Romeu Pelliciari, craque do Fluminense.
Rio de Janeiro, 27 de junho de 1937.
Nas arquibancadas do aconchegante Estádio das Laranjeiras, a multidão de quinze mil pessoas aguarda ansiosa o pontapé inicial de mais um Fla-Flu. No vestiário do Fluminense, Romeu Pelliciari comenta com o defensor argentino Santamaría: "o Dori deixa três homens bem recuados pegando as sobras e outros dois logo à frente servindo de peneira. Não será fácil penetrar na defesa deles".
Dori é o apelido do treinador húngaro Izidor Kürschner, que comanda o Flamengo. Ele veio da Europa com idéias revolucionárias: um novo esquema tático, de nome WM. Os dirigentes rubro-negros o trouxeram para tentar encerrar o jejum de títulos: já há dez anos que não se levanta uma taça na Gávea.
Romeu assistira a alguns jogos anteriores do Flamengo, umas boas goleadas em Campos Sales. Dotado de uma inteligência fora do comum para observar o futebol, o craque do Fluminense logo percebeu a inovação tática que Dori estava tentando implementar no Flamengo. Porém, ele também percebeu que os jogadores rubro-negros ainda não haviam assimilado totalmente a novidade. E é desse fato que o craque se aproveitou para ganhar mais um Fla-Flu imortal.
Para vencer a solidez defensiva do WM de Kürschner, Romeu recuou para a posição de quarto homem de meio-campo. Com essa mudança estratégica, Romeu atraía seu marcador, e assim abria espaços para as fulminantes penetrações de Tim, Russo e, claro, as dele também.
Romeu provou que estava certo. O Flamengo chegou a marcar três gols, com Leônidas, Jarbas e Carlinhos. Mas o Fluminense marcou quatro: uma vez com Russo, e três vezes com Romeu, sempre vindo de trás, surpreendendo a defesa rubro-negra com seu drible "vai mas não vai".
O treinador uruguaio Carlomagno, eufórico com a astúcia de seu craque, afirmou: "Não há nada que possa ser ensinado a Romeu". O meia-direita era, definitivamente, um técnico dentro do gramado.
PC
"Romeu passava meses sem errar um passe sequer."
- Elba de Pádua Lima, o Tim.
Ficha técnica: Fluminense 4 x 3 Flamengo (Amistoso).
Data: 27/06/1937.
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro.
Fluminense: Nascimento; Guimarães e Machado; Santamaría (Milton), Brant e Orozimbo; Sobral, Romeu, Russo, Tim e Hércules (Orlandinho). Técnico: Carlomagno.
Flamengo: Talladas, Carlos Alves, Marin e Médio; Engels, Oto (Barbosa), Sá e Valdemar; Caldeira, Leônidas e Jarbas (Carlinhos). Técnico: Izidor Kürschner.
Gols: Romeu (3) e Russo pelo Fluminense; Leônidas, Jarbas e Carlinhos pelo Flamengo.
Fontes:
[3] Livro "Os dez mais do Fluminense", de Roberto Sander.
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ResponderExcluirhttp://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5373065166026446038&na=4
Excelente, PC!
ResponderExcluirGraças a esses Monstros Sagrados, hoje podemos nos orgulhar.
Ótimo texo.
Existe um jogador como ele na atualidade? Com tamanha habilidade e visão estratégica? Já existiu outro como ele? Acho difícil...
ResponderExcluirBatalhas também são vencidas com inteligência, característica escassa em jogadores e treinadores dos dias atuais...