domingo, 31 de janeiro de 2010

Recordar é viver - A Taça Guanabara de 1966

*O capitão Altair ergue a Taça Guanabara*

(crônica inicialmente publicada no site do Pavilhão Tricolor)

Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1966.

Amigos, o feriado foi, como sempre, o mais carioca dos dias. O sol apareceu, e as multidões escoaram para as praias. Isso logo pela manhã, pois a tarde estava reservada para o mais carioca dos programas: o Fla-Flu. A Taça Guanabara estava em jogo: ao Fluminense, bastava o empate; ao Flamengo, só interessava a vitória.

Mais de 70 mil pessoas foram ao Maracanã, para assistir ao Fla-Flu decisivo. Esperavam ver um Flamengo ousado e um Fluminense recuado. Afinal, a vantagem inicial era tricolor. Comandavam os times dois estrategistas: Armando Renganeschi, o Flamengo; Elba de Pádua Lima, o Fluminense. Tim sabia que vantagens são traiçoeiras. E Renganeschi sabia que, mesmo com a desvantagem, a massa rubro-negra empurraria o Flamengo para frente.

O jogo começou morno, com Flamengo e Fluminense se estudando, como na fase de abertura de uma partida de xadrez. Até que veio o pedido do lado rubro-negro da arquibancada: "Queremos raça! Queremos raça! Queremos raça!". E o Flamengo foi para cima do Fluminense, lançou-se todo para o ataque. Foi o grande erro rubro-negro. El Peón Tim armara o Fluminense exatamente para jogar no contra-ataque. A estratégia de Tim se provaria eficiente aos 30 minutos do primeiro tempo.

O lateral-direito Murilo, do Flamengo, foi à linha de fundo e cruzou perigosamente. O capitão tricolor Altair interceptou, e iniciou rapidamente o contra-ataque, acionando Denílson. O melhor meia defensivo do Brasil lançou Samarone, que passou a Oliveira. O lateral avançou pela direita até a entrada da grande área, de onde cruzou para a pequena área. Lá estavam o tricolor Amoroso, e os rubro-negros Ditão e Mário Braga. O atacante tricolor subiu mais alto, e cabeceou no canto, inapelável. Após passar por cinco tricolores, a pelota estufava a rede do Maracanã. Fluminense 1 a 0!

Veio o segundo tempo, e o Flamengo precisava correr por dois gols. A cada minuto que passava, mais próxima da rua Álvaro Chaves ficava a Taça Guanabara. Os contra-ataques tricolores eram cada vez mais perigosos. Aos 17, Lula atacou pela esquerda, driblou Murilo, e fuzilou a meta de Valdomiro. Ah, que ponta é Lula, desintegrando a defesa flamenga! O arqueiro rubro-negro deu rebote, e Mário Tilico fez o segundo gol. Começava a festa do Fluminense. Silva ainda marcou um gol de honra para o Flamengo, em escanteio cobrado por Fio. Porém, mais um contra-ataque tricolor aconteceria: da defesa para Samarone, de Samarone para Lula, de Lula para Mário Tilico, de Mário Tilico para o gol. Fluminense 3 a 1!

Quando o Sansão apitou o final da partida, a Taça Guanabara sorriu. Sorriu porque percebeu que passaria a eternidade em Álvaro Chaves. Melhor destino não há.

PC

Vídeo com lances do jogo:

Ficha Técnica: Fluminense 3 x 1 Flamengo.
Decisão da Taça Guanabara de 1966.
Fluminense: Jorge Vitório; Oliveira, Caxias, Altair e Bauer; Denílson e Jardel; Amoroso, Samarone, Mário Tilico e Lula. Técnico: Elba de Pádua Lima "Tim".
Flamengo: Valdomiro; Murilo, Mário Braga, Ditão e Paulo Henrique; Carlinhos e Juarez; Fio "Maravilha", Almir "Pernambuquinho", Silva "Batuta" e Osvaldo II "Ponte Aérea". Técnico: Armando Renganeschi.
Gols: Amoroso, aos 30' do primeiro tempo; Mário Tilico aos 17' e 40' do segundo tempo; e Silva aos 25' do segundo tempo.
Árbitro: Aírton Vieira de Moraes "Sansão".
Público pagante: 69.730.
Renda: Cr$ 101.154.810,00 (NCr$ 101.154,81).

Observação: nessa época, a Taça Guanabara era um campeonato à parte, separado do Campeonato Carioca.

Fontes de pesquisa:
- Anotações diversas de Alexandre Magno Barreto Berwanger.
- Jornais do dia 08/09/1966 (disponíveis no acervo do Flumemória).

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