São Paulo, 7 de novembro de 1970.
O Campeonato Brasileiro se aproxima de sua reta final. O Palmeiras lidera o Grupo A, com 12 pontos. O Fluminense lidera o Grupo B, com 15 pontos. A equipe paulista possui a melhor defesa do certame, ao passo que o ataque tricolor é o mais positivo.
O duelo entre os dois melhores times do Brasil atraiu uma multidão ao Morumbi. A torcida tricolor se fez presente na Terra da Garoa, dando uma lição de como se deve torcer: palmas, pó-de-arroz e bandeiras.
Antes da peleja, a imprensa via "dois times de ótimas defesas e ataques razoáveis". A Placar apontava o Palmeiras como favorito, e argumentava: "No gol está a diferença, pesando mais a favor do Palmeiras: o firme Leão de um lado; o irregular Félix do outro". Leão acabaria nem jogando, e Félix, mais uma vez, calaria seus críticos.
Certa hora, o árbitro Sebastião Rufino inventa um pênalti para o Palmeiras. César chuta, Félix pula à esquerda e defende. Era mesmo um dia perfeito para o Fluminense.
Aos 25 minutos, falta de Baldocchi em Samarone. Flávio bate no ângulo: Fluminense 1 a 0.
Aos 37 minutos, tabela de Samarone e Flávio. Mais um gol de Flávio: Fluminense 2 a 0.
Aos 9 minutos do segundo tempo, Flávio tira a bola de Nelson e empurra para as redes: Fluminense 3 a 0.
Estava decidido: o melhor time da Taça de Prata é mesmo o Fluminense.
Só uma pessoa poderia estragar o espetáculo bonito, de gols e bola correndo pelo chão: o juiz Sebastião Rufino. Ele quase conseguiu isso, quando expulsou Flávio, o artilheiro do jogo. Escrevi artilheiro do jogo, mas preciso ampliar: com os três tentos de hoje, Flávio chegou a onze, e agora é também o artilheiro do campeonato.
Félix defendeu pênalti, e Flávio fez três gols em pleno Morumbi. Houve, porém, uma atuação ainda melhor que a dos dois. Atacante e defensor, violento, craque e grosso, Didi foi tudo isso para ser o melhor em campo. Ele estava sempre com a bola, no chão ou no ar.
Didi tinha que marcar Ademir da Guia, o cérebro do Palmeiras. Alguns cometem um exagero até: dizem que Ademir é o próprio Palmeiras. A missão de Didi era complicadíssima, mas ele cumpriu seu papel com perfeição. Certa hora, Ademir tentou trocar seu posicionamento com Dudu. Não adiantou, pois lá estava Didi, implacável. Onde a bola estava, com ela estava Didi e seu futebol simples, comum, de luta e por tudo isso de gênio. Por causa de Didi, Samarone pôde jogar bem, Denílson pôde ficar sossegado e o Fluminense pôde mostrar o futebol que deve jogar um líder.
No Fluminense de Paulo Amaral, não há um esquema rígido, há boa vontade e preparo físico (Parreira tem aí a sua parte de mérito), há improvisação e gosto pelo futebol. E há também - e principalmente -, luta, muita luta, coisa que infelizmente já não se encontra em muitos clubes.
Didi é, portanto, o personagem do sábado. Ele parou Ademir da Guia, e aí o Palmeiras também parou. Para premiar tudo, houve Flávio e os seus três gols. Foi o suficiente para nossa mais bela vitória em 1970.
Ficha técnica: Palmeiras 0 x 3 Fluminense.
Primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1970.
Data: 07/11/1970.
Local: Morumbi (São Paulo).
Árbitro: Sebastião Rufino.
Palmeiras: Neuri; Eurico, Baldocchi, Nelson e Dé; Dudu e Ademir; Edu, Hector Silva (Fedato), César e Pio (Kraus). Técnico: Rubens Minelli.
Fluminense: Félix; Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denílson e Didi (Silveira); Cafuringa, Flávio, Samarone (Mickey) e Lula. Técnico: Paulo Amaral.
Público: 22.096 pagantes.
Renda: Cr$ 147.845,00.
Gols: Flávio, aos 25'/1T, aos 37'/1T, e aos 9'/2T.
Expulsões: Flávio, aos 13'/2T, e Kraus, aos 19'/2T.
Comentário no site do Pavilhão Tricolor:
ResponderExcluir1 Domingo, 08 Novembro 2009 10:39 Lucas Porto
Que Rafael seja Félix, que nosso meio de campo se inspire em Didi, que Fred seja Flávio.
Que a história se repita!
Ótimo texto, PC!
Ótimo texto!!!
ResponderExcluirLucas Porto (o do comentário acima) foi o profeta!
Rafael foi Félix, o meio foi Didi e Fred foi Flávio!!!
Bom ler sobre grandes tempos do Tricolor!!!
PS.: Leão é mesmo um recalcado. Estava nesse time do Palmeiras. Esse deve ser um dos motivos de tanto ódio pelo Fluminense.
2 Domingo, 08 Novembro 2009 23:10 Ivo
ResponderExcluirParabéns PC pelo resgate deste momento, um dos maiores da História recente do Fluminense e, que, estava esquecido.Uma vitória fora de casa e por um placar elástico. Vale a pena recordar a figura de Flávio um dos maiores centro-avantes da História do Fluminense. Segundo Nelson Rodrigues Flávio teria conseguido fazer a torcida tricolor esquecer Waldo. Li que Flávio teve uma média de gols superior a de Waldo, fato que o levaria a ser o maior artilheiro da nossa história. Sua venda foi um fato negro na nossa História, rezam os boatos que o motivo teria sido o seu envolvimento com a filha de um conselheiro- ao que consta o relacionamento não teria sido forçado, mas ao contrário a moça o adorava. Depois da sua venda várias vezes Flávio manifestou sua vontade em retornar ao Fluminense. Fato que teria sido muito importante para o clube.Infelizmente essa volta não ocorreu, mas sua passagem foi decisiva para os 3 títulos (69-70 e 71). Hoje Fred é Flávio, aliás os dois começam com F, de Fluminense.
3 Terça, 10 Novembro 2009 19:40 Paulo Cezar da Costa Martins Filho
ResponderExcluirLucas e Ivo, obrigado pelos comentários.
Lucas foi profético: Rafael foi Félix, nosso meio de campo foi Didi, e Fred foi Flávio.
Ivo, Flávio é realmente um dos grandes nomes de nossa história. Por exemplo, o histórico Fla-Flu de 1969, decidido por ele, foi um título espetacular do Fluminense. Já que você citou Nelson Rodrigues, segundo ele Flávio "era o ponta-de-lança mais esperado que um Moisés".
Abraços,
PC
Excelente resenha! E o Flu de Flávio e Samarone não temia ninguém. Gostei muito do blogue!
ResponderExcluirMayrant, obrigado pelo elogio!
ResponderExcluirVolte sempre ao blog!
Abraços,
PC
Eu estive nesse jogo. Fluminense e palmeiras nos proporcionou um espetaculo unico de futebol arte.
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