Antuérpia, Bélgica, sede dos Jogos Olímpicos, agosto de 1920.
Há noventa anos, o esporte brasileiro obtinha sua primeira conquista internacional expressiva. A heróica equipe de Tiro Esportivo voltaria da Bélgica coberta de glórias, após uma longa viagem de navio.
Tudo começara no Rio de Janeiro, um ano antes, quando Arnaldo Guinle, então presidente do Fluminense, concluiu a construção do stand de Tiro Esportivo em Laranjeiras. O ambiente, com seis boxes, serviria para os treinamentos da equipe brasileira, visando aos Jogos Olímpicos da Antuérpia.
O diretor do stand e capitão da equipe era o doutor Afrânio Antonio da Costa. O outro grande nome da equipe era o do tenente Guilherme Paraense. O time era completado por Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade. Após meses de treinamento na sede do Fluminense, a equipe finalmente partiu para a Europa, de navio, para a disputa das Olimpíadas.
A viagem, iniciada em julho, teve todo tipo de dificuldades. A situação no navio Curvello era tão precária que os atletas tinham que dormir no refeitório da embarcação. Quando a delegação brasileira chegou à Ilha da Madeira, recebeu a informação de que as provas de Tiro Esportivo começariam antes do dia 5 de agosto, data prevista da chegada a Antuérpia. A solução encontrada para chegar a tempo foi desembarcar no porto seguinte (Lisboa), de onde os atletas partiram de trem, com vagões abertos, expostos à chuva, ao vento e ao sol durante o trajeto.
Na chegada ao campo de Beverloo, os atletas brasileiros descobriram que tinham menos munição que o necessário para participar da prova. Imbuídos do espírito olímpico, os atletas dos Estados Unidos cederam aos tupiniquins 2000 cartuchos e 50 alvos.
Afrânio e Guilherme, na Antuérpia.
A primeira prova ocorreu no dia 2 de agosto, com participação do brasileiro Fernando Soledade. Com uma arma precária, ele não obteve medalha. E então os norte-americanos deram mais uma demonstração de fidalguia, cedendo aos brasileiros duas armas fabricadas pela Colt, especialmente para os Jogos Olímpicos.
Em 4 de agosto, Afrânio Antonio da Costa entrou para a história. Com 489 pontos na prova "Pistola Livre", ele alcançou a segunda colocação. A medalha de prata foi a primeira glória olímpica do esporte brasileiro. Foi um feito cheio de méritos, uma façanha épica do atleta tricolor. Mas o melhor estava por vir.
Os dois lados da medalha de prata de Afrânio, a primeira da história olímpica do Brasil.
No dia seguinte, Guilherme Paraense obteve 274 pontos na prova "Pistola Rápida". O norte-americano Raymond Bräcken tinha conseguido 272. A medalha de ouro era do Brasil, por apenas dois pontos. Um agravante eleva esta conquista: a arma utilizada por Guilherme foi exatamente uma das cedidas pelos atletas dos Estados Unidos. Se investigarmos o passado, o presente e o futuro, não encontraremos um exemplo maior do espírito olímpico. Graças à exemplar atitude norte-americana, o atleta tricolor Guilherme Paraense sagrou-se como primeiro brasileiro campeão olímpico.
A arma e a medalha de ouro de Guilherme Paraense.
Na prova por equipes, o Brasil ainda conquistaria mais uma medalha, de bronze. Os primeiros heróis olímpicos brasileiros seriam homenageados no ano seguinte, pelo Presidente Epitácio Pessoa, no Salão Nobre do Fluminense, clube que tanto apoiou a prática do Tiro Esportivo. Na ocasião, todos os atletas receberam do Presidente uma placa de prata da Liga de Defesa Nacional, pelos méritos na façanha internacional obtida.
Homenagem do Presidente Epitácio Pessoa aos primeiros heróis olímpicos brasileiros, no Salão Nobre do Fluminense.
Guilherme Paraense foi extensamente homenageado pela conquista olímpica, tanto na Europa quanto no Brasil. O polígono de tiro da AMAN hoje recebe seu nome. Faleceu em 18/04/1968, aos 83 anos.
Afrânio Antonio da Costa conquistou diversos títulos posteriormente, tendo sido também um dos grandes dirigentes do esporte olímpico brasileiro. Faleceu em 27/06/1979, aos 87 anos.
PC
Fontes da pesquisa: acervo do Flu Memória, R7, ESPN, site oficial do Fluminense [1] [2] e Wikipedia [1] [2].
Muito legal, PC! Eu lembrava que as primeiras medalhas olímpicas brasileiras foram ganhas pelos atletas do Tiro (pq eu tenho dois selos comemorativos à conquista na minha coleção de selos e já tinha lido no livro comemorativo de 50 anos de fundação do Flu), mas nem tinha me tocado que esse ano as conquistas completavam 90 anos!
ResponderExcluirLegal também esse lance da "ajuda" dos norte-americanos... essa era uma época que o esporte não era um grande negócio... hoje em dia eu duvido que isso ia acontecer... hahaha...
ST!
ps.: sim, eu tenho o livro que foi lançado em 1952, em homenagem aos 50 do nosso tricolor... um dia eu conto a história... =)
Em Macaé, ainda não conseguimos sensibilizar a população para o regozijo de ter um conterrâneo como o primeiro medalhista olímpico brasileiro (Afrânio Antônio da Costa). Estamos buscando todos os registros afins, os quais farão parte de acervo em homenagem a tão ilustre macaense. Claro,não somente pela conquista olímpica, mas por tantos outros feitos.
ResponderExcluirOnde está a me dalha do afranio Costa atualmente? Se alguem souber favor responder para meu email:
ResponderExcluirhades_eder@hotmail
Obrigado
Onde está a me dalha do afranio Costa atualmente? Se alguem souber favor responder para meu email:
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Obrigado