O caso Thiago Silva

O maior ídolo da história recente do Tricolor atende pelo nome de Thiago Emiliano da Silva. Com técnica, garra e amor inexcedíveis, o zagueiraço defendeu o Fluminense de 2006 a 2008, tendo atuado em 138 partidas. Thiago Silva ganhou a Copa do Brasil em 2007, e participou da espetacular campanha da Libertadores de 2008, que terminou com o vice-campeonato. Provavelmente não há cinco zagueiros melhores que ele na história do pó-de-arroz, e isto é um feito extraordinário.

Tamanho sucesso, nos dias de hoje, leva sempre à Europa. No caso de Thiago Silva, aconteceu em janeiro, e o sortudo clube que contará com o seu futebol é o AC Milan, da Itália. O problema é: será que ele pode jogar pelo rossonero de Milão? A resposta, hoje, é "não". A imprensa divulgou que isso se deve ao número de estrangeiros no elenco do clube italiano. Isso é verdade: as regras de lá não permitem que haja mais do que "x" não-europeus no plantel. Porém, fontes do clube milanês asseguram que a vontade era escalá-lo já em janeiro. Um dos outros estrangeiros seria dispensado, e Thiago Silva daria um jeito na frágil defesa milanesa, que tem sofrido caminhões de gols. Por que isso não foi feito, então?

Voltemos no tempo para explicar. Algum leitor se lembra do atacante Júlio César? Ele começou muito bem a carreira, no Fluminense. Se não me engano, o centroavante estreou marcando dois gols contra o Flamengo. Não ficou muito tempo aqui, foi logo vendido para a Rússia. No fim das contas, o Fluminense ficou devendo cerca de 300 mil reais a Júlio César, e ele entrou na Justiça por isso. Evidentemente, ele ganhou a causa, mas o Tricolor não tem dinheiro para pagá-lo. Aí começou todo o problema. Incrivelmente, Júlio César conseguiu, como garantia de seu pagamento, a penhora do passe do Thiago Silva! Bom, trata-se de uma desproporção tremenda. É como se o seu vizinho conseguisse a penhora da sua casa por causa daqueles dez reais que você emprestou a ele na semana passada. Mas o fato é que aconteceu, e com isso o Fluminense estava proibido de negociar Thiago Silva antes de saldar sua dívida com Júlio César.

Porém, todos sabem que, mesmo proibida pela Justiça, a negociação aconteceu. Aliás, negociação para lá de suspeita. O Fluminense não pode negociar diretamente com o exterior, por causa das dívidas com o governo. Por isso, utilizou um "clube de fachada" - o Tombense, de Minas Gerais. Nota: o Tombense pertence a Eduardo Uram, famoso empresário que passou uma rasteira no Tricolor em 2005, e foi declarado persona non grata em Álvaro Chaves. Impressionante a capacidade de perdão do presidente Roberto Horcades! Voltando ao assunto Thiago Silva: por causa da determinação da Justiça, o único clube do mundo em que Thiago Silva pode atuar hoje é o Tombense.

Pergunto: quem é o prejudicado dessa história? O Fluminense? O Milan? Os empresários? Eu mesmo respondo: não, não, e não. O maior prejudicado é o próprio Thiago Silva. Ele é tão talentoso que, mesmo sem jogar, continua sendo convocado por Dunga. Porém, a um ano da Copa do Mundo, ele não pode seguir sem atuar, sob pena de perder sua vaga na Seleção. Thiago Silva é mais um exemplo de jogador de futebol ingênuo, iludido por promessas de empresários. Até quando essas raposas continuarão minando o futebol brasileiro?

Que a situação do "melhor zagueiro do Brasil" se resolva logo. Porque o escrete precisará de Thiago Silva na África do Sul. E ele merece estar lá.

PC