempre foi muito bom mas neste dia parecia o melhor jogador de todos os tempos. Um jogo eterno. É FATO!

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