Amigos, vocês sabem que eu sou um memorialista.
"Tudo é memória", disse não sei quem. Acho que foi o
Nelson Rodrigues, o maior memorialista.
"Precisamos nos lembrar das conquistas passadas. Ai do clube que não cultiva santas nostalgias". Essa pérola, eu tenho certeza que é mesmo do Nelson.
Hoje é dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro. E o povo carioca recebeu de presente um dia ensolarado, com um céu deslumbrante. A multidão encaminhou-se para as praias. Copacabana estava entupida de gente, do Leme ao Arpoador. Nada consegue ser mais carioca que um feriado.
Pois bem, o que eu ia dizendo? Ah, sim, escrevia eu no começo que precisamos nos lembrar das conquistas passadas. Em 20 de janeiro de 1952, também à tarde, Fluminense e Bangu jogaram no Estádio Mario Filho. Era a segunda partida da final do Campeonato Carioca de 1951, e portanto o Maracanã estava muito cheio, com gente subindo pelas paredes. A decisão era uma melhor-de-três.
Uma semana antes, tricolores e bangüenses haviam disputado o primeiro jogo, uma das mais sangrentas batalhas da história do futebol. Didi quebrou a perna de Mendonça. Carlyle, o artilheiro do Fluminense, o artilheiro do campeonato, também se machucou. Telê e Mirim trocaram bordoadas e foram expulsos. Mário Vianna, com dois enes, o melhor juiz brasileiro da época, acabou criticado pelos dois lados. Orlando fez o gol único, e o Fluminense venceu por 1 a 0. Assim, bastava uma nova vitória tricolor no segundo jogo para a conquista definitiva do Campeonato.
Naquele 20 de janeiro, Telê fez o primeiro gol. (Naquela época, as expulsões não rendiam suspensões, de modo que o Fio de Esperança pôde jogar.) Quando, aos 30 do segundo tempo, Robson passou a Telê, todo o Rio de Janeiro estremeceu, com a certeza do título tricolor. O chute fatal venceu o goleiro Osvaldo, do Bangu. Pela primeira vez, o Maracanã proclamava o Fluminense campeão. Telê, autor dos dois gols, era o herói da conquista.
Voltando a 2010, agora estamos apenas na segunda rodada. O Bangu de hoje não é mais forte o suficiente para chegar à final. (Se não estou enganado, a última final bangüense data de 1985. Ainda assim, a camisa alvirrubra merece ser respeitada, por toda a história que carrega consigo.)
Porém, assim como em 1952, a partida de hoje também teve o seu herói: Fred. Dirão que foram dois gols de pênalti, e eu vos respondo: não importa. O camisa nove tricolor teve categoria e sorte para mandar dois chutes certeiros. Isso é o que importa. Alan ainda fez o terceiro, mas antes disso Maicon, Everton e Conca estiveram infernizando a defesa do Bangu. A linha ofensiva do Fluminense está dando gosto de se ver.
Encerro a coluna com um vaticínio. Uma profecia. Outro dia, estive em Álvaro Chaves. Ouvi um murmúrio vindo da sala de troféus. Era a taça do Campeonato de 1951, clamando pela companhia de uma irmã mais nova. (Nas minhas crônicas, as taças falam.) Eis a minha profecia: a taça de 2010 atenderá o pedido da irmã. Já posso ver o sorriso estampado em seu metal. (Aqui elas também sorriem.)
PC
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Aproveito para criticar a absurda decisão de não vender ingressos no dia do jogo, no Maracanã. A medida provocou filas e tumultos nos postos de venda, e além disso fez muita gente desistir de ir ao Estádio. Não sei quem teve a idéia estúpida, mas espero que a medida seja revogada imediatamente, pelo menos nos jogos de menor apelo. Comecem a tratar os torcedores como gente, como clientes. Nós não somos gado.
parabens pela coluna!
ResponderExcluirFluzão campeãaaao!
ResponderExcluirVitória tranqüila dO Mais Tradicional. Esse Ewerton é bom jogador...
ResponderExcluirMaicon, Everton e Conca
ResponderExcluirme deslumbro quando vejo esse nomes; rsrs.³
Ótima Coluna
Concordo, não vender ingressos em dias de jogos é mais um desrespeito com o torcedor e só irá contribuir para o esvaziamento do campeonato. Já não bastam o aumento dos preços, ainda impõem mais dificuldades.
ResponderExcluirSobre a crônica, magistral, como sempre.
ótima postagem, mt bom o texto! Fui no jogo e gostei muito do que vi, um Fluminense organizado, confiante, ofensivo. Só aguardo um adversário mais forte pra confirmar que o Flu é o melhor time carioca de 2010. E sobre a decisão de não vender ingressos no dia, maior palhaçada. Só pude ir pq um amigo me chamou pra ir na cadeira cativa dele, senão tb não poderia. E me deu pena quando uma família, com crianças pequenas, veio me perguntar onde estava vendendo ingresso...partiu meu coração dizer à eles que a ferj simplesmente decidiu não vender mais no dia, e eles n poderiam assistir ao jogo. Uma pena!
ResponderExcluirMais uma vez um belo texto PC!Destaco que além da proibição da venda nos dias de jogos, o que obviamente favorece os cambistas, marcar um jogo para 15h é uma puta sacanagem com os atletas e com os torcedores.
ResponderExcluirFala PC! Responda-me uma coisa por favor, quem era o camisa 7 desse time de 51? A escalação desse time é a mesma da do campeão da Copa Rio de 52?
ResponderExcluirMuito Obrigado,
Iocemar,
ResponderExcluirNão sei dizer quem era o camisa 7, não.
Sobre a escalação da Copa Rio, sugiro que você veja os meus posts sobre o torneio: Recordar é viver - Arquivo.
Obrigado a todos pelos comentários!
Abraços,
PC