terça-feira, 30 de junho de 2009

Jornalismo - o diploma é necessário?

Amigos, a crônica de hoje não é sobre esportes. De vez em quando, algum leitor sugere que eu escreva sobre outros temas. Recentemente, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, por 8 votos a 1. Bom, considero o assunto interessante, e por isso resolvi escrever sobre ele. Meu intuito é abrir o debate: não sou dono da verdade absoluta, apenas tenho a minha opinião sobre o assunto, e vou expô-la aqui. O tema não é tão fora de escopo, afinal o Jornalismo está até no nome deste espaço. (risos)

Antes de começar, cabe ressaltar que a decisão do STF não altera nada na prática, uma vez que uma liminar de 2006 já garantia aos não-diplomados o direito de exercer a profissão de jornalista. Portanto, a decisão do tribunal apenas ratifica algo que já era realidade.

Concordo com a decisão do Supremo: não considero necessário um diploma de ensino superior em Jornalismo para o exercício da profissão. Amigos, reparem que eu não estou escrevendo aqui que o curso de Jornalismo é inútil. Diversos assuntos são (ou deveriam ser) ensinados nesse curso: por exemplo, técnicas de escrita, oratória e reportagem. Acho que as pessoas podem aprender essas técnicas sem a necessidade de freqüentar a faculdade. Eu mesmo nunca assisti a uma aula de Comunicação Social, mas possuo habilidade de escrita pelo menos suficiente para escrever em um jornal. Porém, isto não quer dizer que o curso de Jornalismo não seja útil. Estudantes podem - e devem - aprender a escrever bem na universidade.

Portanto, não é a utilidade do curso de Jornalismo que está sendo negada: é a necessidade do diploma para exercer a profissão. Na minha humilde opinião, a exigência do diploma contraria o princípio da liberdade de expressão, garantido no Brasil pela famosa Constituição de 1988.

Países desenvolvidos (pelas minhas pesquisas, pelo menos Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, China, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Japão, Polônia, Suécia e Suíça) também permitem que não-diplomados exerçam a profissão de jornalista. Não é à toa: exigir o diploma significa impossibilitar a maior parcela da população de expor a sua opinião. Ou, em outras palavras: cercear a liberdade de expressão do povo.

Não gosto de comentar sobre algo que não vivencio de perto, mas vou fazê-lo baseado na opinião de amigos nos quais confio: os cursos superiores de jornalismo no Brasil são, em sua maioria, grandes fábricas de diplomas. Nesse aspecto, a decisão do STF será extremamente benéfica. Explico: os nossos cursos terão que ser um diferencial na formação dos profissionais, exatamente como o são nos países citados acima. Isto significa que, já no curto prazo, haverá uma melhora no ensino. Está aí mais um efeito benéfico da atitude do tribunal.

Aliás, estou muito bem acompanhado nessa opinião. Amigos, vejam o que disse Philip Meyer, professor de Jornalismo da University of North Carolina at Chapel Hill e autor dos livros Precision Journalism e The Vanishing Newspaper:

“O primeiro problema para o jornalismo de precisão no Brasil será superar um sistema muito rígido que é feito para resistir à inovação. A maior barreira que vejo, de minha perspectiva norte-americana, é a lei que exige que os jornalistas sejam formados em escolas de jornalismo. Essa lei dá às escolas um mercado garantido e as priva do incentivo de fazer melhor as coisas. Sem a lei, as escolas teriam que visivelmente adicionar valor às habilidades existentes de seus estudantes para que pudessem sobreviver. Uma escola profissional deve ser a fonte da inovação e do desenvolvimento para a profissão a que serve. Mas, com um mercado cativo, não há necessidade de que ela faça nada além de assinar certificados de conclusão”.

Com esta contundente opinião de especialista, encerro minha crônica, e abro o debate nos comentários. Lembro que todos têm voz aqui, desde que haja tratamento respeitoso. Também apreciaria comentários sobre o texto em si. Obrigado pela atenção.

PC

6 comentários:

  1. Oi PC,
    Antes de mais nada, quero dizer que concordo com você, mas achei o seu principal argumento equivocado.

    O principal motivo para a exigência do diploma não é a boa escrita. Partindo-se deste princípio, deveria-se admitir também escritores, e todo o pessoal formado em Letras.

    Eu acho que o grande argumento para os que defendem o diploma obrigatório é a ética no jornalismo. Em tempos de paparazzi e big brother, é importante que o sujeito saiba que o que ele publica será lido por muita gente (milhões até).

