Vinte anos após 1974, Brasil e Holanda voltaram a se encontrar em uma Copa do Mundo. E que jogo foi a batalha de Dallas, amigos! Que jogo! A Seleção estava jogando de azul, o Carrossel vestia branco. Tudo remetia ao trágico 2 a 0 de 20 anos atrás.
A tensão dominou o primeiro tempo, com muitas chances desperdiçadas tanto pelo escrete brasileiro quanto pelo carrossel holandês. Fomos para o intervalo com um 0 a 0 que mantinha toda a adrenalina em nossas veias. No 4 de julho, a Seleção havia passado um sufoco épico para eliminar os donos da casa. A expulsão de Leonardo, por agressão, dificultou enormemente o caminho do escrete. Mas aquela cotovelada foi necessária, amigos, e hoje descobrimos por quê.
Voltemos à batalha de Dallas. Ah, que segundo tempo! Os melhores 45 minutos de todo o campeonato mundial, ou talvez os melhores 45 minutos de todos os tempos! Aldair lança Bebeto com uma folha seca de príncipe etíope de rancho. O camisa 7 domina com uma facilidade esplêndida, e toca para o meio. Quem está lá, amigos, quem? Romário, sempre ele! De primeira, sem pensar, ele chuta a pelota para as redes holandesas: 1 a 0 para o escrete!
Depois, foi a vez de Bebeto: ganhou a disputa com o zagueiro, e apareceu cara a cara com o goleiro Ed de Goeij. Com um drible mágico, nosso camisa 7 tirou o arqueiro do lance. Depois, foi só empurrar para o arco escancarado: 2 a 0 para o escrete! Na comemoração, a bela homenagem ao filho Matheus.
"Estamos vingados de 1974", pensamos, possuídos por uma ingenuidade burra e total. Nos acalmamos demais, amigos. O jogo só acaba quando termina, e uma calma exagerada sempre precede uma catástrofe. Naquela manhã dominical de Hiroshima, em 1945, estavam os habitantes imbuídos da maior tranqüilidade, e a bomba hedionda explodiu, aniquilando a tudo e a todos. Falei em bomba, e voltarei ao assunto daqui a dois parágrafos.
Dizia eu que estávamos calmos demais: o 2 a 0 nos dava o direito de tomar um gol. E foi o que aconteceu: Dennis Bergkamp se aproveitou da desatenção brazuca, e descontou: 2 a 1. Agora, o escrete não tinha mais o direito de ser vazado. Se sofrêssemos mais um golpe, iríamos para a cruel prorrogação.
Então, surge o escanteio pela esquerda. Jogada mais previsível não há: os europeus sempre utilizaram a bola na área, o famoso chuveirinho. A bola é lançada na área, e Aron Winter cabeceia para o gol de Taffarel. Gol de empate da Holanda. Minha vontade era ir para a rua, sentar no meio-fio, e chorar lágrimas de esguicho. Vejam que patético: o Carrossel Holandês mais uma vez eliminaria o escrete da Copa. Seríamos, com razão, chamados de fregueses.
E então surge Branco, o lateral do Fluminense. Os desatentos logo perguntam: "opa, o que o Branco faz em campo? Ele está mal, o Leonardo é o titular!". Acontece, amigos, que Leonardo não podia mais jogar, porque agrediu um americano em pleno 4 de julho. A façanha do Léo merece uma crônica inteira: dar uma cotovelada em um estadunidense, em território norte-americano, em pleno 4 de julho, diante dos olhos de toda a nação, é de uma coragem inexcedível. Mas Leonardo estava iluminado, e mal sabia que aquele ato era necessário.
Leonardo foi expulso contra os EUA para que Branco pudesse entrar contra a Holanda. O lateral tricolor foi buscar uma bola perdida, e conseguiu cavar uma falta na sua distância preferida. O país inteiro parou: fomos todos tomados pela angústia que antecede os momentos apoteóticos. Chegou a hora da bomba! Mas não era uma bomba cruel e horrenda como a de Hiroshima: era a bomba santa! A bomba santa de Dallas!
O poderoso chute de canhota tinha destino certo, mas também possuía um obstáculo. Por acaso do destino, Romário estava entre a bola e o gol. Exibindo um contorcionismo espetacular, o Baixinho conseguiu desviar-se da trajetória da pelota. Após passar pelo camisa 11, aquele objeto esférico não pararia mais. Nunca mais! Rede estufada, gol do Brasil! Escrete 3, Carrossel 2. Assim terminou a histórica batalha de Dallas.
E o meu personagem do jogo? Só pode ser Branco, o lateral-esquerdo do Fluminense. Sim, amigos, Cláudio Ibrahim Vaz Leal saiu do banco para a glória: entrou para fazer o derradeiro e decisivo gol. Branco soltou a bomba que explodiu em Dallas, mas destruiu a Holanda. Depois dessa vitória fantástica, não tenho mais dúvidas: o tetra será nosso.
PC
Um dos jogos mais intensos da minha vida!
ResponderExcluirtinha 4 anos,mas até hoje quando vejo os videos de 94 me arrepio.
ResponderExcluirAlias quando Brasil e Holanda se encontram em Copa do Mundo,pode preparar o remédio pro coração que vem emoções fortes pela frente
em tempo:Romário fez um gol com alto nível de dificuldade parecer facil,quase que brincadeira de criança
Belíssimo texto!!!
ResponderExcluirDestaque para: "a bomba que explodiu em Dallas e destruiu a Holanda"
Em tempo, notem que para o escrete ser tetra foi necessário que a cria do Flamengo saísse para a entrada da cria Tricolor.
Belíssimo texto, PC! Um dos melhores que já li por aqui, parabéns
ResponderExcluirUm dos gols mais incríveis que já vi. (por toda a jogada do Branco, pela situação, pelo caminho que a bola percorre...) Sem dúvida: esse eu não esqueço!
ResponderExcluirObrigado pelo elogio, Goten!
ResponderExcluirFiz uma pequena alteração no trecho que se refere à cotovelada do Leonardo no jogo anterior.
ResponderExcluirSe ficou parecendo apologia à violência, pelo amor de Deus me desculpem. Não foi a intenção. Eu apenas quis mostrar a influência do destino na situação.
Mil desculpas!
Não costumo postar somente para elogiar, mas não posso me furtar fazê-lo com este texto. Belíssimo texto, me fez lembrar aquele jogo onde eu, ainda menino, sofri e saí correndo qual um maluco comemorando o gol. Parabéns!
ResponderExcluirótimo texto mesmo, cara...
ResponderExcluirsem falar que a copa de 94 é inesquecível para todos que pudemos assistir, mesmo sendo tão novos...
é a única copa em que lembro exatamente todos os gols do Brasil...
Obrigado a todos pelos elogios. :)
ResponderExcluiré a única copa em que lembro exatamente todos os gols do Brasil... [2]
Hoje completam-se 15 anos...
ResponderExcluirhttp://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5356531161139516630