Rio de Janeiro, 2 de agosto de 1952.
Amigos, a humildade acaba aqui: desde hoje, o Fluminense é o campeão do mundo. A equipe tricolor fez uma partida perfeita, irretocável. Lutou com a alma indomável do campeão. O resultado não poderia ser outro, senão a glória, senão o título. A Copa Rio repousará, feliz e para sempre, na abarrotada sala de troféus da Rua Álvaro Chaves.
Não se conquista uma taça num único dia, numa única noite. Não. Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro. Após o empate, na estréia, com o Sporting Lisboa, o campeão português, não se interrompeu mais a ascensão para a glória. Passamos pelo Grasshopper-Club, o campeão suíço, e depois atropelamos o Peñarol, o campeão uruguaio. Então, veio o poderoso Áustria Viena, e também ficou pelo caminho. Por fim, vencemos o Corinthians, o campeão paulista. Não só vencemos o mais difícil e conceituado campeonato de clubes já organizado até hoje. Conquistamos o valioso troféu invictos, em uma campanha épica.
O Corinthians, campeão de São Paulo, foi o adversário do Tricolor na grande decisão da Copa Rio. Mesmo tendo sido vitorioso no primeiro encontro (dia 30), o Fluminense logo se avantajou no placar, disposto a conquistar o Campeonato de maneira digna e categórica. O primeiro gol ocorreu aos 10 minutos, e veio dos pés de mestre Didi. O Corinthians, como é natural, não concordava com as pretensões tricolores, e lutava com galhardia para reverter a situação. {inspiração em [9]}
Quando começou a segunda etapa do memorável confronto, em que dois times brasileiros disputavam a honra de possuir o título oficioso de Campeão Mundial Interclubes, a peleja, autêntico prélio de dois gigantes, aumentou em beleza e intensidade. Cada minuto que se escoava era mais um passo que o Fluminense dava em direção ao título, e era mais uma dose de esperança perdida pelo Corinthians. [9]
Os campeões paulistas finalmente alcançaram seu tento, com Jackson, quando o cronômetro apontava 11 minutos. O Fluminense continuava em boa situação, posto que o empate lhe bastava. Porém, mesmo assim, a equipe tricolor lançou-se toda para a frente, como se necessitasse da vitória tanto quanto o oponente. Aos 25, Marinho marcou o seu quinto gol na Copa Rio, igualando-se a Orlando Pingo de Ouro na artilharia. O tento foi deveras importante, uma vez que voltou a pôr o Fluminense na frente: 2 a 1.
O alvinegro paulista ainda conseguiu marcar o gol de empate, por meio de Souzinha, aos 44 minutos. Mas isso não era suficiente para impedir a glória do Fluminense. O esquadrão de Álvaro Chaves demonstrou tudo o que pode se exigir de um autêntico campeão: fibra, entusiasmo, capacidade técnica e ciência do jogo. [7]
E quem é o grande personagem da conquista? Poderia destacar qualquer jogador pó-de-arroz, do goleiro ao ponta-esquerda: todos, todos tiveram uma garra, um ímpeto e uma paixão inexcedíveis. Orlando e Marinho, nossos artilheiros. Telê e Didi, nossos maestros. Píndaro e Pinheiro, as duas torres inexpugnáveis na defesa. Jair, Édson e Bigode, o trio indomável no meio-de-campo. Quincas, Róbson e Simões, sempre dando conta do recado no ataque. Zezé Moreira, nosso austero comandante à beira do campo. Mas um nome se destaca, em alto relevo, acima de todos os outros: o de Carlos José Castilho, nosso arqueiro.