    Existe o aspecto bonito da mídia, ressaltado por você na forma da "liberdade de expressão". Mas existe também o aspecto mau, o da manipulação de massas. Os meios de comunicação de massa têm um poder incrível, podem até eleger e derrubar governos, e acreditem, isso já aconteceu aqui nesta República.

    Por isso, o jornalista que escreve num veículo destes tem uma grande responsabilidade nas mãos. Daí a necessidade de um curso de Jornalismo, que supostamente ensina o sujeito a lidar com esta responsabilidade em todos os seus aspectos, incluindo a boa escrita, mas não limitado a isso.

    Agora, se o jornalista formado utiliza o meio de comunicação com mais ética do que o não formado, é outra discussão...

    Vou discordar também de outra coisa que você falou, sobre o cerceamento da liberdade de expressão (LE). Esta questão é muito complexa, e podemos achar várias situações complicadas, paradoxais, por exemplo:

    1) Divulgação de propaganda racista, nazista, pró-drogas, pró-aborto, etc: proibir isso vai contra a LE?

    2) Se um sujeito não tem $$ para comprar um computador e escrever um blog, ele teve sua LE cerceada?

    3) Se o jornal não me admitiu como funcionário, ele cerceou minha LE?

    Já chega. Podem bater.

    Abs,
    ALan

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  2. Para ser um bom jornalista, a pessoa precisa:

    1) Saber escrever. A maioria (até gente de O Globo, JB e Folha) não sabe o bê-a-bá da língua.

    2) Ter excelentes contatos.

    3) Ter reputação.

    Talvez na faculdade, a pessoa aprenda o item 1. Não sei, a maioria aparentemente não consegue. Os itens 2 e 3 surgem com tempo e experiência.

    O diploma deve ainda continuar a servir como um equilíbrio separador, mas não será tão importante.

    PS: Sabia que para ser ministro do STF, a pessoa não precisa ser formada em direito? hehehe Por que para ser jornalista precisaria? =P

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  3. Acho que a ética vem de berço, da escola, da família, dos amigos, do caráter da pessoa. Pode vir também da faculdade. Não me lembro de ter visto alguma matéria explicitamente relacionada à ética quando estudei comunicação social.

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  4. "Por isso, o jornalista que escreve num veículo destes tem uma grande responsabilidade nas mãos. Daí a necessidade de um curso de Jornalismo, que supostamente ensina o sujeito a lidar com esta responsabilidade em todos os seus aspectos, incluindo a boa escrita, mas não limitado a isso."

    Acho que a responsabilidade citada no comentário do Alan não pode ser ensinada, é questão de bom senso. No máximo sua necessidade pode ser enfatizada em um curso.
    É fato que há mesmo essa grande responsabilidade, mas vejo que ela é ignorada pelos meios de imprensa, que em sua absoluta maioria, são muito parciais e manipuladores. Pode parecer brincadeira, mas falo sério qndo cito a flapress, por exemplo.
    Os veículos de imprensa, como várias outras instituições, só querem lucrar e defender seus interesses (para lucrar mais).

    Quanto à questão do cerceamento, concordo com o Alan. A obrigatoriedade do diploma foi uma medida dos milicos pra ter que controlar menos gente durante a ditadura. Mas não vejo isto como cerceamento. É uma questão bastante subjetiva.

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  5. Esta questão de ética no jornalismo é realmente muito complexa. Vamos imaginar o mundo ideal: um fato acontece, digamos, em Brasília. Nenhum de nós está lá pra ver. O que gostaríamos: que um jornalista estivesse lá, visse com os próprios olhos e nós contasse exatamente o que ele viu, sem nehuma influência do seu pensamento, da sua opinião.

    Certo? Só no mundo das fadas. Tratando-se de seres humanos, não tem jeito: um acontecimento SEMPRE será influenciado pela maneira como ele é narrado. A própria decisão sobre qual fato será narrado já reflete a opinião de quem escolheu.

    O que imagino é que uma faculdade de com. social deveria ensinar maneiras de minimizar essa influência e tornar o jornalista mais imparcial e consciente do seu papel importante na sociedade.

    Agora, eu não faço ideia se isso ocorre de fato nas faculdades; pelo menos nos jornais que leio não vejo isso.

    Outra coisa pra botar lenha na discussão: pra construir um prédio ou operar um paciente, precisa-se de diploma, certo? Pra escrever um jornal, não.

    Será que isso não seria um menosprezo à função do jornalista na sociedade?

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  6. @Minoru -> muitas vezes, eh mais importante ter mais contatos do que reputação e competência.

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