A camisa caiu bem no Rei!
Kaduna, montanhas do norte da Nigéria, 26 de abril de 1978.
O Fluminense fazia uma excursão pela África, e estava na Nigéria para disputar amistosos. O adversário do dia seria o Racca Rovers, da capital Lagos. Por coincidência, Pelé também estava na Nigéria, trabalhando como garoto-propaganda de uma marca de eletrodomésticos. As autoridades nigerianas resolveram unir o útil ao agradável, e convidaram o Rei para dar o pontapé inicial do amistoso.
Era só o pontapé inicial, mas as rádios do país anunciaram que Pelé jogaria, com a camisa do Fluminense. Foi o suficiente para os trinta mil ingressos se esgotarem rapidamente. O povo queria ver Pelé em ação, desejava admirar o talento do Rei. Dizem que até o governador da capital teria exigido que Pelé jogasse (convenhamos, mais vale um Pelé em campo que um Pelé ao seu lado na tribuna de honra).
O Fluminense ainda tentou desfazer o mal-entendido, mas já era tarde: agora, Pelé teria que jogar. Ou então as autoridades teriam que segurar a multidão em fúria. O chefe da polícia declarou à rádio oficial que, se Pelé não jogasse, retiraria seus homens do estádio, pois não teria como conter a população. Resumindo: estava prestes a ocorrer uma verdadeira intifada nigeriana.
Sem alternativa, Pelé resolveu jogar, mesmo estando fora de forma (dizem que não pisava em um gramado havia seis meses). Até encontrar uma chuteira adequada foi complicado: o Rei teve que jogar com os pés apertados, calçando um número abaixo do seu. E foi assim que ele disputou aquele primeiro tempo, escrevendo mais um capítulo da história do Fluminense. Que bom para o Tricolor, e que bom para Pelé.
Com a Majestade em campo, o Fluminense venceu o primeiro tempo por 1 a 0, gol de Marinho Chagas. No final, o placar foi 2 a 1, tendo sido o segundo gol tricolor marcado por Arturzinho. O grande nome do jogo foi Gilson Gênio. Reza a lenda que, ao final da peleja, Gilson foi carregado pela multidão, impressionada com sua esplêndida atuação.
Cabe dizer que, logo após o anúncio da saída de Pelé, no intervalo, um enorme enxame de abelhas invadiu o estádio, iniciando um pânico geral. Teria sido uma espécie de revolta divina? Por sorte, apenas um policial se feriu, caindo de seu cavalo.
No jogo seguinte, em Lagos, novamente foi anunciada a presença de Pelé. Mas o Rei já estava num avião, rumo a Londres. Enquanto sobrevoava o Atlântico, nossa Majestade não conseguia se livrar de um pensamento terrível: faltou fazer um gol! faltou fazer um gol!
PC
Ficha Técnica: Racca Rovers/NIG 1 x 2 Fluminense.
Motivo: Amistoso Internacional.
Data: 26/04/1978.
Local: Estádio Municipal de Kaduna, Nigéria.
Público: 30.000 pagantes.
Fluminense: Renato; Edevaldo, Miranda, Dário Lourenço e Marinho Chagas; Rubens Galaxe, Arturzinho e Pelé; Gildásio, Geraldão e Gilson Gênio. Entraram Edival, Luis Carlos e Carlinhos. Técnico: Paulo Emílio.
Gols do Fluminense: Marinho Chagas (1T) e Arturzinho (2T).
Na foto acima, estão, da esquerda para a direita: o técnico Paulo Emílio, Marinho Chagas, Miranda, o goleiro Renato, Gildásio, Arturzinho, Dário Lourenço, Geraldão, Gilson Gênio, Edevaldo, Pelé e Rubens Galaxe. Confiram abaixo outras três fotos da tarde histórica.
Edevaldo, Pelé, Rubens Galaxe e o juiz da peleja.
O Rei Pelé cercado pela multidão em Kaduna.
Em pé: Paulo Emílio, auxiliar, Renato, Marinho Chagas, Dário Lourenço, Miranda, Edevaldo, Rubens Galaxe e o lendário Ximbica.
Agachados: Gildásio, Arturzinho, Geraldão, Pelé e Gilson Gênio.
Observação: quatro dias antes, Pelé havia atuado contra o Fluminense, pela Seleção da Nigéria, durante 35 minutos. A presença real não adiantou muito para os locais: o Tricolor venceu por 3 a 1, com dois gols de Marinho Chagas e um de Gilson Gênio.
Fantástica história. Mas existe algum registro da numeração usada no jogo? Pelé usou a 10?
ResponderExcluirDiego, obrigado pelo prestígio! :)
ResponderExcluirPor se tratar de amistoso, não sei nem se as camisas eram numeradas. Mas acredito que sim.
E nesse caso acho bastante provável que Pelé tenha vestido a 10.
Comentários no orkut:
ResponderExcluirFFC;
Fluminense.
Artigo no NETFLU baseado no meu texto.
ResponderExcluirShow de bola PC ! Deve ter sido uma honra pro Pelé vestir a camisa do maior time do mundo :D
ResponderExcluirBeleza de texto, PC! Muito legal, inclusive com fotos.
ResponderExcluirMais uma vez, nota 10 para você também!!!!
Perigor e Leandro,
ResponderExcluirObrigado pelos comentários elogiosos. :D
ST,
PC
Fluteblog: excelente crônica de Armando Nogueira, e link para esta postagem.
ResponderExcluirO Historiador Perdido também citou essa postagem! Valeu, Vinicius! :)
ResponderExcluirComentários no orkut: Fluminense Paixão Eterna.
ResponderExcluirQue história! Não podia imaginar que tinham sido essas as circunstâncias.
ResponderExcluirO Blog do Arroto também citou esta postagem!
ResponderExcluirMais comentários no orkut.
ResponderExcluirNão seria o Ximbica à direita, em pé, na foto posada?
ResponderExcluirBem observado, acho que é o Ximbica, sim!
ResponderExcluirXimbica nada. É o futuro presidente do tricolor, o médico Arnaldo Santiago!
ResponderExcluirtodo mundo quer um dia jogar ne time do meu coração, Fluuuuzãooooo!!!rs..
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