Sobre o resultado das eleições presidenciais do Brasil em 2014

Domingo, 26 de outubro de 2014 - o dia em que cinquenta e quatro milhões de brasileiros votaram por dar um novo mandato de quatro anos à presidente Dilma Rousseff e ao Partido dos Trabalhadores - organização que, se as coisas transcorrerem como se espera, completará 16 anos consecutivos no comando do país.

Como deve ter ficado claro nos meus posts sobre política dos últimos meses, sou um opositor ferrenho a este governo, que considero absolutamente nocivo para o país, pelos mais diversos motivos, alguns dos quais tentei expor aqui no blog e nas redes sociais. Portanto, obviamente, me sinto triste, decepcionado e até mesmo derrotado pelo resultado das urnas.

Não se trata de desqualificar o voto alheio. Defendo e sempre defenderei a democracia, mesmo com excrescências como a existência de "partidos comunistas" que, por definição e por estatuto, desejam o fim da própria democracia. Aliás, o presidente de um desses partidos anti-democráticos (o PC do B) estava ao lado de Dilma no discurso da vitória, tendo recebido um "comprimento" (sic) da mandatária. Sim, por mim, até mesmo o vomitável PC do B tem o seu direito de existir - apesar de representar uma ideologia que matou (e ainda mata) dezenas de vezes mais que o nefasto nazismo. Os cinquenta e poucos milhões de compatriotas têm, portanto, o direito legítimo de votar no PT - o que não significa que devo aplaudir este gesto deletério para o Brasil.

Na década de 90, na minha infância, lá no Colégio Anchieta, aprendi nas aulas de História - ou melhor, ainda eram aulas de "Estudos Sociais" - a odiar os antigos coronéis dos rincões mais pobres do Brasil, que forçavam seus empregados a votar em seus indicados, no chamado voto de cabresto. Era, naturalmente, uma prática detestável - que um tal de Lula denunciava na televisão que ainda existia, através das "políticas assistencialistas" do governo. Quem diria, hoje é o PT do mesmo Lula que utiliza o Bolsa-Família como instrumento para angariar milhões votos no Norte e no Nordeste (vide os mapas comparativos na figura abaixo, e o item IV em Os 13 vídeos proibidos do PT).

No mapa da esquerda, o resultado do segundo turno (Aécio azul x Dilma vermelha).
No mapa da direita, os estados menos  e mais dependentes do Bolsa-Família.
Em 22 dos 26 estados do Brasil, os mapas têm as mesmas cores. Coincidência?
Fonte: Ricardo Amorim.

Os mapas acima provam inequivocamente a correlação quase total entre a dependência do Bolsa-Família e os votos no PT. Não conheço nenhum outro indicador que consiga prever com tanta exatidão o resultado das eleições. Então, até mesmo o eleitor mais apaixonado do PT há de concordar que a motivação do voto de imensa parcela da população é errada - o que configura um prejuízo incontestável para a saúde de uma democracia.

E vocês sabem o que é mais curioso? A massa que elegeu o PT via voto de cabresto será justamente quem mais sofrerá as consequências de seu desgoverno. Nenhuma nação sobrevive de falácias - a recessão já está chegando, e é uma realidade duríssima, que atinge primeiro os mais pobres. Dilma se orgulhou durante a campanha da baixa taxa de desemprego do país, sem explicar que este indicador específico tem pouca ou nenhuma relevância na vida real. Nos últimos tempos, fomos induzidos a acreditar que quase toda a nossa população em idade de trabalhar está empregada, cenário cuja distância da realidade se mede em escala interestelar, infelizmente (quem quiser entender este assunto, recomendo o didático artigo de Ricardo Amorim).

E quanto à péssima qualidade da Educação básica no ensino público brasileiro? O descaso do governo petista com o assunto fica evidente nas avaliações internacionais de nossos estudantes, que classificam o Brasil ao lado (ou mesmo atrás) dos países mais pobres do mundo. A obscena resposta da presidente Dilma à eleitora indecisa no debate da Globo, sugerindo a uma economista qualificada de 55 anos que fizesse um curso técnico no SENAI, foi apenas mais uma demonstração da total falta de projetos do PT para atacar os problemas reais do país.

Já escrevi muito, mas em um texto sobre o PT, há que se falar de corrupção (além do terrorismo eleitoral em torno do Bolsa-Família, que não deixa de ser uma forma de corrupção também). Não, eu não consigo entender como o cidadão brasileiro tem estômago para votar em um partido com dois ex-presidentes condenados por corrupção no Supremo Tribunal Federal (uma corte cuja maioria dos juízes foi indicada - vejam só - por Lula e Dilma). Se o PT quisesse ser levado a sério - por mim pelo menos - teria que obrigatoriamente expulsar os criminosos condenados, ao invés de tratá-los como heróis, como faz. Haja cara-de-pau para falar em combate à corrupção.

E a tal da "mudança", termo repetido à exaustão pela campanha do PT? Na minha lei eleitoral, um partido que está há doze anos no poder seria proibido de utilizar a palavra "mudança" durante a campanha, por motivos óbvios. Pensem bem, a campanha da candidata de situação tinha o slogan "governo novo, ideias novas". Preciso dizer mais? Já começou muito errado, né?

Havia outros, muitos outros motivos para votar em Aécio Neves neste segundo turno. A honesta, extensa e bem-sucedida experiência administrativa e parlamentar do tucano, os apoios que ele recebeu até dos mais respeitados ex-ministros de Lula, o avançadíssimo aparelhamento do Estado pelo PT, a lamentável tática petista de jogar uns contra os outros, o sistema público de saúde em frangalhos, a paupérrima infra-estrutura que sufoca nossa economia, o injustificável financiamento da ditadura cubana, e eu poderia continuar listando aqui razões até depois de amanhã.

Entretanto, nós perdemos. Tomara que eu esteja errado em minhas previsões sombrias. Apesar do modo como nós, oposicionistas, fomos tratados nesta campanha odiosa do PT e de sua militância, torço muito pelo sucesso do governo (embora duvide muito dele).

Aos 51 milhões de brasileiros que escolheram o verdadeiro projeto de mudança, a alternativa a este caminho torto que o país está trilhando, deixo meus sinceros agradecimentos. Esta votação expressiva - a maior que um candidato derrotado já teve no Brasil - me faz ter esperança no futuro da nossa nação.

PCFilho