Botafogo 106

Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1904.

A idéia surgira durante uma aula de matemática, dias antes: "vamos fundar um clube de football". Flávio Ramos e Emanuel Sodré então reuniram os outros meninos numa tarde de sexta-feira, no Largo dos Leões. Todos tinham quatorze ou quinze anos: recém-saídos das fraldas, mas já estavam escrevendo a história. Fundaram o Electro Club, que logo se tornaria Botafogo, por sugestão de dona Chiquitota. Resulta que, de uma simples reunião de adolescentes, nascia um gigante do futebol brasileiro.

O Botafogo tem as suas taças, como qualquer outro grande clube. Mas é engraçado: as maiores glórias alvinegras não são os seus numerosos troféus. Clubes menos tradicionais se gabam: "tenho três ou quatro Brasileiros, tenho a Libertadores, tenho um Mundial". Ao que os botafoguenses respondem: "e daí?".

Já em 1911, o Botafogo mostrava ser diferente dos outros. Durante uma partida naquele ano, Abelardo Delamare deu um tapa na cara de Gabriel de Carvalho, do América. A Liga suspendeu Abelardo. E o que fez o Botafogo? Solidário com seu atleta, abandonou o Campeonato! Ficou de fora até mesmo do ano seguinte, tudo para proteger um dos seus.

Na década de 30, novamente o Botafogo demonstrou sua grandeza. Começava no Brasil o movimento pelo profissionalismo no futebol - isto é, os atletas começavam a receber salários para jogar, deixavam de ter outras profissões. O Botafogo resistiu no amadorismo enquanto foi possível. Os alvinegros preferiam continuar jogando por amor.

Nas décadas de 50 e 60, o Botafogo montou um dos maiores esquadrões da história do futebol. Imaginem Didi, Nilton Santos e Garrincha no mesmo time. Era a única equipe que conseguia rivalizar com o mítico Santos de Pelé. Há glória maior do que isto?

Depois, viriam 21 anos sem títulos. Ano após ano, frustração após frustração, o torcedor do Botafogo seguia fiel ao Botafogo. E acontecia então o inexplicável: a cada ano sem conquista, o Botafogo crescia. O jejum fazia o Botafogo cada vez maior. De modo que, quando Maurício assinalou aquele santo gol em 89, o Botafogo renasceu, mais gigante do que nunca.

Em 95, Túlio, Gonçalves, Wagner e companhia finalmente conquistaram o Brasil. É até hoje o único Campeonato Brasileiro do Botafogo. Mas perguntem a um torcedor alvinegro o que ele acha, e ele responderá: "foi o maior título que um clube jamais conquistou".

Parabéns pelos 106 anos de vida, Glorioso!

PC