Sobre ele, pego emprestadas as palavras publicadas na Revista do Esporte desta semana:
"O Fluminense desde que se ofuscou a estrela de Batatais teve bons keepers, mas Castilho é o ocupante da posição de todos que sucederam o 'rei da colocação'. Atingiu o jovem keeper o ponto alto de sua carreira no Pan-Americano de Santiago do Chile e agora na Copa Rio continua demonstrando suas altas qualidades, salvando tentos certos na fase eliminatória, quando manteve invicto o seu arco. Nas semifinais, foi vencido apenas duas vezes. A argumentação de que o sistema defensivo tricolor não permite tiros perigosos ao arco guarnecido por Castilho, e este, portanto, não teve muito trabalho, não procede, pois se não fossem as suas 'milagrosas', pois temos que chamar de milagrosas intervenções, pois ele fez o impossível, e o Fluminense estaria amargurando reveses fatais que o desclassificariam da Copa Rio, precisamente no ano do seu cinqüentenário. Castilho foi a grande barreira que impediu a queda da cidadela tricolor, enquanto o time se armava para a arrancada final. Após a notável campanha no Pan-Americano do Chile, quando fez a sua prova de fogo, Castilho provou na Copa Rio que é uma barreira internacional. É por isso que se diz às vezes que um goleiro vale por um time." [8]
Quando o prefeito da cidade, João Carlos Vital, entregou a belíssima Copa Rio ao nosso capitão Píndaro, aconteceu o momento sublime: todos os presentes no Maracanã perceberam que o mundo é tricolor. A Terra é verde, branca e grená. O planeta inteiro está aos pés do Fluminense Football Club, Campeão Mundial Interclubes.
PC
Ficha técnica: Fluminense 2 x 2 Corinthians
Data: 02/08/1952.
Local: Maracanã, Rio de Janeiro.
Fluminense: Castilho; Píndaro e Pinheiro (Nestor); Jair, Édson e Bigode; Telê (Róbson), Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Técnico: Zezé Moreira.
Corinthians: Gilmar; Homero e Olavo; Idário (Sula), Goiano e Julião; Cláudio, Luizinho (Souzinha), Carbone, Jackson e Colombo. Técnico: Rato.
Árbitro: Gabriel Tordjaman (França).
Público pagante: 53.074.
Público presente: 65.946.
Renda: CR$ 1.506.379,00.
Gols: Didi (aos 10 minutos do primeiro tempo), Jackson (aos 11 do segundo), Marinho (aos 25 do segundo) e Souzinha (aos 44 do segundo).
Fontes de pesquisa:
[1] Anuário do Esporte Ilustrado 1953.
[2] Livro "Fluminense Football Club, Histórias, Conquistas e Glórias no Futebol", de Antônio Carlos Napoleão.
[7] Jornal dos Sports, de 3 de agosto de 1952.
[8] Revista do Esporte, de 30 de julho de 1952.
[10] Vídeo do Canal 100, abaixo:
Leia as crônicas de cada jogo da trajetória tricolor na Copa Rio de 1952:
EXCLUSIVO: foto do time campeão na noite do triunfo:
No orkut: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5365180795776931030&na=4
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O Corinthians lutou, mas contra esse time não tinha chances. E o campeão mundial é o Tricolor!!!
ResponderExcluirPost publicado no AQIPOSSA.
ResponderExcluirEu queria ter visto Castilho jogar, os escritos são fabulosos, ele não era humano.
ResponderExcluirNa Copa Rio, Castilho defendeu um pênalti cobrado pelo Grasshoppers, quando o jogo ainda estava 0 a 0.
ResponderExcluirOs números dele são mesmo impressionantes. Com cerca de 700 jogos pelo Fluminense, é o atleta que mais vezes vestiu nossa camisa. Em mais de 250 desses jogos, ele não sofreu gol.
Não tenho essa estatística, mas há quem garanta que ele defendeu mais de 150 pênaltis na carreira.
Jogou quatro Copas do Mundo, chegando a 3 finais e sendo 2 vezes campeão.
Até como treinador ele foi impressionante: levou o modesto Operário à semifinal do Campeonato Brasileiro (sim, da Primeira Divisão!). Também foi campeão paulista com o Santos, após longo jejum do clube.
Um dos maiores da história do nosso esporte.
Blog História do Futebol - O Fluminense e a Copa Rio de 1952 cita esse post.
ResponderExcluirEsse fluminense é uma vergonha time do tapetão e do lixo do STJD/RIO... volta para a série C° e,Cbf faça uma copa Havelange para a portuguesa voltar pra série A°!!!
ResponderExcluirFluminense o clube pequeno mais ajudado do Brasil... depois vem o Flamengo que a Globo é uma mãe e a Cbf é um pai!!! Esses clubes do rio São uma piada kkk
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