Rio de Janeiro, 5 de setembro de 1965.
Amigos, a Taça Guanabara foi uma idéia maravilhosa. Vejam a presença de ontem no Maracanã: mais de 115 mil pagantes, para uma renda superior a 70 mil cruzeiros. Uma audiência tão colossal está aí para comprovar que a primeira edição da taça foi um sucesso total.
Boa parte dessa multidão foi ao Maracanã para ver Garrincha. Convenhamos, o Mané é a alegria do povo. Desconfio que, se ele resolvesse jogar sozinho no Maracanã, sem os outros 21 jogadores, nós iríamos ao estádio mesmo assim.
No jogo anterior, o Botafogo venceu o Vasco com uma facilidade impressionante: 3 a 0. Na ocasião, Garrincha fez Oldair de gato e sapato. O Mané desintegrou a defesa vascaína, assim como fizera com os soviéticos em 1958. Foi um verdadeiro baile do Botafogo sobre o Vasco. A atuação fantástica de 11 de agosto dava ao Botafogo a condição de favorito na final da Taça Guanabara.
O lateral-esquerdo Oldair, do Vasco, treinou muito durante o mês, para evitar repetir a atuação de "joão" diante de Garrincha. As testemunhas dos treinamentos do Vasco, dirigidos pelo lendário Zezé Moreira, viram um Oldair aplicado, um Oldair esforçado, chegando antes e saindo depois dos outros.
Quando começou a decisão, Garrincha logo partiu com a bola, para cima de Oldair. Com um carrinho limpo, irretocável, o lateral vascaíno desarmou Mané. E seria assim durante todo o jogo: Garrincha tentava o drible, e Oldair desarmava, perfeito. Garrincha não conseguia passar uma vez sequer por Oldair. Por uma tarde, Oldair parecia o Garrincha que enlouquecia os joões, e Garrincha parecia mais um joão.
Aos 40 do primeiro tempo, Zezinho passou a Oldair. O herói que parava Garrincha fez mais: o chute da entrada da área foi traiçoeiro. A bola quicou na frente de Manga, enganando o goleiro do Botafogo: Vasco 1 a 0.
Aos 5 do segundo tempo, Mário avançou pela esquerda, foi à linha de fundo, e cruzou rasteiro. Manga saltou sem sucesso, e o afobado Paulistinha chutou contra a própria meta: Vasco 2 a 0.
O treinador Zezé Moreira então armou o Vasco para manter o resultado, tocando inteligentemente a bola. Os botafoguenses Paulistinha e Roberto ainda foram expulsos, facilitando a tarefa vascaína. No finalzinho, o olé consagrava o Vasco como primeiro campeão da Taça Guanabara.
Quando o capitão vascaíno Brito ergueu a taça, a derrota da primeira fase estava definitivamente vingada. A torcida vascaína cantava, em coro uníssono. Primeiro, "é campeão!". Depois, "1, 2, 3, Botafogo é freguês!". Por fim, "Garrincha foi joão, e o Vasco é campeão!".
E isso é tudo.
PC
Ficha técnica: Vasco 2 x 0 Botafogo - Decisão da Taça Guanabara de 1965.
Local: Maracanã (Rio de Janeiro).
Data: 05/09/1965.
Vasco: Gainete; Joel, Brito, Fontana e Oldair; Maranhão e Lorico; Luisinho, Célio, Mário e Zezinho. Técnico: Zezé Moreira.
Botafogo: Manga; Joel, Zé Carlos, Paulistinha e Rildo; Airton e Gerson; Garrincha, Sicupira, Jairzinho e Roberto. Técnico: Admildo Chirol.
Árbitro: Frederico Lopes, auxiliado por Eunápio de Queiroz e Claudio Magalhães.
Gols: Oldair, aos 40' do primeiro tempo; e Paulistinha contra, aos 5' do segundo tempo.
Público: 115.064 pagantes.
Renda: Cr$ 72.927,38.
Esse jogo mostra que até o maior gênio do futebol pode perder. Pena o João do Flamerda não perceber.
ResponderExcluirtexto absurdamente foda. parabéns PC.
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