sexta-feira, 26 de junho de 2009

Competência, simplicidade e coragem

Amigos, a Seleção está na final da Copa das Confederações. O jogo de ontem contra a África do Sul foi muito difícil, mas assim é melhor. Prefiro os triunfos magros às goleadas deslumbrantes. Examinemos exemplos históricos: em 1950, enfiamos 6 a 1 na Espanha no penúltimo jogo, e perdemos para o Uruguai no último. Ao passo que, em 1994, batemos a Suécia por 1 a 0 na semifinal, e acabamos campeões. Explico: as goleadas escondem os defeitos do time, enquanto as vitórias magras os escancaram. E, com os erros expostos, fica mais fácil corrigi-los. Em 1950, a vitória de banho sobre os espanhóis nos cegou, e essa cegueira acabou nos liquidando diante dos uruguaios.

Voltemos ao presente, à belíssima e magérrima vitória por 1 a 0 do escrete sobre a África do Sul. A Seleção está cheia de defeitos: é só encarar um time que jogue fechado, na retranca, que nossos onze homens não conseguem produzir. É preciso utilizar mais as laterais. Somente jogando pelos lados do campo se furam bloqueios bem armados. Bom, Dunga é melhor técnico do que eu, e certamente está vendo e corrigindo os erros do escrete.

Vamos ao lance decisivo da partida: espetacular cobrança de falta de Daniel Alves, que acabara de entrar em campo! Que pintura, amigos, que pintura! Seu olhar compenetrado antes da batida é de impressionar qualquer um. E então ele corre, chuta, e as cornetas sul-africanas cessam. É gol do Brasil. É a vitória, é a classificação.

Mas Daniel Alves não é o meu personagem da partida. Havia outro brasileiro no estádio, mais merecedor da ilustre premiação.

Cabe exaltar Joel Natalino Santana, o treinador brasileiro da África do Sul. Joel é um dos maiores campeões do futebol brasileiro, mas não é respeitado por isso. Gosto de relembrar a década de 90 do Joel, pois é impressionante: em 1992 assume o Vasco e ganha dois campeonatos cariocas (92 e 93). Então, vai ao Bahia e levanta o campeonato baiano (94). Volta ao Rio de Janeiro, agora no Fluminense, e conquista seu mais dramático título (95). Em 96, vai para o Flamengo e, pasmem, é campeão de novo. Em 97, vai ao Botafogo e, novamente, levanta a taça. Seis campeonatos em seis anos: eis o milagre de Joel Santana.

Não admiro apenas a competência do Natalino: gosto mesmo é de sua simplicidade. É a sua humildade que me assombra. Joel é capaz de olhar qualquer um nos olhos, do Presidente da República ao porteiro do seu prédio, de Nelson Mandela a um mendigo na esquina. Trata a todos como iguais. E, com a vida ganha, ainda aceita desafios colossais, como assumir a futura anfitriã da Copa do Mundo. Com um agravante: sem saber uma palavrinha sequer de inglês. E, aos 60 anos, Joel pôs-se a aprender uma nova língua.

E até nisso ele dá exemplo: qual não foi a minha surpresa ao vê-lo dando entrevistas no idioma bretão, sem ajuda de intérprete! Muito bem, Joel! Parabéns pela coragem de dar entrevistas em uma língua que até ontem você não falava! Manifesto novamente meu repúdio à imprensa que fez chacota do esforço e da coragem de Joel. Pelo menos isso está melhorando: já vi aqui e ali elogios à coragem natalina.

Ontem, Joel deu mais uma prova de sua competência: por pouco não eliminou o glorioso e pentacampeão escrete canarinho. Armou uma África do Sul aguerrida, e taticamente obediente. É verdade que o time perdeu por 1 a 0. Mas Joel provou que é um vencedor.

Porque ele é competente, porque ele é simples, e porque ele é corajoso, Joel Natalino Santana é o meu personagem desta crônica.

PC

2 comentários:

  1. Mais do que merecido! (em relação ao Joel rsrs)

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  2. Concordo com tudo dito sobre o Joel!
    A última passagem dele pelo Flu foi triste...já a última dele pelo fla foi sublime, único humilde em meio a arrogantes natos!!!

    Não pude ver o jogo da seleção, mas ela parece estar bem, quanto menos espetáculo melhor, mais chances temos de ganhar o que importa!!!

    Júlio César está agarrando muito, mas sua arrogância me preocupa...
    A arrogância é a mãe de 80% das derrotas de grandes times.

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