Década de 60, quarta-feira, cidade de Santos. O menino acorda entusiasmado, pois à noite ouviria a epopéia de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. A voz inconfundível do espíquer berraria no rádio: Dorval lança Coutinho, Coutinho para Mengálvio, Mengálvio para Pepe. Passa a Pelé, devolve a Pepe, de novo Pelé, e é gol. Goooooooooooooooooool do Santos! Pelé, Pelé, Pelé, o rei do futebol!
E aquela poesia ecoava na cabeça do menino durante todo o dia. Ele imaginava a jogada inteirinha, cada detalhe, o barulho seco de cada passe, o urro da platéia, o soco de Pelé no ar na comemoração. Na sua mente, o lance se repetia centenas de vezes. No campo, à noite, como num truque de mágica, tudo se materializava, exatamente como o imaginado. E o Santos levantava mais uma Taça Brasil.
2010, quarta-feira, cidade de Santos. O menino acorda entusiasmado, pois à noite ouviria a epopéia de Arouca, Ganso, Robinho, Neymar e André. A moderna transmissão da televisão mostraria cada detalhe, nos replays de câmeras super-lentas. Os tempos são outros: amanhã, o time não será mais o mesmo. Mas o amanhã não importa, se a Copa do Brasil será erguida hoje mesmo.
O menino já viveu sessenta e poucas primaveras, mas ainda sonha igualzinho com o futebol da noite. E como no sonho tudo é possível, Ganso tabela com Pepe, Neymar cruza para Pelé, Coutinho lança André. O Santos parece jogar com vinte e dois, e joga mesmo. Ganso, camisa 10 pendendo sobre os ombros, tem Pelé aconselhando-o a cada segundo. E Ganso ouve Pelé, e Ganso repete Pelé. Os adversários são varridos do seu caminho, por dribles, por passes, por arrancadas fenomenais.
A Copa do Brasil sorri com seu destino. (Nas minhas crônicas, as taças sorriem.) Ela sorri porque vai para onde queria ir. O Santos mereceu muito a conquista. Foi o incontestável melhor time do torneio, e tamanha superioridade só poderia mesmo terminar em título.
O menino deita a cabeça no travesseiro, mas não consegue dormir. Fecha os olhos e vê Dorval, Arouca, Mengálvio, Ganso, Coutinho, Robinho, Pelé, Neymar, Pepe, André. Abre novamente os olhos. Lágrimas escorrem. Sua face tem a expressão de uma profunda nostalgia. Lá fora, na rua, passa um carro com o som alto: agora quem dá bola é o Santos, o Santos é o novo campeão...
PC
E ai PC.
ResponderExcluirMuito bom o texto.......
O Santos mereceu a conquista, vale ressaltar a garra e a vontade do Vitória que valorizou e muito a conquista santista.
Agora vamos esperar que esses "meninos" joguem mais bola e falem menos.... respeito ao torcedor, a favor ou contra, sempre é a primeira marca de grandes ídolos.
BLOG DO CLEBER SOARES
www.clebersoares.blogspot.com
Ótimo texto, grande PC:) Que bom ler uma voz que não é santista que escreve sobre o time sem clubismo ou recalque. Tomara que o Peixe consiga manter a espinha dorsal do time até o ano que vem (ou mesmo melhorar, porque Keirrison é melhor que André, por exemplo):)
ResponderExcluirAbraço grande!
Vou continuar comendo a minha ração aqui.
ResponderExcluirO título foi merecidíssmo. Não há o que dizer.
ResponderExcluirTenho minhas dúvidas se Keirrison é melhor que André...
O time vai ficar bem enfraquecido com as saídas de André e Robinho, pois perderá o entrosamento dos dois e de cada um deles com o restante da equipe. Se mantiver Neymar, o que é difícil, e Ganso ainda vai ter tempo de se fortalecer pra chegar tinindo na Libertadores do ano que vem. Já o sonhado tetracampeonato brasileiro acho que fica mais distante.