A 28 de maio de 1954, nascia em Pindamonhangaba João Carlos de Oliveira. Negro, franzino e de família pobre, o menino se viu obrigado a entrar no exército, aos quinze anos de idade. Dois anos depois, começou a treinar atletismo, ainda no exército. A idade é considerada avançada para o início da carreira de um atleta, mas o talento e a determinação de João o fizeram superar esse obstáculo. Quando contava dezenove aniversários, começou a espantar o mundo. O ano era 1973, e o rapaz começou a contabilizar glória atrás de glória. No mesmo ano, foi campeão paulista, do Troféu Brasil e do Sul-Americano juvenil (em Assunção, no Paraguai). Sua especialidade era o salto triplo. Seu salto na capital paraguaia foi de incríveis 14,75 metros: tratava-se do recorde mundial júnior. Nessa época, ele treinava no São Paulo Futebol Clube e no Esporte Clube Pinheiros (foi o primeiro atleta negro da história do Pinheiros).
Em 1975, já na categoria adulta, João assombrou o mundo com um salto espetacular no Pan-Americano da Cidade do México. Escrevi "salto" mas já me corrijo: foi um autêntico vôo. Ao aterrissar na caixa de areia, ele consumou o milagre: 17 metros e 89 centímetros! "Tão espantoso quanto correr os 100 metros em 9 segundos", disse um especialista na época. Naquela saudosa tarde de 15 de outubro, João Carlos de Oliveira ganhou o apelido histórico: João do Pulo. O recorde anterior pertencia ao então bicampeão olímpico, o mítico atleta soviético Viktor Danilovich Saneyev, e foi superado em espetaculares 45 centímetros. Vale ressaltar que João do Pulo também conquistou o ouro no salto em distância, nesse mesmo Pan.
No ano seguinte, João do Pulo foi ao Canadá para tentar ser campeão olímpico. Mas não alcançou o feito: ficou com o bronze de Montreal, pois seu salto de 16,90m foi superado por Saneyev (que conquistou o tri) e pelo americano James Butts. Porém, seu recorde mundial continuou intacto. Em 1979, veio o duplo bicampeonato nos Jogos Pan-Americanos de Porto Rico: ouro no salto triplo e no salto em distância.
Em 1980, vieram as Olimpíadas de Moscou. João do Pulo vivia o auge de sua carreira, e era o grande favorito ao ouro do salto triplo. Seus principais concorrentes seriam dois soviéticos: o já citado Saneyev e Jaak Uudmäe. Os Jogos Olímpicos desse ano ficaram marcados pelo boicote norte-americano, e também por arbitragens suspeitas, que sempre favoreciam os donos da casa. Os fiscais do salto triplo não fugiram à regra: anularam nove dos onze saltos de João do Pulo. Um deles, mal anulado, seria o novo recorde mundial, e garantiria a medalha de ouro ao atleta brasileiro. Uudmäe conquistou o ouro, Saneyev a prata, e João do Pulo ficou de novo com o bronze. Sua merecida conquista olímpica teve que ser adiada para 1984, em Los Angeles.
Porém, em 22/12/1981 aconteceu a tragédia: gravíssimo acidente de carro na Via Anhangüera, em São Paulo. Onze meses de batalha no hospital, e a amputação da perna direita do recordista, 10 centímetros abaixo do joelho. O mundo chorava o fim da carreira de um dos maiores atletas de todos os tempos.
Em 16/06/1985, o americano Willie Banks bateu o recorde mundial de João do Pulo, saltando 8 centímetros a mais que o brasileiro (17,97m).
De 1986 a 1993, João do Pulo foi deputado estadual, defendendo com garra os interesses dos atletas e dos deficientes físicos. Como empresário, não obteve muito sucesso, com uma transportadora e uma padaria. Sofreu crises de depressão, e em abril de 1999 foi internado com problemas no fígado. Há exatos dez anos, em 29 de maio de 1999, faleceu, devido a uma infecção generalizada, para o pranto eterno dos deuses do esporte. O mito deixou dois filhos.
Em 20/05/2007, mais de trinta anos após a marca de João do Pulo, seu recorde brasileiro e sul-americano foi superado em 1 centímetro por Jadel Gregório (17,90m). A marca de 17,89m obtida em 1975 é tão espetacular que, até hoje, somente sete atletas a superaram na história. Dentre os recordes mundiais do atletismo, o do salto triplo é o que menos evoluiu de 1975 até hoje. Este fato demonstra o quão fantástica foi a marca de João do Pulo.
Aldir Blanc e João Bosco, dois craques da música brasileira, o homenagearam com a canção "João do Pulo". João do Pulo mereceu. Ou melhor: João do Pulo merece, porque João do Pulo é eterno.
PC
Seu blog é MARA.
ResponderExcluirAmo
João do pulo foi um gênio do esporte. Mesmo começando tardiamente sua carreira e provavelmente em condições precárias fez uma marca inigualável. Acho que foi o maior saltador de todos os tempos.
ResponderExcluirSua marca não foi superada por talento, mas por tecnologia e condições de treinamento que ele não teve.
Merece todas as homenagens!
Não aguentei, tive que rir da foto xD
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