segunda-feira, 22 de junho de 2009

Um crime contra a história

Por: Wagner Victer (originalmente publicado no blog do autor)

Um crime contra a história do futebol brasileiro e o nosso patrimônio

Leio hoje, 10 de junho de 2009, na parte de Esportes do Jornal Extra, na página 9, a infeliz, por que não dizer criminosa, idéia de promover o destombamento do Estádio das Laranjeiras, do Fluminense, que recebe o nome do nosso saudoso presidente Manuel Schwartz, a partir de um projeto de Lei em tramitação da Câmara dos Vereadores.

A primeira reação que tenho não é só de revolta, mas de perplexidade de existirem alguns políticos, dirigentes e empresários que consideram que um tombamento de um Patrimônio Cultural Histórico é sujeito a conveniências e oportunidades empresariais, podendo ser revisto, a partir de um conjunto de interesses que possam surgir ao longo do tempo ou das diversas administrações.

Ora, se um Patrimônio foi considerado como sendo merecedor do tombamento, isto assim aconteceu justamente para não ficar sujeito a interesses casuais e oportunistas que possam surgir ao longo da história. Ou seja, destombar um bem é a própria desmoralização da existência de um processo de tombamento, que existe justamente para evitar tais atitudes.

Aliás, o projeto de número 705/2006, que prevê o destombamento do Estádio de Laranjeiras, feito pelo Vereador Carlos Caiado, jovem político por quem até tenho uma certa simpatia, se trata de uma das maiores torturas e agressões à história não só do Fluminense, mas do futebol brasileiro e de tudo o que ele representa para nossa cultura.

O Estádio localizado na Rua Álvaro Chaves 41, tombado em 2001, além de sua importância arquitetônica de origem francesa e integrada ao Palácio da Guanabara, Sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, completou 90 anos este ano. Foi inaugurado em maio de 1919 com a partida Brasil e Chile e foi o primeiro Estádio a ser construído no país para abrigar os jogos da Seleção Brasileira, sendo a Sede Oficial dos jogos de nossa Seleção durante décadas e que emblematicamente sediou em 1922 o Campeonato do “Centenário da Independência do Brasil”.

Desta forma, o tal destombamento proposto pelo Vereador chega a soar como chacota, no momento que estamos em vias de sediar uma nova edição da Copa do Mundo em 2014 e quando a própria CBF cogita instalar no Rio de Janeiro um Museu do Futebol Brasileiro, querendo nesta contramão acabar com o mais simbólico berço do futebol brasileiro e da história da nossa Seleção. Ou seja, uma agressão histórica, cultural e principalmente econômica ao nosso Estado, tendo em vista o que representa o Futebol em nosso Município, Estado e País.

Os argumentos do projeto de Lei, de seus autores e patronos, os aparentes e os ocultos, que agem como abutres do interesse imobiliário contra nosso patrimônio cultural, são os mais bisonhos e até semelhantes aqueles que um dia sonharam implodir o Maracanã. Buscam a modernidade do Estádio transformando-o em uma espécie de “playground” rasgando a sua tradição e beleza, como foi a demolição do Palácio Monroe em nossa Cidade.

Com nome e endereço dos beneficiários já publicados em jornal, os interesses empresariais que em nosso país já nos tomaram os jogadores, comissões técnicas e divisões de base, atentam agora contra algo que é especial para qualquer torcedor, em especial o tricolor, o orgulho da sua história e de sua tradição, com a transformação de um Estádio que marca sua criação neste “playground” para sócios. Seria a “cenoura” que espertamente e sorrateiramente justificaria outras “explorações” do espaço do complexo como construções imobiliárias, hoteleiras e estacionamento.

Vale ressaltar que o Estádio das Laranjeiras como está hoje, fora dos padrões das competições nacionais e estaduais, poderia funcionar como local para abrigar os jogos das divisões de base do clube, funcionando como o “Maracanã” das divisões de base, e não afastando a torcida do apoio e da formação dos novos talentos e principalmente não retirando da sede a atividade do futebol de suas origens históricas e permitindo que possamos ver crescer os nossos craques produzidos em Xerém. Aliás craques esses de cada vez mais difícil acesso aos torcedores e sócios, mas de grande proximidade aos empresários atravessadores que parecem que querem tais partidas aconteçam em lugares distantes para não lançar luz que poderia eliminar o ácaro das inexplicáveis transações que tem acontecido em nosso futebol.

Como cidadão, amante do esporte, Conselheiro do Clube e alguém que se preocupa com a economia do nosso Estado, vou pessoalmente me dedicar a combater este crime, que não é contra o patrimônio e a história do Fluminense e sim contra a cultura, história e a Economia de nosso país. O tal projeto não é modernidade, é um crime e ao meu ver todos aqueles que o apoiarem merecem ser marcados como traidores das tradições tricolores e brasileiras e deveriam agonizar no purgatório pela vergonha da sua defesa. Tenho também a total certeza da mobilização de toda a sociedade, dos formadores de opinião e do próprio Ministério Público, que saberão barrar tal absurda intenção de interesses inconfessáveis.

(texto publicado com autorização do autor, que pede a divulgação das linhas que escreveu)

5 comentários:

  1. Realmente é um crime mesmo... Sobre o autor do texto, ele é o presidente da CEDAE, certo?
    Ele já até a Suíça, pedir na FIFA que a Copa Rio de 1952 seja reconhecida como mundial!

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  2. Alan, é o presidente da CEDAE, sim.

    hehe não sabia que ele já tinha ido até a Suíça pra pedir o reconhecimento à FIFA!

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  3. Vejo os vídeos de quando os jogos do Flu eram disputados nas Laranjeiras e achava incrível. É um clima meio familiar, não sei explicar.

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  4. Destombar qualquer coisa já é um absurdo, o berço do futebol brasileiro então...

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  5. Não conhecia esse texto. Concordo plenamente e fico feliz em saber que o Wagner Victer vai lutar contra esse crime.

    Valeu por divulgar o texto, PC!

    Saudações Tricolores

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